"Tivemos com Manuel Beja [presidente do conselho de administração da TAP] apenas uma reunião, a nosso pedido. Disse-nos que qualquer contacto [futuro] teria de ser sempre com a Comissão executiva", avançou Paulo Duarte, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos (SITAVA), esta quarta-feira, na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), à gestão da TAP entre 2020 e 2022. Manuel Beja, ex-administrador da TAP, queixou-se quando foi ouvido na CPI de ter sido ignorado pelas duas tutelas (Infraestruturas e Finanças), e ter tentado, sem sucesso, falar quatro vezes com o agora ex-ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, e de ter ficado oito meses à espera para falar com as Finanças.
Paulo Duarte avançou também que o SITAVA, maior sindicato dos trabalhadores da TAP, é contra a privatização da companhia, "não por questões ideológicas", mas por considerar que será negativo para a transportadora neste momento. E defendeu que seria um erro ir a "correr" entregar a TAP a outra companhia.
"Não há TAP sem hub em Lisboa", sentenciou o dirigente sindical. E explicou porquê: "A TAP perde dinheiro no ponto a ponto e ganha dinheiro com o hub". A transportadora, salientou, não consegue competir com as 'low cost', que são, considerou, apoiadas pelos Estados. "Elas não vendem bilhetes, vendem turistas e os Estados pagam-lhe por isso".
Questionado sobre o que pensa da indemnização da administradora Alexandra Reis, Paulo Duarte optou por não cavalgar a polémica. "Se é ilegal ou legal não nos vamos pronunciar, mas admitimos que gostaríamos que tivesse sido conduzida de outra forma", frisou.
Paulo Duarte lamentou que a TAP não esteja a conseguir contratar trabalhadores, porque deixou de ser uma companhia atrativa. Assegurou que a TAP faz ACMI (contratação de operações externas de aviões e tripulação) por que não há aviões e pilotos.
VEM era bom para o Brasil, mau para a TAP
As críticas duras reservou-as Paulo Duarte para a VEM, operação de manutenção no Brasil, um negócio feito em 2005, na gestão de Fernando Pinto. "Aquilo era um sorvedouro de dinheiro", lamentou. Os aviões "ficavam lá [na VEM] meses". Não se aplicavam lá as regras salariais que se aplicavam por cá. No Brasil não tinham cortes, a lei brasileira obrigava a haver aumentos todos os anos.
Paulo Duarte reafirmou que a VEM custou à TAP mais de mil milhões de euros, e que, na opinião do SITAVA, já "devia ter sido fechado há muito tempo". E sintetizou: "Foi bom para o Brasil para nunca foi bom nós. A TAP pagou as dívidas da VEM".
Quanto ao papel do ex-administrador não executivo da TAP, Lacerda Machado, o presidente do SITAVA explicou que o gestor, nas conversas que teve, nunca deu abertura para falar da VEM. "Defendia [a parceira] com unhas e dentes". Lacerda Machado afirmava que a manutenção do Brasil "era uma inevitabilidade. Se fechássemos iríamos ter problemas diplomáticos". “Nunca percebi muito bem”, diz.
Paulo Duarte disse ainda que alertou sucessivos Conselhos de Administração da TAP par os problemas que a operação no Brasil levantavam, bem como o Governo, mas só Pedro Nuno Santos, ex-ministro das Infraestruturas, os quis ouvir.
“A única vez que tivemos interlocutor [no Governo] sobre esta matéria foi no anterior ministro das Infraestruturas. Alertámos o doutor Pedro Marques, mas a única altura em que tivemos interlocutor sobre esta matéria e que se interessou foi o doutor Pedro Nuno Santos”, frisou.
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