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Impasse laboral agita Autoeuropa

Foto: Autoeuropa
Foto: Autoeuropa

Trabalhadores queixam-se de excesso de trabalho e exigem medidas compensadoras

Impasse laboral agita Autoeuropa

Vítor Andrade

Coordenador de Economia

Os trabalhadores e a direção da empresa estão em rota de colisão no que diz respeito à forma como está a ser gerida a carga de trabalho na fábrica da Autoeuropa, em Palmela. E denunciam demasiadas horas de trabalho, sem tempo para folgas e, por vezes, nem para gozar férias marcadas com muita antecedência. Resultado: “A produção ainda não se ressentiu mas as pessoas sim, com cada vez mais baixas por doença e a muito absentismo à mistura”, adianta ao Expresso uma fonte próxima dos trabalhadores.

O primeiro sinal foi dado no início de maio, com os trabalhadores a denunciarem uma espécie de “fúria cega” da administração para aumentar a produtividade. A Comissão de Trabalhadores (CT) da Autoeuropa exigia, então, “uma solução imediata” para os problemas diários sentidos na fábrica, nomeadamente, devido à falta de pessoas.

Necessidade de mais contratações

Passado um mês, a situação não só não melhorou como o nível de confrontação com a gestão subiu de tom, com a CT a darem duas semanas para que se chegue a uma solução. Solução essa que passará, invariavelmente, por mais contratações para se fazer face ao aumento da carga de trabalho de que se queixam os trabalhadores.

A última cartada foi o anúncio, pela CT, de que estão previstos plenários para os dias 22 e 23 de junho para discutir respostas da administração. Em simultâneo, os representantes dos trabalhadores enviaram uma carta aberta à direção da empresa a exigir que, até meados de junho, sejam tomadas “medidas efetivas e objetivas para que, de uma vez por todas, os trabalhadores deixem de trabalhar em condições desgastantes e penosas”.

Terminado aquele prazo, realizar-se-ão dois plenários “para discutir com os trabalhadores o que foi alcançado acerca da carga de trabalho”.

Carta aberta à administração

Na carta aberta enviada pela CT à administração da Autoeuropa os trabalhadores exigem respostas, por escrito, em relação a vários temas, desde a questão do absentismo, que, segundo a CT, está a criar problemas de gestão de equipas “com implicações na saúde e vida pessoal dos seus trabalhadores”, até à questão da cargas de trabalho. Neste caso, os representantes dos trabalhadores consideram que tem havido “uma resposta insuficiente”, por parte da empresa.

“Face ao aumento anunciado do volume diário de produção e à ausência de respostas às cargas de trabalho que se fazem sentir (...), a ‘fúria cega’ existente na Autoeuropa pelo aumento dos índices de produtividade não pode, nem deve, ser feita à custa dos direitos e da saúde dos trabalhadores, ainda para mais quando se marcam downdays [dias de paragem na produção] por falta de peças”, como aconteceu, por exemplo, este fim de semana, conclui a CT.

Os representantes dos trabalhadores temem que a situação possa piorar porque a empresa se prepara para aumentar a produção diária — que atualmente está nos 900 carros.

Rogério Nogueira, coordenador da CT, adiantou ao Expresso que “estão reunidas as condições para que a administração possa dar uma resposta cabal a este problema”. E sublinha ainda: “Estamos a fazer pressão a todos os níveis e já fomos contactados para algumas reuniões, por parte da gestão da empresa.” Por outro lado, aquele dirigente nota que “os nossos parceiros da casa-mãe do grupo Volkswagen, em Wolfsburg, na Alemanha, também estão a par das nossas inquietações e estão solidários connosco”.

O Expresso contactou a administração da Autoeuropa que não quis fazer comentários. No entanto, foi possível apurar que deverá estar por dias uma reação oficial da gestão da Autoeuropa ao ultimato dos trabalhadores. Aliás, essa reação até pode ter acontecido já depois do fecho desta edição.

12 mil encomendas adicionais para o T-Roc

O que se passa é que, devido ao sucesso comercial que continua a ser nos mercados internacionais o modelo ali produzido — Volkswagen T-Roc —, a fábrica de Palmela acaba de receber uma encomenda adicional de 12 mil unidades, que somam às cerca de 224 mil previstas inicialmente para este ano.

Isto, apesar das quatro/cinco paragens que a fábrica já se viu obrigada a fazer desde o início do ano, por falta de componentes automóveis, devido à rutura sentida no mercado, originada pela guerra na Ucrânia, e da qual ainda não recuperou.

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