Indústria

Na Alemanha com um olho no Mar Vermelho: empresários têxteis queixam-se de "subida de preços" e "atrasos nas entregas"

Os ataques hutis no Mar Vermelho já estão a mexer com a indústria portuguesa. “Saímos de um problema e aparece logo outro”, repetem os empresários presentes na Heimtextil, em Frankurt

“Há contentores de fio importado da Ásia que deviam chegar em janeiro e já só vêm em fevereiro. E, se quisermos fazer uma encomenda hoje, sabemos que vamos pagar mais do que da última vez”. Fátima Antunes, administradora da Lasa, resume assim a mais recente “dor de cabeça” da indústria têxtil portuguesa, preocupada com o impacto dos ataques hutis no Mar Vermelho no ritmo de trabalho e nos custos logísticos.

Em Frankfurt, onde 65 empresas portuguesas se apresentam esta semana, entre terça e sexta-feira, na Heimtextil, a maior feira de têxteis-lar do mundo, a administradora da Lasa, com 600 trabalhadores e vendas anuais na ordem dos €60 milhões, mais de 90% dos quais no mercado externo, nota que depois de “um ano de 2023 difícil, esta é uma nova e inesperada preocupação que vem dificultar o ritmo de trabalho, até porque é cada vez mais complicado fazer stocks grandes”.

Depois da subida geral de custos – da logística às matérias-primas e energia - provocada pela disrupção das cadeias logísticas durante a pandemia, mas também pela invasão da Ucrânia pela Rússia, “tudo parecia apontar para a normalização dos preços. Mas quando as matérias-primas começam a descer, surge um novo fator de stress no que respeita ao agravamento dos preços e aos timings de entrega provocado pelo desvio de navios mercantes do Canal do Suez para a Rota do Cabo na ligação entre a Europa e a Ásia”, sublinha Amadeu Fernandes, da J. Pereira Fernandes, fundada pelo seu pai, em 1933, em Pevidém, Guimarães, e da Anit-Lar Associação Nacional das Indústrias de Têxteis-Lar.

É cada vez mais difícil fazer previsões

E stand a stand, a preocupação relativamente ao impacto dos ataques dos hutis, um grupo rebelde do Iémen, apoiado pelo Irão que tomou posição contra Israel na sequência do ataque à Faixa de Gaza, repete-se e justifica as “dificuldades em fazer previsões para 2024”. A única certeza é que se o custo dos frentes marítimos provenientes da Ásia duplicou desde o natal, isso paga-se nas fábricas e acabará por chegar ao consumidor final.

“Fechamos o ano com boas perspetivas, mas as coisas arrefecem numa semana. As matérias-primas, por exemplo, apresentavam uma tendência de descida, mas estamos a enfrentar uma nova subida dos custos devido à dificuldade de transporte no Mar Vermelho. As rotas são desviadas e o tempo de transporte aumenta, o que significa mais custos e alguns atrasos”, nota, também, Ana Vaz Pinheiro, da Mundotêxtil, a maior empresa de felpos da Europa, com 560 trabalhadores e vendas de €40 milhões.

O empresário Joaquim Almeida, da J.F. Almeida, de Guimarães, reconhece que “os atrasos na entrega de matéria-prima, em especial da Índia, já são no mínimo de três semanas e o preço dos fretes está a disparar”. “O que se passa no Mar Vermelho já está a mexer com a nossa indústria”, afirma antes de deixar um desabafo: “Saímos de um problema e aparece logo outro”.

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