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Trabalhadores da Visão, Exame, Caras e outras revistas ameaçam deixar de trabalhar a partir de 7 de fevereiro

Trabalhadores da Visão, Exame, Caras e outras revistas ameaçam deixar de trabalhar a partir de 7 de fevereiro
Nuno Botelho

Se até sexta-feira da próxima semana não receberem o salário e o subsídio de refeição de janeiro os trabalhadores da Trust in News vão parar

Trabalhadores da Visão, Exame, Caras e outras revistas ameaçam deixar de trabalhar a partir de 7 de fevereiro

Pedro Lima

Editor-adjunto de Economia

Os meios de comunicação social da Trust in News, que detém as revistas Visão, Exame e Caras, entre outras, correm o risco de não ser publicados a meio de fevereiro caso os trabalhadores não recebam o salário e o subsídio de refeições de janeiro.

Esta sexta-feira, os trabalhadores estiveram reunidos em plenário e aprovaram por larga maioria uma resolução segundo a qual deixarão de trabalhar a partir de 7 de fevereiro se não receberem o salário e o subsídio: “Se o pagamento do salário e subsídio de refeição de janeiro não se concretizar até ao próximo dia 7 de fevereiro, os trabalhadores reservam para si o direito de tomarem a decisão que entenderem para não continuarem a trabalhar, nomeadamente a de iniciarem, nesse mesmo dia, o procedimento formal com vista à suspensão, rescisão com justa causa, cessação por acordo dos seus contratos de trabalhos ou à realização de uma greve”.

A meio de dezembro o grupo tinha 137 trabalhadores mas entretanto alguns já negociaram a sua saída.

Esta posição surge na sequência da realização da assembleia de credores da TIN na quarta-feira onde a maioria dos credores optou pela continuidade da empresa, condicionada à aprovação de um plano de recuperação que será apresentado pelo proprietário da TIN, Luís Delgado, no prazo de 30 dias. Será depois convocada uma nova assembleia para votar esse plano cujos contornos gerais já são conhecidos: Delgado quer suspender ou vender alguns títulos, apostar nos mais rentáveis e reestruturar as dívidas.

No início da semana 66 trabalhadores da TIN tinham decidido em plenário propor aos credores a liquidação da empresa mediante os esforços para vender alguns dos seus títulos mas os credores, em especial os que representam o Estado e têm a maioria dos créditos – Autoridade Tributária e Aduaneira (AT) e Segurança Social – decidiram dar uma segunda oportunidade a Luís Delgado.

O proprietário da TIN tinha garantido que até à assembleia de credores iria proceder a uma injeção de capital de pelo menos 300 mil euros que permitisse pagar os impostos e os salários referentes ao período a partir do qual a empresa foi declarada insolvente, o que aconteceu no início de dezembro. Mas acabou por não o fazer. Na quarta-feira, durante a assembleia, garantiu no entanto que essa injeção irá mesmo acontecer.

Faltava pagar 80% do salário de dezembro, o que foi concretizado esta sexta-feira, 31 de janeiro, com um mês de atraso, mas o de janeiro já está em falta, assim como os salários de outros meses de 2024.

Na resolução aprovada neste plenário, os trabalhadores dizem que “manifestam a sua perplexidade face ao decidido na Assembleia de Credores do passado dia 29 que pressupõe a continuidade da empresa sem garantias de pagamento aos trabalhadores, quando estes continuam a ter o equivalente a cinco salários em atraso. Até à insolvência, ficaram por pagar uma parte dos salários de outubro, os salários de novembro, o subsídio de férias, a quase totalidade do subsídio de Natal e os últimos seis subsídios de refeição, em falta desde junho de 2024. O salário de dezembro só ficou pago na totalidade a 31 de janeiro”.

Aproveitaram também para denunciar “os sistemáticos incumprimentos da palavra do acionista único, Luís Delgado, que anunciou várias injeções de capital que nunca foram realizadas, a última das quais perante os trabalhadores, credores e a juíza do Tribunal de Comércio, a ser cumprida, na sua tranche inicial, durante a primeira semana de fevereiro”.

E por isso, “face ao atual cenário laboral, exigem ao administrador de insolvência, André Pais, e ao acionista único, Luís Delgado, o pagamento total do salário de janeiro, incluindo o subsídio de refeição”, até 7 de fevereiro. Se tal não acontecer, deixam de trabalhar.

TIN é um “inferno”

Na passada quarta-feira, em face da decisão dos credores de aprovar a continuidade da empresa até à votação do plano de recuperação, o representante da Comissão de Trabalhadores da TIN, Rui da Rocha Ferreira, disse que "não é concebível que se aprovem coisas com base em promessas", lembrando que os trabalhadores tinham o "equivalente a seis salários em falta". O jornalista disse também que "os trabalhadores não têm confiança na administração" e que a vida na empresa se tinha tornado um “inferno”.

Embora tenham dado uma segunda oportunidade a Luís Delgado, os credores recusaram que ele voltasse a gerir a empresa. E por isso a gestão manteve-se nas mãos do administrador judicial, mas apenas por mais cinco dias, enquanto não são contabilizados os votos relativos ao salário do mesmo. André Pais condicionou a sua manutenção à frente dos destinos da TIN ao pagamento de 8000 euros por mês e à escusa de responsabilidade. Se se confirmar que os credores estão contra estas condições terá de ser nomeado um novo administrador judicial.

Entretanto o Sindicato dos Jornalistas exigiu que a "regularização dos salários na Trust in News seja feita o quanto antes", considerando a situação "absolutamente inadmissível e insustentável". Lembrou que os trabalhadores "continuam a garantir a publicação de jornais e revistas com o equivalente a seis salários em atraso", mas rejeita qualquer proposta de reestruturação "que implique a destruição de ainda mais postos de trabalho".

O sindicato lembra ainda que "Luís Delgado se tinha comprometido com o administrador de insolvência a fazer uma injeção de capital para garantir o pagamento dos salários [...] antes da assembleia de credores", algo que "não cumpriu, mas mesmo assim recebeu uma benesse estatal para tentar manter-se à frente da TiN".

Além da Visão, da Exame e da Caras, a TIN detém ainda o Jornal de Letras, Exame Informática, Visão História, Activa, TV Mais, Visão Júnior, Telenovelas, Caras Decoração, Visão Saúde, Visão Biografia, Visão Surf, This is Portugal, Prima e Courrier Internacional (este no âmbito de um acordo internacional, sendo que a publicação foi suspensa no início do ano passado devido ao não pagamento dos direitos).

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