Costa sai se ficar atrás de Rio, mas não seguirá para Belém. Ser PR “nunca” vai acontecer
CLARA AZEVEDO
Durante uma entrevista à CNN, num registo mais descontraído, o primeiro-ministro assumiu que queria ter maioria absoluta, "metade mais um", e recusa acordos com o PSD para governos de dois anos
Em funções como primeiro-ministro há seis anos, António Costa diz que é aí que quer continuar nos próximos quatro, com maioria absoluta - ou na nova formulação "metade mais um" -, mas admite que sairá se sentir que os portugueses lhe deram um "voto de desconfiança" nas eleições de 30 de janeiro. Em entrevista à CNN, pareceu pôr de parte um cenário como o de 2015, em que o PS não foi o partido mais votado, mas conseguiu formar Governo com o apoio da esquerda.
“Se uma pessoa é primeiro-ministro durante seis anos, se durante seis anos os portugueses têm oportunidade de acompanhar e avaliar o trabalho e se, ao fim de seis anos, não dão confiança ao primeiro-ministro com uma vitória eleitoral, isso é manifestamente um voto de desconfiança dos portugueses no primeiro-ministro, e aí eu tenho de tirar as devidas conclusões”, disse. As conclusões são a demissão: "Demito-me, isso é evidente".
Pela forma como o disse, desta vez de forma mais clara do que tinha feito há cerca de um mês em entrevista à RTP, António Costa não decidirá o rumo socialista se o resultado não for ser o partido mais votado. Aliás, sobre o futuro do partido até respondeu que "é provável" que Pedro Nuno Santos venha a ser primeiro-ministro se for esse o desejo da maioria dos socialistas.
De volta ao presente, durante a conversa que aconteceu por entre o mobiliário de São Bento e a explicação sobre os projetos de arte na Residência Oficial, António Costa foi questionado sobre a probabilidade de um acordo de Governo com o PSD. “O país não precisa de governos provisórios de dois anos, o país precisa mesmo é de estabilidade durante quatro anos. Não. Esse é um cenário que nunca se colocará", frisou.
Neste ponto, que é um dos argumentos de campanha de Costa, o primeiro-ministro apertou dizendo que "ninguém faz acordos para dois anos" porque não se trata de uma espécie de "rotativismo do centrão". "Não é desejável para a democracia". Essa proposta, rematou, é de quem não tem experiência governativa. A experiência é uma das armas de Costa na bipolarização com Rui Rio.
António Costa é, aliás, um dos governantes que há mais tempo exerce funções governativas, há precisamente 14 anos e seis meses.
E por isso garante que é no papel executivo que se sente bem e não no de Chefe de Estado. E aqui Costa diz nunca. "Tenho a certeza que é um cargo que nunca exercerei", respondeu. O detalhe ou o porquê viria logo de seguida: "A experiência também nos indica que quem gostou de ser primeiro-ministro não foi bom Presidente da República", disse.
Certamente não se referindo a Mário Soares, a frase apenas se poderia aplicar a Cavaco Silva, primeiro-ministro e depois Presidente da República. "Para quem gosta de funções executivas é difícil não estar a interferir na ação governativa. Cada um na sua função própria", acrescentou.
E a sua, por agora, é a de procurar uma solução estável para governar. Insistiu na ideia de que a escolha é entre Rui Rio e António Costa para formar Governo e admite que procura uma maioria absoluta - "é isso", respondeu. A formulação, a juntar ao trio "reforçada, estável e duradoura" é a de que quer "metade mais um" e isso é uma maioria absoluta.