S&P sobe 'rating' do BCP, melhora perspetiva sobre Santander em Portugal e vê menos risco na banca nacional
NUNO BOTELHO
Apesar de ver uma banca portuguesa menos arriscada, a agência americana Standard & Poor’s admite um agravamento do crédito malparado, sobretudo em famílias mais vulneráveis e PME. Mas há otimismo para o sector bancário
A agência de avaliação do risco de dívida Standard & Poor’s melhorou a classificação atribuída ao BCP e acredita que, no futuro, também a do Santander em Portugal irá subir. São consequências da melhoria da perspetiva sobre a dívida de Portugal no sector bancário – que a agência acredita que vai continuar a apresentar bons resultados.
“A rentabilidade da banca vai continuar a melhorar, e a aproximar-se ainda mais do custo de capital. Esperamos que a subida das taxas de juro continue a beneficiar o sistema bancário português por mais 12 meses, embora controlar a subida de remuneração nos depósitos possa revelar-se desafiante, em especial em 2024”, indica o comunicado que foi emitido pela S&P esta terça-feira, 12 de setembro.
Ajudados pela subida dos juros, agravando a taxa dos créditos sem que subissem a remuneração nos depósitos, os bancos tiveram já um primeiro semestre de muitos lucros (os principais bancos registaram uma subida dos resultados de 60%), e a tendência de melhoria deverá continuar nos últimos seis meses do ano; ainda assim, o ritmo deverá ser mais lento, já que terão de melhorar a remuneração dos depósitos.
Mas a S&P está otimista e considera que a inflação não vai estragar a eficiência dos bancos, que continuarão a ter custos a representar menos de metade dos proveitos.
Pedro Castro e Almeida, do Santander
José Fernandes
Malparado contido para bancos
Haverá algum impacto no crédito devido ao novo enquadramento de juros mais altos (os próprios bancos já subiram as imparidades), mas a perspetiva de subida do crédito malparado não assusta a agência americana. “Deverá ser contida e gerida pelos bancos portugueses”, aponta o relatório assinado por Miriam Fernandez.
A expectativa é que o crédito malparado suba de 4,4% da carteira total de crédito, em março, para valores entre 5,2% e 5,8% até 2024. “Esperamos que estas questões possam ser mais significativas para algumas PME (pequenas e médias empresas) e famílias com rendimentos mais baixos e mais vulneráveis”, antecipa a S&P.
O preço das casas deverá moderar-se também, à boleia de uma menor procura por não residentes, mas essa descida de preços não deverá afetar a banca nacional.
Este é o otimismo que a S&P tem para Portugal (sobre a posição orçamental e externa), que levou a antecipar que o país poderá ver o seu rating subir no médio prazo (está em “BBB+”, o terceiro nível de classificação de risco, acima do investimento especulativo). Mas além de olhar para o sector a S&P decidiu também mexer em ratings específicos de bancos portugueses.
No caso do Santander Totta, a subida reflete precisamente essa subida da dívida soberana de Portugal “nos próximos 18 a 24 meses”, e, acontecendo, o banco presidido por Pedro Castro e Almeida também a sentirá. Por depender do Santander em Espanha, o Santander em Portugal tem tido tradicionalmente notações mais elevadas do que o restante sector.
No caso do BCP, a subida é mais simbólica. A S&P tirou a avaliação do banco do nível “lixo”, em que se encontrava (“BB+”), como, aliás, já se antecipava tendo em conta que a perspetiva era positiva desde abril. Agora, passa para “BBB-”. É uma melhoria de um nível, mas que retira dos degraus em que a classificação é considerada especulativa.
A decisão deve-se à melhoria da qualidade da dívida do BCP (um reconhecimento de que é capaz de reembolsar todas as dívidas a tempo), uma robustez conseguida “por geração interna de capital e por medidas extraordinárias”, falando, por exemplo, nas vendas de fundos de reestruturação, ou na alienação da seguradora que tinha na Polónia.
O BCP abandona, assim, o “lixo” na avaliação da S&P (ali estava desde finais de 2011, na altura da crise da dívida), sendo que a Moody’s tinha já tomado decisão idêntica no ano passado em relação à dívida de longo prazo do banco liderado por Miguel Maya. A DBRS também tem uma avaliação positiva, sendo que apenas a Fitch mantém a notação em terreno especulativo.
A função das agências de rating (mercado muito concentrado nas americanas S&P, Moody’s e Fitch) é medir a capacidade de crédito de várias entidades, de modo a dar indicações aos investidores de quais são os riscos em investir na sua dívida.