Sistema financeiro

Margem com juros do Novo Banco duplica e faz lucro crescer 40%

Margem com juros do Novo Banco duplica e faz lucro crescer  40%
ANTONIO PEDRO FERREIRA

Imparidades cresceram no Novo Banco e limitaram aumento ainda maior do resultado líquido no primeiro semestre, que alcançou os 372 milhões. É o melhor primeiro semestre de sempre, ajudado por uma fatura com impostos de apenas 1,6 milhões de euros

Margem com juros do Novo Banco duplica e faz lucro crescer  40%

Diogo Cavaleiro

Jornalista

O Novo Banco registou um crescimento de 40% do lucro no primeiro semestre do ano, à boleia da duplicação da margem financeira, ou seja, o ganho que obtém entre os juros cobrados no crédito e os juros pagos em depósitos. O resultado não foi ainda melhor porque o banco teve de aumentar o dinheiro colocado de lado para eventuais perdas em créditos.

O resultado líquido do banco presidido por Mark Bourke fixou-se em 372 milhões de euros entre janeiro e junho de 2023, o que representa um aumento de 40% face aos 267 milhões alcançados no mesmo semestre de 2022, segundo o comunicado enviado esta sexta-feira, 28 de julho, à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

A margem financeira duplicou para 524 milhões de euros, sendo este o motor dos lucros no primeiro semestre (o melhor primeiro semestre da vida do Novo Banco, que na próxima semana comemora nove anos). Um comportamento “impulsionado por uma carteira de crédito maioritariamente indexada à taxa de juro variável e pelo ambiente favorável das taxas de juro”, segundo explica o próprio banco.

A taxa média cobrada nos créditos era de 3,69% em junho, enquanto a taxa média dos depósitos se fixou nos 1,18% no mesmo período, dando um diferencial de 2,5 pontos percentuais: um valor mais elevado do que o objetivo de 2,2 pontos que o banco tinha para este ano.

Margem compensa aumento de custos e quebra de outras receitas

Nas restantes rubricas de proveitos, o desempenho já não foi tão positivo: os resultados de operações financeiras resvalaram 67%, penalizados pela comparação com as operações de venda de dívida pública realizadas no ano passado; o mesmo aconteceu com outros resultados de exploração, já que em 2022 tinha havido um ganho extraordinário com venda de imóveis; além disso, as comissões subiram apenas muito ligeiramente. Assim, o produto bancário – que agrega a margem e estas outras receitas – atingiu os 692 milhões no primeiro semestre, mais 21% que em igual período do ano passado.

Já “os custos operativos atingiram 225,1 milhões de euros, um aumento homólogo de 7,8%, reflexo da inflação e do continuado investimento na otimização e simplificação da organização”. Gastos operacionais e com pessoal deram esse contributo. “Em 30 de junho de 2023, o grupo Novobanco tinha 4132 colaboradores (dez/22: 4090; +42 colaboradores), e o mesmo número de balcões que em 31 de dezembro 2022 (292 balcões)”, adianta o banco herdeiro do BES.

Mais imparidades, menos impostos

No primeiro semestre, também as imparidades e provisões (dinheiro posto de lado para eventuais problemas com crédito ou outros ativos e responsabilidades) somaram 36% para os 56 milhões de euros. No comunicado, o banco não explica, mas tal diz respeito a receio de perdas tanto com crédito como com títulos.

Já uma parcela que não penalizou os resultados foi a fatura fiscal: se no primeiro semestre de 2022 o Novo Banco pagara 18,6 milhões em impostos, agora situou-se em 1,6 milhões. A ajudar estiveram os impostos diferidos, descontos na fatura que o banco pode utilizar para pagar menos. E assim fez.

O banco pagou ainda uma contribuição sobre o sector bancário de 34,2 milhões no início do ano, mas esse é basicamente o montante pago um ano antes.

Solidez melhora mesmo sem Fundo de Resolução

A nível de negócio, a carteira de crédito do Novo Banco cresceu 1% em termos brutos face a junho, alcançando os 25,8 mil milhões de euros. Caiu ligeiramente o crédito a empresas, mas os empréstimos a particulares (tanto habitação como ao consumo) somaram terreno face ao primeiro semestre de 2022.

“Os créditos não produtivos (NPL) continuam a registar uma tendência de redução (-7,8% vs dez/22; -1,5% vs mar/23), situando-se em 1269 milhões de euros em jun/23”, explica o banco.

Já nos recursos dos clientes, o avanço foi de 3% para 35,7 mil milhões de euros, apesar do ligeiro recuo dos depósitos no semestre (ainda que já subindo no segundo trimestre).

Os principais rácios de capital do Novo Banco ganharam dois pontos e fixaram-se em 15,1%, sendo que o banco sublinha que estes podem ainda crescer já que “nenhum dos montantes não pagos pelo Fundo de Resolução ao abrigo do Mecanismo de Capitalização Contingente foi considerado no cálculo de capital regulamentar”. O banco tem processos nos tribunais judiciais e arbitrais em contraposição ao Fundo de Resolução porque considera que tem cerca de 500 milhões de euros a receber.


Notícia atualizada às 7h35 com mais informações

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