Carlos Moedas fez tremer Lisboa, mas ele próprio tem a governabilidade tremida. António Costa teve um aviso e um cartão amarelo: Lisboa caiu, o voto urbano tremeu, o PS entrou no plano inclinado? As sondagens nacionais dizem que não (mas elas também já erraram). O CDS não tremeu, mas está mais tremido que nunca. Já o edifício do PCP, vai caindo aos poucos, sujeito à zona sísmica eleitoral. O Bloco em autárquicas é tão pequeno que quase nem tem dimensão para cair, e o Chega aprendeu que não quer ser como o Bloco. Uma análise aos efeitos colaterais das autárquicas
O sistema não tremeu, como pôs nos cartazes uma certa candidata, mas o sismo inesperado de Carlos Moedas em Lisboa fez o PS tremer, e as réplicas vão sentir-se nas outras dimensões - um resultado eleitoral destes funciona como um dominó político. Ao sentar-se na Praça do Município, Moedas neutralizou um concorrente à liderança do PS, deu fôlego a um futuro secretário-geral do PCP, e oxigenou as lideranças do PSD e do CDS que, sem este resultado, estariam para asfixiar perante os adversários internos.
O PS venceu como se esperava, mas venceu amargamente: perdeu a jóia da coroa (Lisboa) e o cetro (Coimbra), e embora tenha dado mais uma estocada ao PCP em Loures, está desgastado no voto urbano. Pode ser o início de um plano inclinado para os socialistas… ou o aviso pelo estilo de campanha de Costa a mercadejar com os milhões do PRR, ou um sinal para não se perderem em excessos de confiança nas legislativas? Crises políticas é que "não fazem sentido", voltou a dizer Marcelo Rebelo de Sousa, que estará a fazer a sua própria análise dos resultados.
Antes de mais, Lisboa: o lugar onde o PS foi feliz, um baluarte há 14 anos, deu um Presidente da República e um primeiro-ministro ao PS e estava para dar mais um secretário-geral: noutra fase, quando Fernando Medina acabasse este mandato, estaria preparado para a luta interna. Mas hoje Medina é a cara da derrota e de uma certa arrogância, perdeu a maioria na câmara em 2017 e perdeu a câmara agora, quando tinha o pássaro na mão. Sem futuro político definido, António Costa dar-lhe-á uma pasta na próxima remodelação do Governo? Ficará como vereador à espera da queda de Moedas? Ou vai fazer uma travessia no deserto fora da política? Pedro Nuno Santos, Ana Catarina Mendes (ou Mariana Vieira da Silva) têm caminho mais limpo para a sucessão quando Costa sair. Um fora - mas era o preferido de duas.
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