Legislativas 2022

Costa sai se ficar atrás de Rio, mas não seguirá para Belém. Ser PR “nunca” vai acontecer

Costa sai se ficar atrás de Rio, mas não seguirá para Belém. Ser PR “nunca” vai acontecer
CLARA AZEVEDO

Durante uma entrevista à CNN, num registo mais descontraído, o primeiro-ministro assumiu que queria ter maioria absoluta, "metade mais um", e recusa acordos com o PSD para governos de dois anos

Costa sai se ficar atrás de Rio, mas não seguirá para Belém. Ser PR “nunca” vai acontecer

Liliana Valente

Coordenadora de Política

Em funções como primeiro-ministro há seis anos, António Costa diz que é aí que quer continuar nos próximos quatro, com maioria absoluta - ou na nova formulação "metade mais um" -, mas admite que sairá se sentir que os portugueses lhe deram um "voto de desconfiança" nas eleições de 30 de janeiro. Em entrevista à CNN, pareceu pôr de parte um cenário como o de 2015, em que o PS não foi o partido mais votado, mas conseguiu formar Governo com o apoio da esquerda.

“Se uma pessoa é primeiro-ministro durante seis anos, se durante seis anos os portugueses têm oportunidade de acompanhar e avaliar o trabalho e se, ao fim de seis anos, não dão confiança ao primeiro-ministro com uma vitória eleitoral, isso é manifestamente um voto de desconfiança dos portugueses no primeiro-ministro, e aí eu tenho de tirar as devidas conclusões”, disse. As conclusões são a demissão: "Demito-me, isso é evidente".

Pela forma como o disse, desta vez de forma mais clara do que tinha feito há cerca de um mês em entrevista à RTP, António Costa não decidirá o rumo socialista se o resultado não for ser o partido mais votado. Aliás, sobre o futuro do partido até respondeu que "é provável" que Pedro Nuno Santos venha a ser primeiro-ministro se for esse o desejo da maioria dos socialistas.

De volta ao presente, durante a conversa que aconteceu por entre o mobiliário de São Bento e a explicação sobre os projetos de arte na Residência Oficial, António Costa foi questionado sobre a probabilidade de um acordo de Governo com o PSD. “O país não precisa de governos provisórios de dois anos, o país precisa mesmo é de estabilidade durante quatro anos. Não. Esse é um cenário que nunca se colocará", frisou.

Neste ponto, que é um dos argumentos de campanha de Costa, o primeiro-ministro apertou dizendo que "ninguém faz acordos para dois anos" porque não se trata de uma espécie de "rotativismo do centrão". "Não é desejável para a democracia". Essa proposta, rematou, é de quem não tem experiência governativa. A experiência é uma das armas de Costa na bipolarização com Rui Rio.

António Costa é, aliás, um dos governantes que há mais tempo exerce funções governativas, há precisamente 14 anos e seis meses.

E por isso garante que é no papel executivo que se sente bem e não no de Chefe de Estado. E aqui Costa diz nunca. "Tenho a certeza que é um cargo que nunca exercerei", respondeu. O detalhe ou o porquê viria logo de seguida: "A experiência também nos indica que quem gostou de ser primeiro-ministro não foi bom Presidente da República", disse.

Certamente não se referindo a Mário Soares, a frase apenas se poderia aplicar a Cavaco Silva, primeiro-ministro e depois Presidente da República. "Para quem gosta de funções executivas é difícil não estar a interferir na ação governativa. Cada um na sua função própria", acrescentou.

E a sua, por agora, é a de procurar uma solução estável para governar. Insistiu na ideia de que a escolha é entre Rui Rio e António Costa para formar Governo e admite que procura uma maioria absoluta - "é isso", respondeu. A formulação, a juntar ao trio "reforçada, estável e duradoura" é a de que quer "metade mais um" e isso é uma maioria absoluta.

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