Responsáveis do Banco de Portugal veem concorrência na banca, e sublinham que cabe aos portugueses estarem atentos às ofertas para encontrarem remunerações mais altas para as suas poupanças
Sem limites aos dividendos que serão distribuídos pelos acionistas da banca, e com a mensagem de que garantir melhores juros nos depósitos cabe mais aos portugueses do que aos próprios bancos: assim se pode resumir o que foi dito por Mário Centeno e por Clara Raposo, governador e vice-governadora do Banco de Portugal, esta quarta-feira, 22 de novembro, quando questionados sobre os dividendos da banca e os juros dos depósitos.
O supervisor não vai avançar com nenhum travão relativamente aos dividendos do sector no próximo ano, com base nos lucros que os bancos vão apresentar este ano (já foram reportados valores recorde nos primeiros nove meses).
“Não faz parte dos planos imediatos emitir qualquer recomendação dessa natureza em que se condicionem bancos em que legalmente, e de certa forma legitimamente, podem decidir a sua distribuição de capital”, segundo afirmou a vice-governadora do Banco de Portugal, Clara Raposo, na conferência de imprensa que teve lugar no Museu do Dinheiro, em Lisboa, para a apresentação do relatório de estabilidade financeira.
“Temos feito este apelo pedagógico, para que tenham bem a noção da fase do ciclo económico em que se encontram”, explicou Clara Raposo, dizendo que os bancos devem aproveitar agora a fase de lucros recorde para colocarem mais dinheiro de lado para eventuais riscos futuros (aliás, em outubro de 2024, haverá uma nova reserva de capital que vão ser obrigados a ter, relativa a riscos com o imobiliário). “É uma mensagem de prudência, achamos que os bancos, com a memória que têm, serão moderados na forma como farão a distribuição dos seus resultados, e farão as suas reservas”, defende.
Para Mário Centeno, os bancos têm de ter uma “prioridade": “a recuperação do seu valor”.
“Não devemos esperar que sejam os bancos a vir falar connosco”
Não haverá limites aos dividendos, tal como não houve nenhum impulso formal, apenas pedagógico, para que fossem subidos os juros dos depósitos ao longo do último ano.
O governador do Banco de Portugal, que acredita que as taxas de juro dos depósitos estão já alinhadas com os juros de mercado, considera que cabe aos portugueses procurarem melhores condições para os seus depósitos a prazo, e fez mesmo um apelo nesse sentido.
Centeno frisou que “há uma enorme inércia e pouca ação do lado dos depositantes na renovação das condições dos seus depósitos”. Daí que tenha deixado um “apelo para que haja uma atuação mais efetiva”, porque, sublinha, do lado dos bancos, “as ofertas existem”. Há alguma procura, já, mas tem de ser maior.
“Devemos ser muito ativos na procura de melhores condições. A boa notícia é que o grau de concorrência da banca em Portugal é elevado, porque o número de transferências de créditos entre bancos é muito significativo, e porque os depositantes têm atuado de forma muito ativa, mas ainda há margem para melhoria nestas duas dimensões. Existe uma oferta muito diversificada na banca e acessível a toda a gente”, frisou o governador.
“Não devemos esperar que sejam os bancos a vir falar connosco. Eu não espero que essa seja a maior das atividades que os bancos têm”, concretizou Centeno.
Clara Raposo sublinhou ainda que “as pessoas estão mais conscientes de que os bancos estão a alterar condições; é olhar para a oferta dos diferentes bancos e os bancos fazerem-no de forma responsável também”.