"Informo que hoje, após quase três meses à espera de que a TAP me indicasse o valor a devolver, efetuei a devolução de 266.412,76 euros", afirma Alexandra Reis, ex-administradora da TAP, num comunicado enviado esta quarta-feira aos meios de comunicação social.
Alexandra Reis vai devolver o que lhe é pedido, mas não concorda com as contas feitas pela companhia e pelo Fisco, cuja fórmula diz, aliás, desconhecer.
"Foi este o montante líquido global indicado pela TAP. E, apesar de não me rever nele e de não o entender, uma vez que o mesmo não me foi detalhado, nem fundamentado pela empresa, e de também, como é sabido, discordar do parecer da IGF, por minha livre iniciativa, e tal como deixei claro desde o primeiro momento, efetuei a devolução", explica Alexandra Reis.
Litigância afastada
A gestora, que saiu da TAP em fevereiro de 2022, depois de a antiga presidente, Christine Ourmières-Widener, ter decidido afastá-la, lembra que sempre disse que iria devolver o valor que tivesse recebido a mais se este fosse considerado indevido.
"Como referi, não quero ter na minha posse um euro sobre o qual possa existir a mínima suspeita. Aceitei sair da TAP de boa-fé, empresa à qual me entreguei com todo o meu compromisso e dedicação na defesa dos seus interesses, num contexto extremamente difícil", declarou.
Apesar de não concordar com as contas, não vai litigar na justiça. "Espero deste modo encerrar de uma vez por todas este assunto, de forma a enfrentar os desafios que o futuro me traga sem que haja qualquer dúvida sobre a minha idoneidade e atuação enquanto fui administradora da TAP, companhia à qual desejo o maior sucesso", escreve a antiga gestora da empresa de transporte aéreo.
Alexandra Reis está agora a trabalhar como consultora no grupo Barraqueiro, antigo acionista da TAP. Um convite que acaba por não ser uma surpresa. A gestora trabalhou com grande proximidade de David Pedrosa, quando este era administrador executivo da TAP, e Humberto Pedrosa elogiou o seu desempenho na Comissão Parlamentar de Inquérito da TAP.
Na origem da Comissão Parlamentar de Inquérito à gestão da TAP de 2020 a 2022, que está a gerar uma profunda crise política e a abanar o governo, está precisamente a indemnização de 500 mil euros a Alexandra Reis, cuja polémica rebentou no Natal de 2022. Indemnização resultante de um acordo que mais tarde, a 6 de março de 2023, a IGF - Inspeção-Geral de Finanças veio considerar "ilegal".
A conclusão da IGF causou estranheza à gestora. "Na altura não senti que houvesse algum tipo de risco ou de dúvida sobre a minha indemnização e o acordo", afirmou a ex-administradora da TAP, quando foi ouvida na CPI.
Sobre o porquê de ter pedido uma indemnização, esclareceu então: "eu não renunciei ao cargo de livre vontade. Não foi a Alexandra Reis que a 25 de janeiro [de 2022] se lembrou que queria sair da empresa".
A gestora assegurou na altura que não teve "nenhuma discussão sobre os estatutos do gestor público". E sublinhou: "Eu não sou jurista, não tenho como avaliar as eventuais falhas na interpretação" do estatuto de gestor público.
Christine Ourmières-Widener convidou Alexandra Reis a sair da TAP em 25 de janeiro de 2022, e o acordo de saída foi assinado no dia 4 de fevereiro, ao fim do dia.