O Banco Montepio acordou a venda da licença bancária do seu Banco de Empresas Montepio (BEM). Vai ficar com os ativos e passivos, mas a licença vai ser alienada por cerca de 35 milhões de euros. O comprador é uma fintech (empresa tecnológica que presta serviços financeiros) de seu nome Rauva.
Num raro evento – desde que Pedro Leitão assumiu a presidência que a sua relação com a imprensa tem sido muito tímida –, o Banco Montepio fez esta sexta-feira, 8 de setembro, uma conferência para anunciar a operação.
O BEM foi criado a partir da licença atribuída ao Montepio Investimentos, que tinha sido assumida pelo Banco Montepio aquando da integração do Finibanco em 2010. Carlos Tavares, antigo presidente do Banco Montepio, quis dar essa força ao BEM em 2019, mas o seu sucessor, Pedro Leitão, apostou na simplificação da estrutura e voltou a querer eliminar essa autonomia.
Aliás, já se sabia que os ativos e os passivos do BEM estavam a ser transferidos para o Banco Montepio, juntamente com os trabalhadores que ali estavam alocados, mas a casa-mãe pretendeu fazer negócio com a licença bancária. Ou seja, fica com a estrutura, mas vende 100% das ações do BEM (cuja designação formal é Montepio Investimentos), que mantém a licença bancária - o que será adquirido pela Rauva.
A assinatura foi formalizada esta sexta-feira, mas não há prazo para quando a operação se concretizará. “O acordo foi formalizado com a assinatura de um contrato de compra e venda de ações, o que está sujeito, em especial, à verificação de determinadas condições precedentes necessária à conclusão da operação, incluindo a aprovação por parte das autoridades de supervisão e regulação”, segundo o comunicado da operação.
O Banco de Portugal e o Banco Central Europeu (BCE) têm de autorizar, tendo em conta a licença europeia existente.
Venda em torno de 35 milhões de euros
De acordo com o comunicado, “o valor de venda terá como referência um múltiplo de entre 1,15x e 1,18x dos capitais próprios do BEM à data da conclusão da operação, estimados em 30 milhões de euros”. Ou seja, a operação deverá ser em torno dos 35 milhões de euros.
O Banco Montepio não consegue, a esta altura, estimar qual o impacto positivo do recebimento deste dinheiro (que terá sempre de comparar-se com o valor intangível desta licença).
Mais uma herança Finibanco deixada para trás
Pedro Leitão, presidente do Banco Montepio, explica que o objetivo é simplificar: “O que pretendemos com esta operação é capturar todas as sinergias que estão presentes, desenvolvidas no BEM, e preservar e potenciar o que é a nossa proposta de valor integrada de banca comercial e de banca de empresas, que estamos a entregar”.
Concluindo-se a operação, esta é uma herança do Finibanco que é deixada para trás. Mais uma. O Finibanco foi adquirido em 2010 numa polémica operação pelo seu valor na altura, e que trouxe para o Montepio o Banco de Investimentos (que ficou esvaziado de funções até Carlos Tavares o querer revitalizar com a marca BEM) e o Finibanco Angola (que acabou por ser a razão de processos judiciais em que se viu envolvido).
Só este ano é que o Banco Montepio se libertou do Finibanco Angola, o mesmo ano em que chegou a acordo para deixar o BEM.
Fintech quer tornar-se banco
Já a compradora, a Rauva, é uma fintech (empresa tecnológica que presta serviços financeiros) criada em 2022, que só se submeteu a uma ronda de financiamento, e que está a operar no país, e que quer expandir a sua operação através da atribuição de uma licença bancária. Mais fácil do que pedir a nova constituição é adquirir uma licença já atribuída, como no caso do BEM.
O responsável da empresa, Jon Fath, explicou que “Portugal foi uma escolha lógica” porque “além de ser um país de empreendedores, está muito à frente em termos do que tem vindo a desenvolver”; um dos exemplos que deu é a fatura digital.
Neste momento, a Rauva é uma fintech, mas o objetivo é “fazer com que a Rauva seja um banco europeu” quando receber a autorização do BCE.
A maior parte da equipa da Rauva é composta por empreendedores, histórico que Fath acredita dar força à compreensão do segmento de mercado para que se destina; ainda que queira fazer a equipa crescer, indo buscar também recursos humanos ao espetro bancário.
Notícia atualizada com mais informações pelas 12h00
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