O montante concedido para compra de casa em 2022 em Portugal cresceu 6,8%, um ritmo acima dos níveis registados no período pré-pandemia, aponta o Banco de Portugal no seu relatório anual de acompanhamento do mercado de crédito, divulgado esta terça-feira.
No entanto, o mesmo relatório sublinha que este crescimento ficou “aquém do crescimento de 36,4% registado no ano anterior”, ou seja em 2021.
Segundo o Banco de Portugal, verificou-se um aumento substancial de reembolsos antecipados e uma subida das renegociações de crédito.
O número de reembolsos subiu 20,4%, para quase 142 mil, e o valor dessas operações atingiu os 6,6 mil milhões de euros, um crescimento de 15,1% face ao ano anterior.
No final de 2022 os bancos tinham em carteira “cerca de 1,5 milhões de contratos de crédito à habitação (mais 4,5% que no ano anterior), aos quais correspondia um saldo em dívida de 100,9 mil milhões de euros (mais 6,4%)”.
Dados do Banco de Portugal, liderado por Mário Centeno, dão nota de que “o montante de crédito à habitação concedido foi desacelerando ao longo dos trimestres, em comparação com os períodos homólogos do ano anterior” e que no último trimestre do ano se verificou mesmo um decréscimo de 14,2%, para o que contribuiu “o contexto de subida significativa das taxas de referência Euribor”.
Para se ter uma ideia, em média por mês “foram celebrados 9644 contratos de crédito à habitação (menos 0,7%), num montante total de crédito concedido de 1313 milhões de euros”, diz o relatório, acrescentando que “o montante médio por contrato de crédito à habitação foi de 136.143 euros, mais 7,5% do que em 2021”.
Ou seja, quer o número de contratos na carteira das instituições quer o saldo em dívida cresceram em 2022.
Atendendo às recomendações do Banco de Portugal, o prazo médio dos novos contratos diminuiu, passando de 32,9 para 31,8 anos. Contudo, nos contratos em carteira das instituições o prazo médio aumentou ligeiramente de 33,5 anos para 33,6 anos, provavelmente fruto das renegociações.
Montante renegociado ascendeu a 4,2 mil milhões de euros, mais 38,4%
O número de renegociações no crédito subiu 17,4% abrangendo 41.332 reestruturações, incluindo 39.417 contratos de crédito à habitação, o que envolveu “um montante total renegociado de aproximadamente 4,2 mil milhões de euros”. No que diz respeito ao montante renegociado o aumento foi de 38,4%, sublinha o Banco de Portugal.
O número de reembolsos antecipados por seu turno subiu 20,4%, para um total de 141.952 reembolsos antecipados em contratos de crédito à habitação, aos quais correspondeu um montante reembolsado de cerca de 6,6 mil milhões de euros, mais 15,1% do que no ano anterior.
Segundo o relatório divulgado esta terça-feira pelo Banco de Portugal, o aumento de reembolsos “foi mais acentuado na segunda metade do ano, num contexto de aumento das taxas de juro de referência e de início de um período da suspensão temporária da comissão por reembolso antecipado nos contratos de crédito para habitação própria permanente a taxa de variável”.
Taxas fixa e mista aumentam o seu peso
O Banco de Portugal indica ainda no seu relatório que “aumentou a importância das taxas mista e fixa, que representaram 19% dos novos contratos”.
No ano passado, “80,8% dos contratos de crédito à habitação foram celebrados a taxa variável, uma proporção inferior à de 2021”, que foi de 84,9%.
Apesar de a taxa variável ocupar ainda o lugar de destaque na maioria dos créditos concedidos, os contratos com taxa mista passaram de 10% em 2021 para 12,3% em 2022 e com taxa fixa passaram de 5,1% em 2021 para 6,4% em 2022.
E “o spread (comissão cobrada pelo banco) médio dos novos contratos com taxa variável voltou a diminuir ligeiramente, fixando-se em 1,09 pontos percentuais (1,14 em 2021)”.
Crédito com garantia hipotecária e ao consumo subiu 20,1%
Os valores concedidos para outros créditos hipotecários e ao consumo registou uma subida de 20,1% face a 2021.
O Banco de Portugal refere que “foram celebrados 17.174 novos contratos de crédito com garantia hipotecária que não tinham [como] finalidade [a] habitação (mais 16,2%, do que em 2021), aos quais correspondeu um montante de crédito concedido de 1,1 mil milhões de euros”.
Já o número de contratos de crédito aos consumidores subiu 11,5%, embora em valor o crescimento tenha sido de 15,6%.
“Em média, foram realizados 130.331 contratos de crédito aos consumidores por mês, aos quais corresponderam cerca de 632,7 milhões de euros”, refere o Banco de Portugal. Segundo o relatório, o montante de crédito concedido aumentou em todas as frentes, mas o crescimento foi mais expressivo no crédito pessoal (25,7%). Os contratos de crédito pessoal tiveram um montante médio de 7000 euros (6800 euros em 2021).
O custo médio dos contratos de crédito aos consumidores cresceu menos do que as taxas de juro de referência. “A TAEG média dos contratos de crédito aos consumidores situou-se em 11% no último trimestre de 2022, um aumento de 0,5 pontos percentuais em relação a igual período de 2021”, sublinha o relatório.
Intermediários reduzem peso no crédito aos consumidores
O relatório do Banco de Portugal também mostra que a importância da contratação através de intermediários de crédito diminuiu no crédito automóvel.
Os intermediários de crédito - entidades autorizadas pelo Banco de Portugal a facilitar a concessão de crédito com as sociedades financeiras - representaram 43,9% do montante de crédito aos consumidores concedido em 2022, uma redução face à proporção de 2021, ano em que representavam 46,9%.
Segundo o relatório do Banco de Portugal, “para a diminuição contribuiu não só a perda de importância deste canal de comercialização no crédito automóvel (de 86,1% do montante concedido em 2021 para 83,9% em 2022), como também a redução do peso do crédito automóvel no total do crédito aos consumidores”.