Economia

Sporting compra VMOC ao BCP a um dia das eleições (mas não há acordo com Novo Banco)

Sporting compra VMOC ao BCP a um dia das eleições (mas não há acordo com Novo Banco)

No último dia antes de os sócios do Sporting decidirem nova direção, o recandidato Frederico Varandas dá um passo decisivo sobre um dos grandes temas da campanha. O clube fica com VMOC e pode convertê-las até 2026, o que vai esmagar as participações de Álvaro Sobrinho e Olivedesportos

Sporting compra VMOC ao BCP a um dia das eleições (mas não há acordo com Novo Banco)

Diogo Cavaleiro

Jornalista

É a resolução de um dos problemas financeiros do Sporting Clube de Portugal a um dia das eleições – mas não de todos. O clube acordou a aquisição dos valores mobiliários obrigatoriamente convertíveis, os conhecidos VMOC que têm marcado a campanha eleitoral, ao Banco Comercial Português. Também há VMOC nas mãos do Novo Banco, mas, nesse caso, não foi comunicado nenhum acordo, porque ele não chegou.

De acordo com o comunicado emitido à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) esta sexta-feira, 4 de março, “o acionista Sporting Clube de Portugal (adiante SCP) deu conhecimento à sociedade [SAD] da formalização, na presente data, de um contrato de compra e venda com o Banco Comercial Português, S.A. tendo por objeto a aquisição, por transação realizada fora de mercado regulamentado” de 83 milhões de VMOC (Valores Sporting 2020 e Valores Sporting 2014).

Não há indicações de preço para esta operação, mas o Expresso sabe que a aquisição foi feita abaixo dos 30 cêntimos que estavam acordados anteriormente, ou seja, é certo que o BCP recebeu por estas VMOC bem abaixo dos 25 milhões de euros – mas houve mais gastos além desse montante. Aliás, nesta sexta-feira, o Sporting financiou-se em 38,5 milhões de euros, mas não disse se o utilizou na totalidade neste acordo.

Compra de mais dívida do BCP

O Sporting não gastou apenas esse dinheiro com estes instrumentos financeiros que têm assustado os sportinguistas há anos. Segundo sabe o Expresso, além de se desfazer das VMOC, o BCP também quis aproveitar esta operação com o Sporting para reduzir a quase totalidade do financiamento – e nessa operação, o clube terá contado com a ajuda do fundo americano Apollo.

O conjunto da exposição do BCP ao clube de futebol ascendia a 120 milhões de euros e agora ficou reduzida a uma presença imaterial (mas não recebeu esse montante, não se sabendo qual o perdão total). Já se sabia que o BCP queria desfazer-se destes títulos, porque o banco se queria afastar do mundo do futebol há anos, mas que o tema não avançava por haver algum travão do Novo Banco, o outro detentor de VMOC.

E o Novo Banco, de facto, não chegou a acordo – até porque tem o acionista Fundo de Resolução a controlar muitas das operações. Mas o BCP sim.

Esmagar outros acionistas

Ao fazer esta compra de VMOC, o clube vai levar a uma forte diluição das participações dos restantes acionistas. Isto porque estas VMOC são convertíveis em capital e, tendo em conta a sua dimensão, poderiam mudar por completo a estrutura acionista do Sporting, podendo levar o BCP até a uma posição acima de 33% que o obrigaria a lançar uma oferta pública de aquisição (OPA) sobre a SAD – o que claramente não era uma ambição do banco liderado por Miguel Maya.

AS VMOC são títulos de dívida que, no vencimento, agendado para 26 de dezembro de 2026, iriam tornar-se em ações, obrigatoriamente. Agora, após esta recompra ao BCP, nas mãos do Sporting, as VMOC podem ser convertidas em capital em dezembro de cada ano, até 2026 (a data de maturidade), consoante o clube pretender. E, na posse destas VMOC, é o Sporting que ganha peso no capital – e não o BCP (ou qualquer outro investidor a quem o banco pudesse vender os títulos).

Até aqui, o clube era detentor de 64% do capital da sua SAD. “Em resultado da conversão dos Valores, bem como da conversão de VMOC que na presente data já eram detidos pelo SCP e pela Sporting SGPS, SA (adiante Sporting SGPS), ao SCP passarão a ser imputados os direitos de voto de 126.321.668 (cento e vinte e seis milhões, trezentos e vinte e um mil, seiscentos e sessenta e oito) ações da Sporting SAD, representativas de uma participação de 83,90%”, sublinha o comunicado. São mais 20 pontos de capital.

Sobram assim pouco mais de 16% do capital na posse de outros acionistas – e isto sem contar com a conversão das VMOC do Novo Banco, que, convertidos, representarão cerca de 5% do capital.

Antes da conversão, aualmente, além do SCP, têm posições qualificadas a Holdimo e a Olivedesportos, com mais de 33% do capital da SAD (29,9% da empresa de Álvaro Sobrinho, e 3,2% de Joaquim Oliveira). É mais do dobro do capital que vai ficar disponível após a conversão das VMOC, pelo que é certo que o seu peso vai afundar-se.

Financiamento de 38,5 milhões

No mesmo dia em que anunciou o gasto de dinheiro com o BCP mas sem indicar o montante, a Sporting SAD revelou que se financiou em mais 38,5 milhões de euros, aproveitando a operação feita com a Sagasta Finance em 2019.

Nestas operações o que acontece é uma antecipação de receitas. O clube financia-se agora com receitas da NOS que teria no futuro, e que, quando se concretizarem, vão para o investidor que agora o ajudou – ou seja, abdica desses proveitos no futuro.

Explicando: em 2019, a Sporting SAD cedeu créditos de “decorrentes do contrato de cessão de direitos de transmissão televisiva e multimédia, de exploração da publicidade estática e virtual do Estádio José Alvalade, de distribuição do canal Sporting TV e direitos de patrocinador principal, celebrado a 28 de Dezembro de 2015, entre a Sporting SAD, a Sporting Comunicação e Plataformas, S.A. e a NOS Lusomundo Audiovisuais, S.A”.

Agora, houve emissão adicional de obrigações a “título de acréscimo do preço de compra e venda de créditos relacionados com os direitos de transmissão televisiva e multimédia e com os direitos de distribuição do canal Sporting TV (adiante Créditos), destinada a substituir passivos, financeiros e não-financeiros”.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: dcavaleiro@expresso.impresa.pt

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