Transportes

Tripulantes da TAP dizem-se "enganados" e confessam "ter vergonha" do que se tem passado na Comissão de Inquérito

Tripulantes da TAP dizem-se "enganados" e confessam "ter vergonha" do que se tem passado na Comissão de Inquérito
MARIO CRUZ

Presidente do sindicato dos tripulantes volta a lamentar o desconhecimento do plano de reestruturação da TAP e defende que os cortes salariais impedem a paz social" na companhia aérea

O SNPVAC - Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil conseguiu integrar, no último ano, cerca de 500 trabalhadores que tinham contrato e foram despedidos, afirmou o presidente do sindicato, Ricardo Penarróias, na Comissão Parlamentar de Inquérito à gestão da TAP de 2020 a 2022.

O representante dos tripulantes salientou que, neste momento, a TAP não está a conseguir contratar pela primeira vez na sua história por causa dos cortes aplicados aos salários dos trabalhadores.

Ricardo Penarróias lembrou que foram cancelados 200 voos previstos para o próximo mês de maio, também por falta de tripulantes. E defendeu: "os cortes não eram necessários", o "tempo deu-nos razão". "Cortes salariais são a razão para que não estejamos hoje a falar de paz social", sublinhou ainda o dirigente sindical, acrescentando que "os cortes são abusivos".

O presidente do SNPVAC repudiou as revelações que foram feitas até agora na Comissão de Inquérito. "O que temos assistido nesta sala é uma vergonha para o país, não há um único trabalhador da TAP que não tenha vergonha", frisa.

Enganados, e com Bruxelas a corroborar

"Fomos enganados", disse o mesmo responsável, referindo-se ao que diz ter sido a narrativa que lhe contaram para salvar a empresa. "Foi uma imposição, e a realidade veio dar-nos razão". E acrescentou: "hoje se não existe paz social os únicos responsáveis pelos cortes são o plano e o Governo".

"É uma narrativa ideológica dizer que os salários são o problema da TAP", afirmou Ricardo Penarróias, defendendo que "não são". E apontou o seu caso pessoal: "eu perdi 70% [do meu rendimento]". Metade dos tripulantes da TAP ganham abaixo dos mil euros. E lembrou que "em 2017 a TAP conseguia ter lucros com os acordos de empresa que tinha", reafirmando que os salários dos trabalhadores não são o problema.

O SNPVAC veio ainda dizer à CPI - trazendo um documento para a reunião que o comprovava - ,que é uma falácia afirmar que foi Bruxelas quem impôs os cortes. Ricardo Penarróias, o presidente do sindicato dos tripulantes, afirmou aliás que a Direção Geral da Concorrência Europeia questionou os cortes na remuneração dos trabalhadores, perguntando porque não houve cortes também para os obrigacionistas.

A realidade de 2020 e 2021 já não é a mesma, afirmou Ricardo Penarróias, falando de "promiscuidade do poder com a gestão" e "atropelos à lei".

“Atos de gestão questionáveis”

“O que me preocupa também muito é a imagem da companhia, beliscada por atos de gestão questionáveis, em que não houve a lucidez, a frontalidade, de não assumir que erraram”, atacou o líder sindical na sua audição.

Em relação ao eventual pedido de indemnização que Christine Ourmières-Widener fará à TAP devido ao seu afastamento, decidido pelo Governo, Ricardo Penarróias assumiu-se pouco preocupado: “Com todo o respeito que tenho pela Christine, a minha preocupação não é a indemnização. É o regresso dos trabalhadores. Se tiver razão, tem de ser indemnizada. Mas a minha grande preocupação são os tripulantes de cabine”, disse, lembrando os processos que os trabalhadores também puseram contra a empresa para a integração.

Alexandra Reis “ponta de icebergue”

Na sua audição, o presidente do sindicato dos tripulantes de cabine disse desconhecer mais algum caso concreto de indemnização paga para afastar ex-gestores.

“Não conheço nenhum. Mas [comenta-se] que a indemnização de Alexandra Reis é a ponta do icebergue”, declarou, reiterando o sentimento de que os trabalhadores foram “enganados”.

Em relação ao Governo, Ricardo Penarróias lamentou que João Galamba tenha falado publicamente sobre a greve que estava convocada para o início do ano, mas assumindo que quando o ministro falou (para dizer que não ia haver paralisação quando não havia nenhuma decisão) fê-lo por “desconhecimento”.

“Deu-me um trabalho imenso para desmontar isto. Nunca é uma decisão unilateral de direção sindical. Foi algum desconhecimento do ministro”, disse.

(Notícia atualizada às 22h28 com mais informações)

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