Depois de “um mês de abril angustiante, com as exportações de têxteis e vestuário a caírem 16% em valor e 21% em quantidade, maio trouxe uma melhoria ligeira”, com as quebras homólogas a ficarem nos 6% e 9%, respetivamente, face ao mesmo mês do ano passado, diz ao Expresso Mário Jorge Machado, presidente da associação sectorial ATP.
“Em valor, temos tido oscilações mensais ao longo do ano (-16,4%/+4,9%), com subidas em janeiro e março e quebras em fevereiro, abril e maio, mas a quantidade tem tido sempre quebras homólogas (-3,2%/-20,7%)”, nota o presidente da ATP, quando comenta os dados do sector relativos aos primeiros cinco meses de 2023, um período que fechou com exportações de 218 mil toneladas (-11%) e 2,53 mil milhões de euros (-3% ou 80 milhões de euros).
Mas se há uma quebra “ela não reflete um problema específico da indústria portuguesa. É o retalho mundial que coloca as exportações têxteis no vermelho, devido ao abrandamento do consumo por efeito da inflação, da guerra, das taxas de juro”, comenta Mário Jorge Machado, sublinhando que “em países como a China, Índia, Paquistão ou Marrocos a tendência também é de baixa”.
Por destinos, os destaques pela positiva são Espanha, com um crescimento de 2% ou 3 milhões de euros, e Marrocos, a subir 70% ou 2,8 milhões. Em sentido contrário, os EUA protagonizaram a maior quebra absoluta em valor (-13,6 milhões ou -30%), seguidos de Itália (-6,2 milhões ou -14%) e França (-4,4 milhões ou -5%).
O factor inflação
Na análise dos dados relativos às exportações nos primeiros cinco meses de 2023, o presidente da ATP considera que “em Espanha há menos compras de grandes marcas, mas há marcas mais pequenas, de segmento mais elevado, que estão a procurar cada vez mais Portugal porque querem uma produção de proximidade”.
No entanto, o que explica a diferença da descida mais suave em valor do que em quantidade “é mesmo a inflação”, garante.
“Apesar de o efeito da subida de preços já estar a ser atenuado na energia, nas matérias-primas e nos produtos químicos, a inflação continua a refletir-se nos preços. E temos os custos de mão-de-obra também a pressionar em alta”, afirma.
Ter um mês de maio “melhor do que foi o de abril é sempre um ponto positivo”, admite. No entanto, diz, “todos os comentários que chegam das grandes empresas do sector indicam abrandamento. Junho também terá sido um mês negativo”, sublinha.
Sobre o desempenho da fileira, deixa ainda uma nota sobre o facto das exportações de vestuário em tecido terem aumentado 11% em valor e 12% em quantidade, “indicando que a compra de vestuário mais formal, para trabalhar e para eventos, está a crescer depois da quebra imposta pela pandemia”.
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