Fenómeno Labubu já não basta: ações da chinesa Pop Mart sofrem a maior queda desde abril
VCG
As ações da Pop Mart chegaram a cair quase 9% esta segunda-feira, a maior queda desde abril, com o arrefecimento do fenómeno Labubu a agravar-se após um corte de recomendação do JPMorgan
O entusiasmo em torno dos brinquedos Labubu parece estar a diminuir. Esta segunda-feira, a Pop Mart, fabricante chinesa de brinquedos colecionáveis que ganhou notoriedade com estes “pequenos monstros” de peluche e vinil, viu as suas ações caírem quase 9% durante a sessão de bolsa em Hong Kong. Segundo o Financial Times, esta foi a maior descida intradiária desde o anúncio das tarifas norte-americanas, no chamado “Dia da Libertação”, em abril.
Durante a sessão as ações da Pop Mart acabaram por recuperar parcialmente da queda, fechando esta segunda-feira com uma desvalorização de 6,4%.
Esta queda deve-se, em parte, ao facto de o norte-americano JPMorgan, um dos maiores bancos de investimento do mundo, ter revisto em baixa a avaliação da empresa, deixando de aconselhar a compra das ações e passando a considerar que o desempenho da Pop Mart deverá ser apenas mediano, em linha com o mercado.
Os analistas do JPMorgan citados pela Bloomberg sublinham que as ações da Pop Mart estão a ser negociadas a cerca de 23 vezes os lucros previstos para os próximos 12 meses. Na prática, trata-se de um preço considerado elevado face ao que a empresa deverá gerar em resultados, deixando a ação mais exposta a qualquer sinal de abrandamento.
O sucesso dos Labubu
Em 2015, o ilustrador Kasing Lung lançou três livros infantis ilustrados inspirados na mitologia nórdica, onde apresentou ao mundo um conjunto de personagens a que chamou “The Monsters”. Entre elas estava o Labubu, um pequeno monstro com orelhas altas e pontiagudas e dentes serrilhados, que acabou por conquistar o coração de celebridades como Lisa, do grupo de K-Pop BlackPink, ou a cantora Rihanna.
Cantora Mariah Carey com um Labubu, num evento da MTV, em setembro deste ano
Kevin Mazur
Rapidamente, com o impulso das redes sociais, em especial do TikTok, o interesse por este peluche começou a aumentar significativamente. Segundo um artigo publicado na Harvard Business Review, em julho deste ano, a Pop Mart soube aproveitar esse entusiasmo, ajustando a produção e lançando novas versões que correspondessem às preferências dos fãs. “Assim que identifica personagens que podem promover ligações fortes com os utilizadores, a empresa ajusta rapidamente os seus recursos de desenvolvimento de produtos para captar os temas da moda entre os clientes jovens”, sublinha o artigo escrito por Yang Li.
Além da agilidade no desenvolvimento, a estratégia comercial desempenhou um papel central. A Pop Mart popularizou o modelo das “caixas surpresa” - embalagens em que o comprador não sabe qual a figura que vai encontrar até a abrir. Essa abordagem, semelhante à dos japoneses Sonny Angels, incentiva as compras repetidas: quem procura uma edição limitada ou uma versão rara é levado a adquirir mais unidades na esperança de “sair a sorte grande”. Segundo o estudo da Harvard Business School (HBS), este mecanismo não só impulsiona o consumo, como alimenta uma comunidade digital onde fãs partilham vídeos a abrir as caixas e exibem os bonecos mais cobiçados.
Foi precisamente essa combinação - personagens carismáticas como o Labubu, marketing de surpresa e exclusividade e uma leitura atenta dos dados em tempo real - que transformou uma figura de nicho num fenómeno cultural global. Só em 2024, lembra a HBS, o preço das ações da Pop Mart “mais do que quadruplicou em relação ao ano anterior”, com as vendas internacionais a representar já quase 40% da receita total, equivalente a 1,8 mil milhões de dólares (1,5 mil milhões de euros ao câmbio atual).