Média

O que significa o triunfo do filho mais velho na luta pela sucessão do império Murdoch? “Mais uma geração de propaganda fascista”

Rupert Murdoch (à direita na imagem) quis favorecer o filho Lachlan na sucessão que se abrirá após a sua morte
Rupert Murdoch (à direita na imagem) quis favorecer o filho Lachlan na sucessão que se abrirá após a sua morte
Jean Catuffe/GC Images/Getty Images

Vitória de Lachlan na “Succession” dos Murdoch “consolida e prolonga a influência da direita na esfera mediática” da família, garante Margaret Sullivan, antiga provedora do leitor do The New York Times

O triunfo de Lachlan Murdoch na “Succession” da vida real – que serviu de inspiração à série da HBO – pouco vai mudar na prática da gestão diária do império de media que o herdeiro já liderava, mas “consolida e prolonga a influência da direita na esfera mediática de Murdoch”, diz Margaret Sullivan que foi provedora do leitor do jornal The New York Times e redatora de comunicação do The Washington Post, citada na edição deste domingo do El Pais.

Com Lachlan, o grupo que junta os jornais The Wall Street Journal, The Times e The Sun, e o canal de notícias conservador Fox News, estratégico para a presidência de Donald Trump nos Estados Unidos, plataformas audovisuais, jornais e outros meios de comunicação australianos, ingleses e norte-americanos, mantém a orientação conservadora que tem seguido. E assim, alerta o analista Jeff Jarvis, a sua vitória “condena os Estados Unidos e o mundo de língua inglesa a mais uma geração de propaganda fascista no meio de uma campanha bem sucedida para destruir as instituições democráticas”.

Pai e filho tinham procurado assegurar isto mesmo, com a passagem de testemunho a Lachlan de forma a blindar a linha editorial dos meios de comunicação que formam parte da multinacional construída ao longo de 71 anos, a partir do modesto jornal The News, de Adelaide, na Austrália.

Afastar irmãos de cena

A guerra pela mudança de controlo do grupo vem de longe, mas acentuou-se depois do magnata australiano Rupert Murdoch, hoje com 94 anos, decidir abandonar a presidência da News Corp e da Fox e mudar os termos da sociedade familiar para garantir que o filho mais velho, Lachlan Murdoch, passasse a mandar em tudo, afastando os irmãos de cena.

Descontentes, os irmãos Prudence, Elizabeth e James, conhecidos por terem vozes mais à esquerda, dizem uns, ou por serem “mais moderados politicamente”, de acordo com o El País, foram a tribunal contestar as intenções do pai e de Lachlan, numa disputa que coincidiu com o apoio de James à democrata Kamala Harris contra Trump nas presidenciais americanas.

lachlan Murdoch

E, apesar dos esforços da operação “Projeto Harmonia Familiar”, nome escolhido pelo patriarca para o plano de deserdar os filhos de qualquer poder executivo, conseguiram uma sentença favorável em dezembro último, quando a justiça norte-americana arrasou os argumentos de Lachlan e de Rupert para alterar os pressupostos da sociedade familiar.

Para um tribunal do Nevada, pai e filho terão agido de má-fé ao tentarem reformular as regras da sucessão familiar, noticiou, então o The New York Times.

Da vitória em tribunal ao acordo de 937 milhões

Assim, quando as partes iniciaram negociações, pouco tempo depois, a vantagem estava do lado dos irmãos. No entanto, na passada segunda-feira, precisamente no dia em que Lachlan celebrou o seu 54º aniversário, a família anunciou ter chegado a acordo sobre a sucessão: Lachlan triunfa na liderança do império de media construído pelo pai e compra as participações dos três irmãos, pagando 1,1 mil milhões de dólares (€937 milhões) a cada um deles para se afastarem. As irmãs Grace e Chloe, filhas da terceira mulher de Rupert Murdoch, receberão também a sua parte quando fizeram 30 anos.

Paddy Manning, autor de The Successor, a primeira biografia de Lachlan, nota que o herdeiro acaba, assim, a comprar as posições dos irmãos tal como o pai fez, com os seus irmãos, nos anos 90.

Avesso a entrevistas, apesar de liderar um império de media, Lachlan manterá assim forte influência na política norte-americana, como provou a escolha da Fox para Trump anunciar em direto a captura do principal suspeito do assassinato de Charlie Kirk, na última sexta-feira, mas à distância, desde a Austrália, onde vive.

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