Sistema financeiro

Lucro do Santander em Portugal cresce 20% para €186 milhões, apesar de ter menos crédito e menos depósitos

Lucro do Santander em Portugal cresce 20% para €186 milhões, apesar de ter menos crédito e menos depósitos
TIAGO MIRANDA

Banco de capitais espanhóis melhorou o resultado líquido, muito graças à subida da taxa de juro. Ainda assim, a carteira de crédito recuou, em especial devido à evolução negativa dos empréstimos a empresas

O lucro que o Santander alcançou em Portugal cresceu 20% no primeiro trimestre deste ano, período em que atingiu os 185,9 milhões de euros. Nos primeiros três meses do ano, o banco viu reduzir-se a carteira de crédito em cerca de 2%, ao passo que os depósitos resvalaram 5%. Ainda assim, foi a diferença de juros pagos em créditos e depósitos que mais contribuiu para o resultado líquido.

As contas foram apresentadas em comunicado, com o banco a optar por não realizar nenhuma conferência de imprensa.

O grande contributo para o resultado é o efeito da subida de taxas de juro, que se reflete na margem financeira que, grosso modo, corresponde à diferença dos juros recebidos em créditos dos juros pagos em depósitos – e, como se sabe, os bancos refletiram logo a subida de juros nos créditos após o aumento das Euribor, mas demoraram a remunerar os depósitos.

A subida da margem financeira foi de 38,1%, que chegou aos 267,7 milhões de euros – no primeiro trimestre de 2022 nem chegava aos 200 milhões. Ainda assim, o banco lembra que “apesar da subida das taxas de juro, manteve-se um contexto concorrencial bastante competitivo, que continuou a pressionar em baixa os spreads de crédito”. As comissões subiram 2,2%.

Queda da carteira de crédito

No comunicado enviado às redações, Pedro Castro e Almeida, presidente executivo do Santander, surge citado a dizer que “o primeiro trimestre foi marcado pela subida das taxas de juro e pelo aumento da remuneração dos depósitos, que teve naturalmente impacto na nossa atividade”.

Ou seja, o banco, apesar de obter mais proveitos dos créditos concedidos, registou uma descida do volume de empréstimos que tem.

A carteira de crédito fixou-se nos 42,6 mil milhões de euros em março, uma quebra homóloga de 2,2%. Para a evolução conta o aumento de 1,8% do crédito a particulares (1,8% na habitação, 4,7% no consumo) - que o banco diz que não foi maior porque houve amortização de créditos -, e a descida de 7,2% no crédito a empresas. Curiosamente, o Santander Portugal lançou agora também uma campanha em que oferece, pelo período de dois anos, um spread promocional de 0,5%, de modo a captar clientes.

Segundo explica o banco, e no que diz respeito ao crédito a empresas, “à semelhança da dinâmica observada já no final de 2022, a redução reflete a conjugação de vários fatores, tais como um conjunto de vencimentos programados ao nível de empresas de maior dimensão, que dispõem também de maior liquidez, além dos impactos da envolvente económica, com a incerteza global e a subida das taxas de juro, e ainda a amortização de linhas com garantia do Estado criadas no período da pandemia”.

Nos créditos, o rácio de exposições problemáticas (conhecido pela sigla inglesa NPE e onde se encontra crédito malparado) recuou 0,2 pontos percentuais para 2,1% de toda a carteira.

TIAGO MIRANDA

Depósitos em queda

O que também caiu foi o volume de depósitos que o Santander tem. O banco terminou março passado com menos 4,9% de depósitos do que no fim de março de 2022, descendo aos 37 mil milhões de euros, sendo que a instituição não diz que tal comportamento se deve à reduzida remuneração destas aplicações, mas sim “em grande medida a amortização antecipada de crédito pelos clientes”.

De notar que o Governo decidiu um incentivo aos clientes para a amortização antecipada dos créditos com a proibição temporária da cobrança da comissão paga nesta operação pelo menos este ano.

Já nos recursos dos clientes fora de balanço (como fundos de investimento ou seguros), a quebra foi ainda mais intensa, de 8,4% do valor, devido às condições de mercado.

Ao todo, entre depósitos, fundos e seguros, os recursos de clientes do Santander cederam 5,5% para os 44,77 mil milhões de euros nos primeiros três meses deste ano.

Imparidades aumentam

O produto bancário – que soma todas as rubricas de proveitos de um banco, como a margem e as comissões – ascendeu 23% para 407,9 milhões de euros. Já os custos agravaram-se 5% para 127,6 milhões de euros, com o aumento de despesas com o pessoal, mas também as administrativas. O banco defende que tal se deve à inflação e à atualização salarial.

Ao contrário do ano passado, a rubrica de imparidades e provisões pesou nas contas, impedindo que o aumento dos lucros fosse ainda mais expressivo.

“A imparidade líquida de ativos financeiros ao custo amortizado ascendeu a -17 milhões de euros, que compara com -3 milhões no mesmo período do ano passado. O contexto económico alterou-se face ao observado no período homólogo, com taxas de juro e taxa de desemprego mais elevadas”, indica o comunicado.

Ana Botín, presidente executiva do Banco Santander
Eloy Alonso

Rácio de capital afunda com dividendos

O banco decidiu pagar dividendos relativos a 2022 e, com isso, os rácios de capital, que eram demasiado elevados, são agora muito mais baixos. O rácio mais exigente, o Common Equity Tier 1, passou de 21,3%, em março de 2022, para 13,5%, em março deste ano. Mesmo assim, continua bastante acima do mínimo de 8,344% exigido pelo supervisor bancário.

O grupo Santander, que apresentou as contas na terça-feira, registou um lucro de 2,57 mil milhões de euros no primeiro trimestre deste ano, o que corresponde a uma subida de 1,1% em relação ao mesmo período de 2022. Um comportamento que o grupo de Ana Botín justifica, em parte, com o imposto aplicado em Espanha.

O Santander está presente na Europa (Espanha, Reino Unido, Portugal, Polónia), que corresponde a 40% dos resultados, bem como América do Norte (EUA e México) e do Sul (Brasil, Argentina, China).

(Notícia atualizada com mais informações pelas 10h12)

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