Utilizadores queixam-se de falhas nos novos autocarros do Grande Porto, mas presidente garante: transportes da UNIR “vão lá estar”
Rita França/NurPhoto
No arranque da UNIR, nova rede de autocarros em toda a Área Metropolitana do Porto, multiplicavam-se as queixas sobre supressão de horários e linhas em falta. Eduardo Vítor Rodrigues, presidente da AMP, admite falhas, mas garante ao Expresso que serviço não vai deixar utentes apeados
Na sexta-feira, 1 de dezembro, a Área Metropolitana do Porto (AMP) passou a ter um novo serviço de transportes públicos rodoviários. A UNIR, marca única sob a qual opera a nova rede de autocarros, garante que arranca na data prevista, mas, na véspera do início da operação, multiplicam-se as queixas dos utilizadores por atrasos na divulgação de horários e a aparente supressão de percursos.
A AMP tinha já alertado para uma “fase transitória”, para a qual pediu “a compreensão de todos” os utentes, mas, na véspera do início do serviço, nas últimas horas do dia, um dos cinco lotes em que a região foi dividida — que agrupa os municípios de Gondomar, Valongo, Paredes e Santo Tirso — continuava sem horários e, nos outros quatro, não existem informações sobre serviços noturnos que anteriormente existiam ou, como no caso do lote correspondente a Vila Nova de Gaia e Espinho, a referência às carreiras de fim de semana ou feriados é inexistente (ambos corrigidos já na manhã de sexta-feira).
Nas redes sociais da UNIR, multiplicam-se os comentários de utilizadores da área metropolitana, que dão conta dos atrasos nesta divulgação de escalas horárias. “O lote 2 vai sair quando? Temos vidas para organizar”, queixa-se uma utente, enquanto outros perguntam, sobre outras regiões, se “os horários da semana também são os mesmo do fim de semana e feriados”.
Presidente justifica atrasos e falhas: “esticámos ao limite do possível”
Ao Expresso, Eduardo Vítor Rodrigues, presidente da AMP (e da Câmara Municipal de Gaia), diz compreender as reclamações dos cidadãos e reconhece as falhas neste processo. “A data limite da licença provisória de transporte público é o dia 3 de dezembro. Lançamos a operação dia 1, já que esticámos ao limite do possível [para a organizar]. Se não lançássemos até segunda, não teríamos transporte e não poderíamos renovar a licença”, justifica o presidente.
O processo de concurso e implementação dos novos lotes na AMP foi-se arrastando ao longo dos últimos anos devido a múltiplos entraves judiciais e económicos, causados - para além da pandemia e a contestação de alguns autarcas - pelas empresas que até agora serviam a região (para impugnar o processo), e pelas empresas que assumem a nova operação (que pretendiam um acelerar do processo).
Neste processo, as cerca de 30 empresas privadas que asseguravam transporte rodoviário em todos os concelhos da AMP serão a partir de agora substituídas por outras, vencedoras desse concurso lançado em 2020 pela AMP para servir estas localidades e que posteriormente aceitaram a concessão.
Eduardo Vítor Rodrigues explica ainda que, pela necessidade em lançar o serviço neste momento, geraram-se novos atrasos pela “ausência de alguns novos veículos, que estão a chegar” e com a “contratação de motoristas” — uma vez que “os motoristas que existiam não são são suficientes para a operação”. “Uma grande percentagem deles ficaram nas empresas de origem”, cerca de 160 motoristas foram contratados em países como Cabo Verde e Brasil, detalha.
AMP garante que “autocarros vão lá estar para os utentes” e que não existirá supressão de serviços noturnos ou escolares
Questionado sobre a possível supressão de horários e percursos anteriormente assegurados pelas empresas privadas que são agora substituídas, Eduardo Vítor Rodrigues garante que isso não vai acontecer, uma vez que o assegurar desse serviço faz parte do “caderno de encargos” da UNIR.
Então, porque não está claro para os utilizadores, através das escalas reveladas, que assim será? O presidente da AMP diz ao Expresso que, por “erro”, estão a ser divulgados apenas os horários de serviço comercial, ou seja, sem dar conta das operações que não são regulares, “o que gerou a dúvida sobre os horários escolar e noturno”.
Está, porém, “explícito que cumpriremos” as chamadas “obrigações de serviço público”, como é o caso desses horários.
“Nenhum horário é extinto”, em nenhuma hora do dia ou noite, assume Eduardo Vítor Rodrigues. Mas como podem os viajantes saber a que horas passam esses autocarros até as escalas serem corrigidas? Assumindo que eles lá vão aparecer: “admito que possamos não ter todos os horários ao mesmo tempo, mas estarão lá os autocarros para os clientes”.
Sobre eventuais falhas que ainda venham a ocorrer, a previsão é de que todas as correções sejam atempadamente realizadas. “Escolhemos este momento final [antes da perda da licença] para arrancar já que este mês de dezembro é mais tranquilo, com menos tempo de aulas, onde podemos fazer os ajustamentos todos”, diz.
“O que tínhamos até agora era um serviço desregrado e de péssima qualidade. Agora, vamos ter horários”, diz o presidente da AMP, voltando a alertar para o “período transitório” da operacionalização da UNIR.
O que muda com a UNIR?
Apesar de eventuais constrangimentos e das dúvidas dos utentes, o que é certo é que o serviço da UNIR arranca esta sexta-feira, 1 de dezembro, com 439 linhas em 17 concelhos. Retira destas localidades as várias empresas que até ao final desta semana ainda prestavam serviços de autocarro — como a AV Feirense, Transdev, UT Carvalhos, Gondomarense, Maré, Valpi, MGC ou Espírito Santo, entre várias outras.
Os autocarros da UNIR vão apresentar uma imagem comum em todo o território: azuis e brancos, com elementos coloridos. Alguns têm já sido avistados nas ruas da região, em fase de testes.
A frota, que aproveita vários dos veículos já utilizados, foi renovada com 200 novos autocarros. Ao Expresso, o responsável pela AMP refere que se inicia “uma operação com 700 novos autocarros e 33 milhões de quilómetros por ano produzidos”.
A UNIR incorpora o título Andante (passe ou cartões pré-carregados) em toda a rede, mas será possível comprar um título único a bordo.
Nova rede de autocarros da AMP opera em 17 municípios sob uma marca comum: veículos da UNIR terão um aspeto semelhante em todo o território coberto pela operação.
UNIR
Praticamente todas as paragens existentes e que já são utilizadas pelos cidadãos continuarão ativas, algumas com novos nomes, mas, segundo a operadora, várias foram relocalizadas “para maior conforto e segurança dos passageiros”. Foram também adicionados novos pontos de paragem, em locais onde anteriormente não havia serviço de transporte público.
Todas as paragens terão identificação da zona, código e nome da paragem, número das linhas que por lá passam e respetivos destinos. Inicialmente, as escalas serão apenas disponibilizadas na internet, mas surgirão “em breve” (apesar de ainda não se saber quando), nas paragens de toda a rede, postaletes com a identificação das linhas.
Está ainda previsto que os horários e a localização exata e em tempo real dos autocarros possam ser consultados através das aplicações de transporte público já usadas na cidade, como a “Move-me”, e que exista uma aplicação própria da UNIR, atualmente em fase de preparação para ser lançada em Android e iOS.