Não foram só os gestores da TAP, nem os ministros que asseguram a sua tutela, que foram criticados pelos sindicatos representativos de trabalhadores da companhia aérea nas suas audições da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) à TAP. Esta quarta-feira, 26 de abril, os deputados fizeram da Ryanair também um alvo.
Os sindicatos separaram-se, porém, no que diz respeito à privatização - uns são favoráveis, outros não, mas todos querem um papel nesse processo.
SNPVAC
A deputada bloquista Mariana Mortágua referiu que a TAP, em contribuições para a Segurança Social, deu 1,5 mil milhões de euros entre 2013 e 2022, muito acima dos 44 milhões assegurados pela concorrente. Em 2022, continuou, a Ryanair fica-se pelos 9 milhões, a TAP chega aos 129 milhões, números que considera desproporcionados.
Com fortes críticas ao comportamento laboral da companhia aérea irlandesa, Ricardo Penarróias, do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC), disse que há “ajuda financeira direta e indireta”, e que vive no país com benefícios fiscais.
Segundo o responsável, a Ryanair beneficiou do regime de lay-off simplificado criado devido à covid-19, mas acusou-a de não ter cumprido os critérios para os merecer.
Ricardo Penarróias foi duro: É uma “vassalagem” que o país tem, “que oprime os trabalhadores, as condições de trabalho”.
O dirigente do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC) admitiu que a TAP desvalorizou o aeroporto do Porto, mas disse que é preciso calcular quanto é que os aeroportos de Porto e Faro pagam para que a Ryanair para lá voe: “Quanto é que o turismo de Faro paga? Ou Ponta Delgada?”.
SITAVA
“Não há TAP sem hub em Lisboa, a importância é determinante. A TAP perde dinheiro no ponto a ponto, ganha dinheiro no longo curso; precisa do ponto a ponto para alimentar o hub de Lisboa. Sem o hub, tudo o que é as redes e rotas como estão desenhadas para a TAP não fazem sentido. A TAP não consegue competir no ponto de ponto, com a Ryanair ou a Easyjet, que têm outro modelo de negócio. Oferecem-se para trazer não sei quantos mil passageiros, e os Estados, para eles virem, vão-nos alimentando com verbas”, atacou também Paulo Duarte, do SITAVA.
“É um paraíso para eles, e assim continuará”, atacou o dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos.
SINTAC
Já o Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Avião Civil (SPAC) lembrou que ter “mais passageiros não significa melhor”.
Pedro Figueiredo recusou comparações da companhia aérea portuguesa com a rival de baixo custo irlandesa. “Não podemos comparar a TAP com a Ryanair. A Ryanair, para onde vai, seca tudo à volta, é tudo aproveitado ao máximo, é até secar”, declarou, falando na diferença da fatura fiscal de ambas as companhias.
Às dúvidas sobre o encargo para a Segurança Social suportado, o responsável do SINTAC, Pedro Figueiredo, acredita que há trabalhadores da companhia que “se calhar recebem o ordenado a partir da Irlanda”. “Se calhar é daí essa disparidade de haver diferenças no pagamento a Segurança Social”.
SPAC
Tiago Faria Lopes, do Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil, não se quis comprometer com uma reação à Ryanair, tendo em conta os associados com que conta, mas disse que é preciso perguntar às câmaras municipais quais os incentivos que atribuem para que a companhia irlandesa voe para várias cidades portuguesas.
PRIVATIZAÇÃO
Em relação à privatização, não houve a mesma unanimidade entre os sindicatos.
SNPVAC
“Esperamos que sejamos consultados para o processo que venha a haver. Falamos de pessoas, de postos de trabalho. É importante a nossa participação. Faremos para sermos ouvidos”, disse Ricardo Penarróias, do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil.
O líder do sindicato dos tripulantes de cabine disse que não era defensor nem de uma TAP pública ou de uma TAP privada: “os erros são bem patentes de um lado e do outro”.
O que interessa ao SNPVAC é a manutenção do hub de Lisboa: “Qualquer privatização tem de abordar o hub de Lisboa”. Ainda assim, sublinhou que não se pode centrar no hub da capital, tendo em conta o risco das críticas dos restantes autarcas caso descartem o peso de restantes aeroportos nacionais.
Penarróias sublinhou que em relação à escolha do novo dono: “Temos de ver a política que as empresas têm”, disse, frisando – sem identificar – que entre os interessados apontados para a TAP há um que olha mais para as decisões regionais e outro para as decisões centrais.
SITAVA
O maior sindicato dos trabalhadores da TAP é contra a privatização da companhia, mas “não por questões ideológicas”. O SITAVA defende que seria um erro ir a "correr" entregar a transportadora a outra companhia.
Aliás, Paulo Duarte mostrou-se bastante crítico da gestão da TAP quando esteve na posse de acionistas privados (David Neeleman e Humberto Pedrosa). Disse que, aquando da covid-19, “não teve dinheiro, e decidiu ir embora”. “Tudo o que tinha sido a estratégia do privado foi engrandecer a empresa, para depois dispersar o capital em bolsa, e ir canibalizar outra para outro lado”, atacou. “A covid estragou-lhe os planos”.
SINTAC
Já o Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Aviação Civil não vê com bons olhos a passagem da TAP para mãos privadas: “A última privatização não correu bem. Ainda tenho esperança que não haja privatização. Não correu bem, e veio-se a descobrir mais tarde que o Sr. Neeleman, afinal, ganhou com a questão dos Airbus”.
SPAC
Para o líder do sindicato dos pilotos, não há salvação da TAP se não houver privatização, já que será ela a permitir cobrir os resultados da companhia aérea.
Tiago Faria Lopes criticou a dimensão dos custos operacionais (que incluem salários), porque, lembrou, estes ainda contam com os salários cortados aos trabalhadores – sendo assim, disse, têm de ser os fornecedores que estão a consumir maiores verbas.
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