Depois de ter implementado medidas de eficiência que permitiram evitar custos operacionais de 22 milhões de euros em 2023, a Sonae Sierra prepara-se para dar mais um passo em direção à sustentabilidade com a instalação de sistemas fotovoltaicos em 21 centros comerciais que detém em Portugal, Espanha, Itália e Roménia. As unidades de produção para autoconsumo (UPAC), a cargo da Greenvolt Next, terão uma capacidade de 12,8 megawatts (MW), suprindo, em média, 30% das necessidades de eletricidade dos ativos.
Ao Expresso, Ana Guedes Oliveira, diretora-executiva de gestão de ativos da multinacional portuguesa, destaca a relevância da iniciativa tanto pela sua dimensão geográfica, como pela sua simultaneidade: “É uma operação que sublinha o compromisso e a liderança da Sierra na implementação de práticas sustentáveis no setor”.
Por via deste projeto, a empresa estima reduzir a pegada carbónica do portefólio de shoppings em 2860 toneladas de emissões de dióxido de carbono (CO2) por ano. Segundo a responsável, sem as novas UPAC, os 21 centros comerciais estariam mais dependentes de fontes de energia não renováveis. Por isso, aponta, “é fundamental introduzir novas soluções para garantir que operam com um impacto ambiental mínimo”.
Centros como o Área Sur, em Espanha, alcançarão até 47% de autoconsumo, enquanto o CascaiShopping e MadeiraShopping, ambos em Portugal, atingirão, respetivamente, 45% e 40% de consumo de eletricidade proveniente de fontes limpas. A conclusão da instalação dos painéis solares está prevista para o primeiro trimestre de 2025, mas a maioria ficará pronta até ao final deste ano e alguns até já estão operacionais.
Ana Guedes Oliveira explica que a implementação das UPAC envolve duas vertentes: um contrato de longo prazo para compra de energia - vulgo Power Purchase Agreement (PPA) -, firmado com a Greenvolt Next, operador responsável pela instalação e manutenção das unidades; e um outro contrato, com investimento inicial direto da Sierra (a empresa não detalhou valores). O retorno, de acordo com a diretora-executiva, “será influenciado pela volatilidade dos preços da energia”.
Caminhando para a neutralidade carbónica em 2040
Os painéis solares nos 21 centros comerciais vão, segundo a responsável, permitir à Sonae Sierra alcançar, no curto prazo, os objetivos para 2030 aprovados pela Science Based Target Initiative (SBTi), organização global que ajuda empresas a definirem metas de redução de emissões de gases de efeito estufa alinhadas à ciência climática, para limitar o aquecimento global a 1,5°C ou 2°C.
Em causa está a redução de 73% nas emissões diretas e provenientes da energia utilizada (scope 1 e 2), de 55% nas emissões associadas a materiais e construção (carbono incorporado) e de 46% nas restantes emissões da cadeia de valor (scope 3).
“Este projeto é apenas uma parte daquilo que temos em mãos nos ativos detidos e geridos pela empresa”, afirma Ana Guedes Oliveira, salientando que a empresa está comprometida com um programa de descarbonização para atingir a neutralidade carbónica até 2040, dez anos antes da meta estabelecida pela União Europeia. Para tal, encontra-se a estudar também soluções de armazenamento e criação de comunidades de energia.
Mas já nos últimos anos a multinacional tem vindo a investir em tecnologias para a eficiência energética - são exemplos a inteligência artificial para gestão de sistemas elétricos, dimerização (processo de regulação da intensidade das luzes), soluções para reutilização de água e gestão de resíduos. “Estamos a reduzir as emissões de carbono operacionais dos edifícios, o carbono incorporado dos novos empreendimentos e expansões, bem como a monitorizar as emissões das respetivas cadeias de valor”, refere a mesma responsável.
Para cada um dos ativos, foram elaborados planos e encontradas 171 oportunidades de melhoria. Todas elas “exigem, naturalmente, investimentos avultados”, mas a diretora-executiva diz-se convicta de que ,“numa perspetiva de longo prazo. fazem todo o sentido e contribuirão decisivamente para a manutenção do valor dos ativos”. Facto é que, desde 2002 e 2003, respetivamente, a Sonae Sierra já conseguiu diminuir o consumo de energia elétrica em 68% e o consumo de água em 41%. Ao nível da taxa de reciclagem de resíduos, atingiu os 67% no ano passado, segundo o relatório de sustentabilidade da empresa.
Ana Guedes Oliveira considera que “os centros comerciais são veículos essenciais para a transição energética” e, por isso, é essencial para a Sierra “manter uma comunicação transparente e pública sobre a sua sustentabilidade” na relação com os investidores, lojistas e consumidores. Contudo, reconhece que “ainda há um longo caminho a percorrer, com a exigência de investimentos muito significativos”. Mas os desafios, na sua visão, têm um lado positivo: a oportunidade para alargar a influência da empresa, em prol de uma maior sustentabilidade dos edifícios e das cidades.