Expressinho

Avó, avô: "onde é que estavam no 25 de Abril?"

Avó, avô: "onde é que estavam no 25 de Abril?"

Para descobrir esta e outras respostas, entrevistei a avó Teresa e o avô Jorge. Anotei muitas histórias de há 50 anos e mais!

Que idade tinhas quando foi o 25 de abril?

Avô Jorge (AJ) – Tinha 20 anos.

Avó Teresa (AT) – Tinha 19. 

Como passaste este dia?

AJ - Passei esse dia em casa, a jogar Monopólio com os meus irmãos e a ouvir as notícias na rádio.

AT - Encontrei-me com os meus colegas de liceu na Covilhã e festejámos com muita alegria e música. 

Como era Portugal antes do 25 de abril?

AJ - Era um país muito pobre, as pessoas não tinham liberdade para falar, não se podiam reunir, nem discutir política, não havia imprensa livre.

AT - Havia muitas desigualdades, muita gente não sabia ler nem escrever e havia muitas crianças que tinham de trabalhar para ajudar os seus pais.

O que mudou com o 25 de abril?

AJ - Portugal tornou-se um país livre, começou a haver eleições e as pessoas começaram a ganhar melhor.

AT - Melhorou o ensino escolar, passou a ser obrigatório. Passámos a viver numa democracia e a mulher passou a ter mais direitos do que antes.

 O que pensas que ainda é preciso mudar?

AJ - É preciso melhorar a saúde, haver mais médicos e mais hospitais, mais escolas e professores. E também haver casas para toda a gente ter habitação.

AT - Continuar a viver em democracia e respeitar sempre os direitos humanos.

Atualmente, como festejas este dia?

AJ - Procuro recordar-me desse dia revendo filmes e ouvindo canções de Liberdade.

AT - Este dia continua a ser muito especial mim e para todos os portugueses. Representa o dia da Liberdade. 

Se tivesses uma máquina do tempo e voltasses ao dia 25 de Abril de 1974, o que levavas contigo do presente para mostrar às pessoas desse tempo?

AJ - Levava um computador para poder mostrar a grande revolução que foi a internet.

AT - Um telemóvel para as pessoas verem como hoje se pode comunicar à distância e, se já existissem no 25 de abril, tantas fotos tínhamos tirado.

Jorge Rosa com 20 anos e Maria Teresa Rosa com 19 anos

 Como era a tua vida quando eras criança, antes do 25 de Abril?

AJ - Era uma vida muito simples, mas muito alegre. Ia para a Escola que era só de manhã e depois brincava toda a tarde com os meus irmãos. Ao domingo vestia a melhor roupinha e ia à missa e, à tarde, víamos televisão.

AT - Brincava na rua com os meus irmãos e as minhas primas. Ia para a Escola a pé, era tudo mais simples e sossegado.

Sentiste medo ou alegria nesse dia?

AJ - Senti algum receio pois era uma revolução e não sabíamos como ia acabar. Mas, no fim do dia, foi uma explosão de alegria. Os portugueses tinham ganho a Liberdade.

AT - Onde eu vivia, no interior do país, as notícias eram poucas e eu não tinha muito a noção do que estava a acontecer por isso não tive medo. Depois veio a alegria porque sentia que um novo tempo ia começar para Portugal.

O que é que hoje existe e que antes não era possível?

AJ- Existe a liberdade de termos a nossa opinião, a liberdade de nos podermos reunir, a liberdade de uma comunicação social sem censura, a liberdade de podermos votar em eleições livres.

AT - Hoje existe muita liberdade para tudo e além disso o mundo é muito mais global o que sendo bom também traz alguns problemas e receios.

Há alguma história especial que nunca contaste sobre esse tempo?

AJ - Sim. Uma vez, estava à porta do liceu e passou um carro que atirou uns panfletos para o ar. Eu apanhei um e comecei a ler o que lá vinha escrito, em voz alta para os meus colegas. O empregado da portaria ouviu e levou-me ao reitor pois eu, inocentemente, estava a ler um comunicado clandestino da oposição. O reitor perdoou-me porque apercebeu-se da minha inocência, mas explicou-me que “podia desgraçar a minha vida se lesse porcarias daquelas”.

AT - Certo dia, durante a noite, a polícia invadiu a casa dos pais de um meu colega de liceu e depois de revirarem tudo levaram preso um tio dele. Na altura pensei que ele tivesse feito algum mal só depois me apercebi que tinha sido preso por ser da oposição ao governo.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate