Europeias 2019

“Está aqui o senhor Paulo Rangel para lhe deixar uma caneta!”

A comitiva do PSD levava convidado especial (Luís Montenegro) e entupiu a feira de Espinho. Com os termómetros a bater nos trinta graus, a conversa entre Paulo Rangel e os fregueses foi pouca. Mas as canetas foram bem vindas

- Está aqui o senhor Paulo Rangel para lhe deixar uma caneta!

Salvador Malheiro acaba de dizer as palavras mágicas. O calendário marca o dia 13 de maio e o relógio as dez horas, mas o calor faria facilmente crer que estamos no pico de uma tarde de verão. Para mais, a comitiva do PSD, juntamente com o grupo de jornalistas que a segue, facilmente entope o corredor das frutas e legumes da feira de Espinho. Mas (quase) tudo se resolve com a entrega de uma caneta (exceto a impaciência de uma freguesa que, irritada com a falta de espaço para circular, anuncia à comitiva: “Assim já não voto PSD”).

A abordagem repete-se uma e outra vez: à falta de tempo e condições climatéricas para se discutir em profundidade temas europeus ou até nacionais, oferece-se uma caneta, há quem fure por entre o grupo para ir buscar uma, as caixas e reposições de stock fazem-se sempre que possível. No centro do grupo, a receber novas doses de canetas, está Paulo Rangel. Não se esforça por encetar grandes conversas: pergunta nomes, lembra que “as europeias são já no dia 26”, remata com a “canetinha”, desbloqueador clássico de conversa no terreno. E o grupo segue.

Não vai mal composto: esta manhã, para o início oficial da campanha do PSD às eleições europeias, reuniram-se perto da Câmara Municipal de Espinho dois vices (Salvador Malheiro, um dos mestres de cerimónias, já que é natural de Ovar, e Castro Almeida), o challenger de Rui Rio (Luís Montenegro, que é de Espinho) e uma amostra da lista de 21 candidatos, a somar à habitual comitiva da ‘jota’, já equipada com megafones e bandeiras a condizer. “O país tem testemunhado a tua boa forma e a má dos outros”, comenta Montenegro para Rangel. Jogam em casa, especialmente Malheiro e Montenegro: Espinho é município social-democrata (40% nas últimas autárquicas) e o resto dos concelhos por que Rangel e companhia passarão neste primeiro dia de campanha também (com picos de cor de laranja ainda mais fortes, por exemplo, na Murtosa, onde o partido teve 72% dos votos).

Por isto, mas também porque os clientes circulam com dificuldade por entre bancas de couve-flor, feijão verde ou cerejas (“E isto é só a parte dos legumes!”, congratula-se um membro da comitiva, orgulhoso do tamanho da feira semanal de Espinho), não há espaço para confrontações. O único sinal disso aparece quando uma senhora grita, ainda longe de Rangel: “Um tipo que está no Parlamento Europeu e não apresenta uma proposta!”. Mas logo os ‘jotas’ cumprem o seu papel e abafam a revolta com mais um cântico: “Chora Costa, chora Marques e família inteira!”.

Muitos dos clientes são indiferentes à passagem do grupo e continuam na procura da fruta mais madura (assim constata Rangel, enquanto tenta oferecer mais uma caneta: “Esta senhora se calhar está mais preocupada com a fruta…”). Noutra banca, diz a uma vendedora que “é importante que votem” e a farpa não demora em chegar: “Pois, o importante é o voto!”. Mas a visita decorre maioritariamente sem percalços.

Malheiro segue mais à vontade, por vezes distribuem-se as figuras de proa (o próprio, Rangel e Montenegro) por bancas diferentes, a ele exigem-lhe beijos, a Rangel asseguram que o conhecem e dizem que são filhos de X ou irmãos de Y, talvez o candidato os conheça mesmo ou talvez não mas responde que “sabe muito bem”, mas a conversa quase nunca vai além do “as europeias são já no dia 26, é importante votar”.

Conversas tímidas feitas, é hora de Rangel e Montenegro se posicionarem para as câmaras. As atenções estão postas no segundo e o verdadeiro candidato pouco fala enquanto Montenegro assegura que estaria disponível para fazer campanha ao lado de Rio, que o importante é o partido, que a democracia interna e as vozes dissonantes são uma coisa boa. No final, já com uma quantidade razoável de canetas distribuídas, despedem-se. Mas Rangel terá um dia longo pela frente, quase sempre em concelhos sociais-democratas e a acabar com um comício no Europarque, em Santa Maria da Feira. Levará canetas atrás?

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