O Banco Central Europeu (BCE) decidiu esta quinta-feira subir os juros de referência em 50 pontos-base (meio ponto percentual), não recuando do ritmo de aperto monetário que Christine Lagarde antecipara aquando da reunião de 2 de fevereiro. A taxa diretora principal subiu para 3,5% e a taxa de remuneração dos depósitos dos bancos comerciais no Eurosistema aumentou para 3%.
O aperto monetário na zona euro soma agora 350 pontos-base (3,5 pontos percentuais) desde o início das subidas de juros, em julho do ano passado. O comunicado da reunião não faz qualquer menção ao ritmo futuro nos juros.
Apesar dos episódios recentes de crise bancária nos Estados Unidos, envolvendo a falência de dois bancos, e na Europa. com o resgate pelo banco central helvético do Credit Suisse na madrugada desta quinta-feira, os banqueiros centrais do euro não cederam às pressões para abrandar ou mesmo fazer uma pausa no aperto monetário.
Nas novas previsões macroeconómicas avançadas esta quinta-feira, o BCE afasta o cenário de proximidade a uma estagnação na zona euro em 2023, apontando, agora, para um crescimento de 1%. Em dezembro passado, a previsão era de 0,5%. A equipa de Christine Lagarde afasta, assim, o contexto de estar a apertar a política monetária com uma economia a caminho de estagnação.
Com a subida geral de preços em fevereiro na zona euro ainda em 8,5% e a inflação subjacente (sem as componentes voláteis do índice) a subir para 5,6%, o BCE não arrisca abrandar ou travar prematuramente a pressão para um arrefecimento da economia na zona euro. O aperto feito pelo BCE ressente-se sobretudo na dívida das famílias, nas dificuldades de crédito nas empresas e na subida dos juros da dívida pública.
Nas novas previsões macroeconómicas apresentadas esta quinta-feira, os economistas do BCE continuam a considerar que a inflação na zona euro ainda estará acima de 2% em 2025. Avançam inclusive que, em 2023, a previsão para a inflação subjacente será superior à prevista na reunião de dezembro passado. Apontam, agora, para 4,6% em 2023 - a anterior previsão era de 4,2% - e ainda 2,2% em 2025. O BCE sublinha que “a inflação permanecerá demasiado alta por demasiado tempo”. O que exige manter a estratégia de aperto.
Mesmo com um derrocada bolsista na véspera, com o índice MSCI para a zona euro a afundar-se 5%, a maior queda diária desde o início do ano, e uma quinzena de bancos importantes da zona euro a verem perdas acima de 6% na quarta-feira, o BCE não recuou perante os episódios de crise financeira nem se sentiu pressionado pelas recomendações de economistas de destaque, como Vítor Constâncio, ex-vice presidente do BCE e ex-governador do Banco de Portugal.
Constâncio, em declarações na véspera da reunião, à Rádio Renascença, em Portugal, recomendou que a equipa de Lagarde desse um sinal de abrandamento, reduzindo a subida. “As consequências mais imediatas que eu tiraria, era sobre a política monetária. Aliás, já fiz hoje tweets nesse sentido, recomendando que, em vez de o BCE aumentar amanhã [quinta-feira] as taxas de juro em mais 50 pontos-base, ou seja 0,5, fizesse apenas quando muito metade: 0,25. Dava um sinal da atenção a este problema potencial” criado pela crise do Crédit Suisse.
A intervenção rápida das autoridades norte-americanas face à falência do Silicon Valley Bank e do Signature Bank, e o resgate do Crédit Suisse, acalmaram o pânico financeiro. A expetativa é que se trate de episódios isolados e não dos primeiros sinais de uma crise financeira.
“O Conselho do BCE está a acompanhar de perto as atuais tensões no mercado e está preparado para responder conforme necessário, no sentido de preservar a estabilidade de preços e a estabilidade financeira na área do euro. O setor bancário da área do euro é resiliente, apresentando posições de capital e liquidez fortes. Em todo o caso, o conjunto de instrumentos de política monetária do BCE permite inteiramente proporcionar, se necessário, apoio em termos de liquidez ao sistema financeiro da área do euro e preservar a transmissão regular da política monetária”, refere o comunicado da reunião.
O BCE parece distanciar-se quer da estratégia de pausa seguida pelo Banco central da Noruega desde dezembro passado e do Banco do Canadá desde janeiro deste ano quer do ritmo moderado de apenas 25 pontos-base (um quarto de ponto percentual) de aumento dos juros adotado pelo Banco da Reserva da Austrália a 7 de março. Os mercados esperam, também, que a Reserva Federal dos Estados Unidos (Fed) opte, novamente, por uma subida de 25 pontos-base na reunião de 22 de março. A probabilidade deste aumento moderado é de 69% segundo os futuros das taxas acompanhados pela Fed Watch Tool do portal CME.
O balanço do BCE reduziu-se em 10 mil milhões de euros entre 24 de fevereiro e 10 de março, segundo os dados publicados esta quinta-feira. Caiu de 7839,4 para 7829,4 mil milhões de euros. No ativo, a carteira de títulos adquiridos ao abrigo dos programas de política monetária expansionista - entretanto desativados - emagreceu 6,5 mil milhões de euros. No lado do passivo, os bancos comerciais aumentaram o valor dos depósitos no BCE de 4112 para 4158,3 mil milhões de euros.
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