Europeias 2019

Salvini: "Levaremos a política anti-imigrantes a toda a UE. Não entrará mais nenhum"

Matteo Salvini
Matteo Salvini
CLAUDIO GIOVANNINI/EPA

A manifestação convocada por Matteo Salvini reuniu sábado em Milão a maioria dos partidos de extrema-direita europeus que pretendem tornar-se na terceira força política no Parlamento Europeu. Houve discursos contra Macron, Merkel, Juncker e o Papa Francisco. Citou-se De Gaulle, Chesterton e Churchill. E apelou-se à retórica anti-imigração como denominador comum

Foi a citar o escritor britânico G.K. Chesterton que Matteo Salvini, ministro do Interior italiano e líder da partido ultra-nacionalista Liga, iniciou sábado o seu discurso em Milão, no contexto da manifestação de partidos de extrema-direita europeus por si mesmo convocada. "O verdadeiro soldado luta não porque odeia o que está à sua frente mas porque ama o que está atrás de si." Não estava sozinho. Ao seu lado, Marine Le Pen, líder da extrema-direita francesa, marcava presença no apoio público conjunto ao grupo parlamentar Europa das Nações e das Liberdades — que junta nacionalistas, eurocéticos e populistas de extrema-direita —, que ameaça tornar-se a terceira força política nas eleições do dia 26 ao Parlamento Europeu.

"Este é um dia histórico. Esperávamos por ele há muito tempo e finalmente aconteceu", clamou Le Pen, citado pelo diário espanhol "El País", a figura principal da Frente Nacional francesa, na mesma tarde em que Salvini completava: "Aqui não há fascistas nem racistas. Os extremistas são aqueles que têm governado a Europa durante 20 anos em nome da pobreza e da precariedade. A diferença está entre os que falam do futuro e os que falam do passado porque não fazem ideia de como o futuro vai ser. Não se trata de extrema-direita, mas de senso comum."

Dos 12 partidos convocados, apenas o Vox espanhol e o FPO austríaco faltaram ao convite para participar na concentração que teve lugar na tradicional Piazza do Duomo, em pleno centro de Milão. A chuva estragou a festa, à qual acorreram bem menos pessoas do que as 100 mil que eram esperadas. Das varandas dos edifícios em torno da praça, havia cartazes em oposição ao evento, nos quais podiam ler-se slogans como "Milão é anti-fascista". O presidente da Câmara, Giuseppe Sala, de centro-esquerda, fez questão de afirmar: "Os nacionalistas não vão tomar a cidade."

Porém, nessa tarde, além de Salvini e Le Pen, ouviram-se as vozes de figuras como Geert Wilders, do Partido pela Liberdade holandês, Anders Vistisen, do Partido do Povo dinamarquês e o alemão Jörg Meuthen, do AfD, além de Veselin Mareshki, que lidera o partido búlgaro Volya, Jaak Madison, do EKRE estónio, Boris Kóllar, do eslovaco Nós Somos Família, e Tomio Okamura, do checo SPD.

Os discursos apelaram para aquilo que estes partidos têm em comum, como as políticas anti-imigração, deixando de lado as suas (muitas) diferenças. Gritou-se contra Emmanuel Macron, Angela Merkel e Jean-Claude Juncker; aplaudiram-se Margareth Thatcher e Charles De Gaulle, citaram-se Chesterton e Churchill. Atacou-se frontalmente o Papa Francisco pelas suas ideias sobre a imigração e apoiou-se abertamente o cardeal conservador Robert Sarah. "Se fizerem com que sejamos o primeiro partido da Europa, levaremos a política anti-imigrantes a toda a UE e aqui não entrará mais nenhum", lançou Salvini.

A ausência do partido austríaco FPÖ (Partido Austríaco da Liberdade e o mais antigo partido ultranacionalista da UE) foi talvez o maior obstáculo desta reunião de correligionários. O candidato às eleições europeias Harald Viliminski tinha confirmado a presença no evento, cancelando-a no último minuto. Isto porque o partido que representa está a atravessar uma crise política, com o líder Heinz-Christian Strache — um dos aliados mais fortes de Salvini — a ter-se demitido ontem de vice-chanceler depois de ter vindo a público um vídeo que o mostra a oferecer contratos governamentais em troca de apoio político.

Questionada sobre se o grupo Europa das Nações e das Liberdades irá continuar aliado ao FPÖ, Marine Le Pen disse: "Responderemos quando ouvirmos a explicação de Mr. Strache. Mas qualquer que sejam as acusações, o FPÖ tem 25% do eleitorado austríaco, e por isso as acusações não o vão fazer desaparecer. Estou espantada que este vídeo de 2017 apareça agora, a poucos dias das eleições."

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