Defendendo que os trabalhadores e companhia são "as vítimas" dos "erros" cometidos na TAP desde a privatização de 2015, no governo de coligação PSD-CDS, o Sitava - Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos classificou como "vigarice" o negócio de troca da frota da Airbus da TAP, feito entre a fabricante de aeronaves e David Neeleman, ainda antes de este se ter tornado acionista da transportadora portuguesa.
Na operação de troca dos A350 pelo Neo a Airbus disponibilizou 226,75 milhões de dólares a uma empresa do empresário norte-americano, dinheiro que este depois usou para capitalizar a TAP, com o conhecimento do governo de Pedro Passos Coelho.
"Vieram agora a público, preto no branco, como diz o povo, as vigarices […] que os investidores privados, muito endinheirados, fizeram para comprar a TAP em 2015, naquele ato noturno, pela calada, e com o silêncio cúmplice de muitos daqueles que hoje choram lágrimas de crocodilo", afirma o Sitava, em comunicado à comunicação social, referindo-se à forma de entrada de Neeleman e o acionista português, Humberto Pedrosa, na transportadora portuguesa.
O Sitava salienta que "se falava nos corredores" da forma como Neeleman tinha entrado na TAP - pagando com o dinheiro que tinha ganho com a operação da Airbus. E frisa que alertou para a questão: "nós próprios tivemos oportunidade de o transmitir às várias entidades a quem batemos à porta, na nossa luta quase solitária contra essa privatização. Ninguém sabia de nada, nem queria saber, e nem sequer tinha ouvido falar, tal era o encanto e a felicidade que o Dr. Pires de Lima, então já ex-ministro da Economia, e o seu partner Sérgio Monteiro irradiavam".
O sindicato aponta o dedo também a outra privatização feita no Governo de coligação PSD-CDS. "Depois de terem praticado o já demonstrado crime económico de vender a ANA Aeroportos ao grupo Vinci, a venda da TAP foi mesmo a cereja no topo do bolo".
E prossegue: "Venderam nessa noite 61% da TAP [a privatização foi feita no dia 12 de novembroàs 23h], mas para os mais distraídos é bom que se recorde que ficou agendada a venda da totalidade. Portanto, de uma só penada os acionistas muito endinheirados tinham comprado a empresa toda e, pasme-se, com o dinheiro da própria empresa. Se isto não foi uma vigarice então que nome tem? E agora, não haverá consequências?".
Sindicato pede investigação de negócios com a Atlantic Gateway
O Sitava apela a que se investigue a venda de serviços entre a Atlantic Gateway (empresa que Neeleman e Pedrosa criaram para a privatização da TAP), os chamados negócios com as partes relacionadas. "Seria muito interessante que se investigasse também os contratos de prestação de serviços entre os donos de então, a Atlantic Gateway e a TAP SGPS", afirma.
Lamenta ainda o Sitava as "calúnias que desde há muitos anos os trabalhadores e a própria TAP sofrem, sem que tenham qualquer responsabilidade nos assuntos de que são apenas vítimas". E acrescenta: "Pobre empresa esta, que ao longo dos tempos tem servido de trampolim para tanta gente, a maioria dela desqualificada e gananciosa".
O sindicato questiona ainda a opção da troca de frotas e a encomenda de 53 novos aviões Neo. "Seria uma quantidade de aviões de que a TAP não precisava? E, ainda por cima, mais caros do que os outros operadores estavam e estão a pagar?", pergunta.
O mesmo sindicato deixa outras perguntas. "Os do governo seguinte [o de António Costa, que reverteu parte da privatização] sabiam de tudo e deixaram andar sem denunciar a vigarice? Não foram também eles responsáveis pelo estado em que a companhia estava quando chegou a pandemia, atribuindo depois todas as culpas para os pobres dos trabalhadores que não tinham sido vistos nem achados em tais decisões?".
O sindicato critica ainda duramente a intervenção da União Europeia. "O Governo atual, único acionista da empresa, tem a missão histórica de reparar, em primeiro lugar, as vítimas, que são os trabalhadores, devolvendo-lhes o que lhes foi roubado", incluindo os acordos de empresa, e os 1,4 mil milhões de euros que os cortes nos salários vão representar. E, em segundo lugar, libertar a empresa das amarras impostas pelos algozes da União Europeia e consolidá-la enquanto importante ativo estratégico para o país, ao invés de andar por aí de mão estendida a tentar vendê-la ao desbarato", concluiu.