
Lourenço Coelho pode ser o quarto de oito membros a sair desde que o atual presidente do Benfica está em funções. Saída de Maria Gabriela Pestana, no ano passado, não foi substituída e desde então que a SAD não cumpre a regra de quotas de género
Lourenço Coelho pode ser o quarto de oito membros a sair desde que o atual presidente do Benfica está em funções. Saída de Maria Gabriela Pestana, no ano passado, não foi substituída e desde então que a SAD não cumpre a regra de quotas de género
Jornalista
Naquele fim de tarde, o Auditório do Museu Benfica Cosme Damião estava quase vazio. Quem passasse à porta, dificilmente se aperceberia que, no interior, decorria a Assembleia-Geral de acionistas da SAD do Benfica. Pouco passava das 19 horas e estavam cerca de 30 pessoas na sala, com capacidade para 170, entre elas grandes acionistas, respetivos representantes e minoritários. Um dos pontos da agenda era avaliar as contas dos encarnados e, para isso, Domingos Soares de Oliveira, na altura o administrador com a pasta financeira, respondeu durante várias horas a perguntas dos acionistas.
O evento teve lugar no dia 28 de setembro de 2023. No dia seguinte (29), o Benfica comunicava à CMVM (Comissão do Mercado de Valores Mobiliários) que Soares de Oliveira, o homem que mandou nas finanças do clube durante uma década, tinha renunciado ao cargo (com uma cláusula anti concorrência de 1,5 milhões de euros). Uma espécie de adeus anunciado, uma vez que a sua saída era antecipada desde que Rui Costa assumiu a presidência, dois anos antes.
O agora presidente-executivo dos sauditas do Al-Ittihad (assumiu o cargo uma semana após sair do Benfica) foi o primeiro de quatro administradores que abandonaram a SAD encarnada, desde que Rui Costa assumiu a liderança. Mas se a saída deste gestor era já previsível, o mesmo não se pode dizer dos outros três elementos que saíram, uma vez que foram levados para o Conselho de Administração da SAD do Benfica pelo atual presidente, após vencer eleições (em outubro de 2021). Dois deles, nos últimos três meses.
O mais recente caso, adiantado pelo Correio da Manhã na semana passada, é o de Lourenço Coelho. O administrador, que tem o pelouro do futebol profissional, pode também estar de saída da administração encarnada, tendo feito esse pedido a Rui Costa, segundo o jornal. Questionado pelo Expresso, o Benfica não respondeu às perguntas enviadas sobre o tema. O clube não comunicou à CMVM a sua saída, pelo que, por enquanto, ainda não foi oficializada. De acordo com o Correio da Manhã, Lourenço Coelho quer voltar a assumir as suas funções anteriores no clube, como diretor-geral.
Antes da eventual saída de Lourenço Coelho, um outro membro da administração tinha apresentado a sua demissão nos últimos meses. Trata-se de Luís Mendes, responsável até então pelas contas dos encarnados, que substituiu Domingo Soares de Oliveira, mas renunciou ao cargo em junho, antes do mercado de transferências de verão começar. Mendes era também o representante da SAD do Benfica junto do mercado e ainda não tem substituto.
E, em junho de 2023, tinha sido Maria Gabriela Pestana a deixar os encarnados. Quando foi eleito, Rui Costa alargou os membros do CA de cinco para nove (contando com o próprio). Há ainda Jaime Antunes (vogal eleito na Assembleia Geral de 24 de janeiro de 2022), António Andrade (vogal desde 29 de setembro de 2023) e Manuel Brito (vogal desde o início do atual mandato, em 2021).
Segundo o relatório e contas referente à época 2022/2023, o último documento anual disponível, as remunerações atribuídas aos nove membros da administração da Benfica SAD ascenderam a cerca de 1,2 milhões de euros, sendo que 777 mil euros refere-se a remuneração fixa e 390 mil euros a variável.
Com a saída de Maria Gabriela Pestana, sobraram apenas duas mulheres na Administração da SAD encarnada: Maria do Rosário Correia e Maria Rita Nunes, ficando assim aquém dos 33% necessários para cumprir as quotas de género impostas pela CMVM (Comissão do Mercado de Valores Mobiliários). Mas, em resposta ao Expresso, o regulador do mercado explica que a Benfica SAD não está em incumprimento.
“Quando o órgão de administração/fiscalização inicialmente eleito em assembleia-geral, cumpra o limiar previsto na lei, a renúncia de um membro do género sub-representado não determina automaticamente o incumprimento do regime. Tal apenas sucede se o novo membro nomeado não contribuir para o restabelecimento dos limiares”, diz a CMVM. No caso do Benfica, não foi ainda ninguém eleito durante o último ano para substituir Maria Gabriela Pestana.
Além de saídas da administração das águias, muitos outros elementos da estrutura têm abandonado o clube nos últimos meses. É o caso de Gustavo Silva, diretor jurídico do Benfica, que alegou razões pessoais para a renúncia, argumentando que este passo se baseou na defesa dos interesses do clube. O advogado, que antes era consultor jurídico na SRC Advogados, em Luanda, estava no cargo há apenas nove meses, substituindo Paulo Gonçalves, condenado por corrupção ativa no processo E-Toupeira.
Na estrutura do futebol, a mais recente saída é a de Pedro Mil Homens, que era responsável pela academia do Seixal, cujo contrato não foi renovado.
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