Transportes

Presidente da CPI da TAP invoca Antigo Testamento para agradecer aos deputados e pedir calma até que haja um relatório

Presidente da CPI da TAP invoca Antigo Testamento para agradecer aos deputados e pedir calma até que haja um relatório
Antonio Pedro Ferreira

“Empenho, dedicação, diversidade e pluralidade”: presidente da Comissão de Inquérito à TAP chamou a comunicação social para um balanço dos trabalhos, mas ficou-se por agradecimentos, sobretudo aos deputados

Presidente da CPI da TAP invoca Antigo Testamento para agradecer aos deputados e pedir calma até que haja um relatório

Diogo Cavaleiro

Jornalista

Por regra, as reuniões da mesa e dos deputados coordenadores da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) à TAP acontecem à porta fechada, mas esta terça-feira, 14 de junho, uma parte do encontro foi aberta aos jornalistas. A ideia era que fosse feito um balanço dos trabalhos por parte do presidente, António Lacerda Sales, mas o que aconteceu foi apenas um enumerar de agradecimentos, pedindo calma enquanto se espera pelo relatório final. Sem direito a perguntas, mas com uma referência à Bíblia.

“Citando o terceiro [capítulo do] livro do Antigo Testamento o Eclesíastes: ‘tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito: o tempo de nascer, o tempo de morrer, o tempo de plantar e o tempo de colher o que se plantou’”, citou Lacerda Sales nos poucos minutos em que falou esta quarta-feira para esse “balanço”, que redundou apenas em agradecimentos.

O presidente da comissão não citou o resto da Bíblia: “é tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar e tempo de edificar”. Mudou o texto: “Este é, pois, o tempo de aguardar com tranquilidade o relatório e as conclusões este inquérito”. É a socialista Ana Paula Bernardo que o irá escrever e, embora tenha dito ao Expresso que procurará um consenso, sabe que é uma tarefa difícil.

Este é um ponto de viragem na CPI que Lacerda Sales quis marcar, ainda que faltem três audições determinantes: Hugo Santos Mendes, secretário de Estado das Infraestruturas; Pedro Nuno Santos, ex-ministro das Infraestruturas (dia 15); e Fernando Medina, ministro das Finanças (dia 16).

Esta terça-feira, é Hugo Mendes o primeiro a ser ouvido, pelas 14h, antecipando-se várias horas de audição.

Pluralidade e dedicação

Embora tenha deixado palavras a quatro grupos (deputados, funcionários parlamentares, o presidente da Assembleia República e jornalistas), foi nos deputados que Lacerda Sales mais se reteve para agradecimentos.

“Ao longo dos últimos meses tivemos a responsabilidade de conduzir os trabalhos da comissão, cujo objeto era avaliar o exercício da tutela política da gestão da TAP SGPS e TAP SA. Por isso, agradeço a todos os membros desta comissão pelo empenho e dedicação na forma como pretenderam, com transparência e verdade, assumir este propósito. Agradeço a todas as bancadas parlamentares. A diversidade, a pluralidade de ideias e as perspetivas contribuíram para uma discussão intensa e abrangente e para reflexão profunda sobre a importância estratégica desta empresa”, declarou o socialista Lacerda Sales, que, em maio, substituiu Jorge Seguro Sanches na presidência da CPI.

O presidente da comissão quis sublinhar qual o objeto da CPI (“exercício da tutela política da gestão da TAP SGPS e TAP SA”), que tem sido um dos aspetos mais discutidos. O PS recusa que tenha aí lugar a discussão da atuação das “secretas” para recuperação do computador do Ministério das Infraestruturas (no episódio que envolveu Frederico Pinheiro, ex-adjunto de João Galamba), e foi por isso que recusou todas as audições e requerimentos que se debruçassem sobre esse episódio, contando com a mesma opinião do PCP, mas contra toda a restante oposição.

Daí que o deputado socialista, antigo secretário de Estado da Saúde, também tenha falado sobre a “diversidade e pluralidade de ideias” ao lado do vice-presidente da mesa, Filipe Melo (Chega), e dos coordenadores partidários Bruno Aragão (PS), Paulo Moniz (PSD) e Pedro Filipe Soares (BE). Bernardo Blanco (IL) e Bruno Dias (PCP) não participaram.

Uma conclusão

E ainda que seja tempo de esperar pelo relatório (a votação final está marcada para 13 de julho), Lacerda Sales já tirou uma conclusão: a TAP tem “uma importância estratégica”. Numa das últimas audições, Mário Centeno, governador do Banco de Portugal, defendeu a importância para a economia portuguesa “se calhar não da TAP, mas da função que a TAP desempenha”.

Além dos deputados, o presidente da CPI quis deixar palavras para os funcionários dos serviços que apoiam a mesa (“o desempenho dos eleitos não teria sido possível sem o apoio e as condições proporcionadas”), à própria Assembleia da República (“na pessoa do presidente, como guardião da democracia, como fórum do debate público, da salvaguarda do interesse nacional”) e ainda aos jornalistas (“não perder o foco no papel de informar os cidadãos”).

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: dcavaleiro@expresso.impresa.pt

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