A fileira do pinho fechou 2022 com um valor recorde de 2,7 mil milhões de euros nas exportações. É um crescimento de 28% face ao ano anterior, “representa cerca 1,2% do PIB” e é “revelador do excelente momento da indústria bem como a sua capacidade de inovação e de inserção no mercado mundial”, sublinha o economista João Ferreira do Amaral, enquanto Rui Correia, presidente executivo da Sonae Arauco, nota que estes números também refletem o impacto da inflação.
Com base nas estatísticas do INE, o Centro Pinus - Associação para a Valorização da Floresta de Pinho, conclui, em comunicado, que o registo de 2022 supera em 581 mil milhões de euros o recorde de 2021 e quase duplica o valor exportado 10 anos antes.
Evolução das exportações da fileira na última década
“É um aumento especialmente significativo por se seguir a um crescimento já muito elevado (25%) em 2021”, comenta João Ferreira do Amaral, também professor do Instituto Superior de Economia e Gestão, considerando que “a capacidade da indústria fica assim amplamente demonstrada” e “torna-se cada vez mais urgente uma política efetiva e continuada de desenvolvimento florestal, em particular do pinheiro bravo, para que as limitações da produção de matéria-prima não ponham em causa o dinamismo do sector”.
O salto dado pela fileira acompanha o crescimento de 23% de exportações nacionais de bens e o desempenho das exportações nacionais das restantes indústrias florestais, que também aumentaram 28% num ano. Feitas as contas, o Centro Pinus conclui que o sector garantiu, no ano passado, 3,4% das exportações nacionais e 37% das exportações das indústrias da fileira florestal.
Protagonismo ao mobiliário
“Estamos bastante satisfeitos com a evolução crescente das exportações na fileira do pinho e com um maior reconhecimento externo dos produtos de alto valor acrescentado produzidos em Portugal. Os números afirmam a capacidade de adaptação e a resiliência das empresas deste setor”, diz João Gonçalves, presidente do Centro Pinus, numa reação a estes indicadores de uma fileira “multifacetada e atrativa para os mercados externos”.
No conjunto do universo do pinho, o subsetor do mobiliário destaca-se como o mais exportador, com um recorde de 933 milhões de euros (+26%). Os subsectores do papel e embalagem” e dos painéis somaram 586 milhões de euros e 240 milhões de euros, respetivamente, o que representa aumentos de 24% nos dois casos face a 2021. Quando à madeira, fechou o ano com exportações de 522 milhões de euros (+18%).
Exportações da fileira do pinho por subsectores
Mas nestes números é preciso ver, também, o impacto da inflação, como nota Rui Correia, presidente executivo da Sonae Arauco, que é uma das associadas do Centro Pinus: “O aumento das exportações em valor é muito expressivo, mas, em volume, alguns subsetores devem ter estagnado ou caído, nomeadamente os painéis de madeira (madeira, resinas, energia). Isso reflete o impacto do aumento do custo das matérias primas a que assistimos em 2022, especialmente depois da invasão da Ucrânia pela Rússia”, analisa.
A questão dos pellets
E deixa mais uma nota de preocupação, alertando para o facto de os pellets, “o subsetor que mais cresceu em Portugal, ser o que menos mão de obra cria e menos valor acrescenta à economia portuguesa, sendo também o que é ambientalmente menos sustentável – já que mais rapidamente liberta para a atmosfera o CO2 retido na madeira, durante o crescimento das árvores”.
Em números, os pellets continuam a ser o subsetor com menos impacto nas exportações da fileira, mas foram o segmento que mais cresceu em 2022 (59%), totalizando mais de 108 milhões de euros de vendas ao exterior, puxados pelo contexto de disrupção do setor energético provocado pela guerra na Ucrânia.
Já a resina cresceu 19%, com vendas ao exterior no valor de 201 milhões de euros e, diz Marco Ribeiro, presidente da Resipinus - Associação de Destiladores e Exploradores de Resina, “há razões para olharmos para estes números com otimismo, até pelo aumento da procura de produtos naturais e sustentáveis em todo o mundo”.
“Além disso, ao integrar a resina natural no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), Portugal mostra a sua crença no setor e incentiva a produção e a exportação de produtos florestais, incluindo a resina natural, como parte de sua estratégia de desenvolvimento sustentável”, conclui.
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