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Global Media quer dispensar entre 150 e 200 trabalhadores

Global Media quer dispensar entre 150 e 200 trabalhadores

Subsídio de Natal dos trabalhadores do grupo que detém o Jornal de Notícias, o Diário de Notícias e a TSF, entre outros meios de comunicação social, será pago em duodécimos. Administração diz que são “medidas urgentes” necessárias para “estancar o crescimento dos prejuízos, salvaguardar o número possível de postos de trabalho e evitar a falência do grupo e das suas empresas”

Global Media quer dispensar entre 150 e 200 trabalhadores

Pedro Lima

Editor-adjunto de Economia

A administração do grupo Global Media anunciou esta quarta-feira, através de um comunicado interno, que decidiu “avançar com um processo de reestruturação e de negociação de acordos de rescisão com caráter de urgência”, num universo entre 150 e 200 trabalhadores nas diversas áreas e marcas do grupo, de um total de cerca de 530 trabalhadores. É uma forma, adianta a empresa, de tentar “evitar um processo de despedimento coletivo, alternativa essa que, para esta comissão executiva, apenas será opção em último caso”.

O plano de reestruturação passará também por fazer o pagamento do subsídio de Natal em duodécimos: “Face aos constrangimentos financeiros criados pela anulação do negócio da Lusa, o pagamento do subsídio de Natal referente ao ano de 2023 só poderá ser efetuado através de duodécimos, acrescido nos vencimentos de janeiro a dezembro do próximo ano”, adianta a administração no mesmo comunicado.

A comissão executiva, liderada por José Paulo Fafe, compromete-se também a “adotar um vasto conjunto de mudanças ao nível da gestão e procedimentos nos diferentes departamentos e marcas, de forma a tornar sustentável este projeto – e também de forma que, persistindo a atual situação, seja evitada a mais do que previsível e anunciada falência do Grupo e que só a contínua e indiscriminada venda de património, como a que ocorreu nos últimos anos, tem vindo a adiar”.

E reafirma o compromisso de “investir e fazer crescer. Investir, desde logo, para evitar a falência do grupo e fazê-lo crescer através de uma gestão racional, exigente, bem como de um plano de reestruturação que ponha termo ao ciclo de prejuízos constantes e que, numa fase posterior, permita consolidar um projeto alargado ao mercado da língua portuguesa”.

Prejuízos superiores a 7 milhões de euros

O grupo refere que nos últimos cinco anos “os prejuízos acumulados até ao final do ano passado foram na ordem dos 39 milhões de euros” e que para este ano está previsto um prejuízo global que ultrapassa os 7 milhões de euros, mas esclarece que este valor já tem em conta as medidas previstas no plano de reestruturação, porque sem esse efeito, “o prejuízo mínimo anual seria na ordem dos 9 milhões de euros”.

Explicando que o pagamento de salários nos últimos meses só foi possível graças às transferências feitas pelo empresário Marco Galinha – que vendeu recentemente parte da sua participação ao fundo World Opportunity Fund, cedendo-lhe o controlo – adianta que não havia outro acionista a mostrar disponibilidade em aportar qualquer investimento ao grupo.

A negociação para a entrada do fundo, gerido pela sociedade Union Capital Group, com sede na Suiça, no capital da Global Media teve início no final do ano, adianta ainda a administração, referindo que “desde o primeiro dia que ficou claro para o World Opportunity Fund que, no imediato, a realização do investimento teria de ser centrada em cumprir os compromissos essenciais à sobrevivência do grupo e que o futuro só seria possível através de um profundo projeto de reestruturação, condição essencial para, garantindo o cumprimento cabal dos compromissos legais e fiscais da empresa, evitar a falência total do grupo no seu conjunto e das suas diversas empresas”.

A administração queixa-se ainda de ex-administradores do grupo; de “uma permanente atitude de rejeição, ou mesmo boicote, a todas as mudanças que pretendeu efetuar no seio do grupo”; de “seletivas fugas de informação, muitas delas por parte de quadros do próprio grupo”, que levaram a “uma permanente campanha pública de tentativa de desgaste das marcas e do próprio grupo por parte de outros concorrentes, com a criação de falsas narrativas, adulteração de factos e obstinada recusa do exercício do contraditório”; e de várias “tentativas de interferência por parte de alguns setores e personalidades políticas, criando e fomentando boatos que visavam descredibilizar o negócio e o próprio fundo de investimento, num processo de permanente interferência política que culminou no chumbo de última hora ao negócio da venda das participações do grupo na agência Lusa”.

Sobre a abortada venda ao Estado da participação detida pelo grupo na Lusa, a administração refere também que “esta operação financeira que estava totalmente fechada entre as partes, com valores definidos e prazos para pagamento já acordados, era do pleno conhecimento do principal partido da oposição, que, a seu tempo, dera o seu acordo expresso e do próprio Presidente da República”. O Governo desistiu de comprar aquela participação porque, argumenta, não houve um “consenso político alargado”.

“O inexplicável cancelamento de última hora obrigou à alteração de todo o planeamento financeiro programado até final deste ano por esta comissão executiva, acrescendo dificuldades às já existentes", diz ainda a administração do grupo de comunicação social.

Ao Expresso o grupo disse lamentar “profundamente que, apesar de existir pleno e total acordo com o Estado para a compra das participações detidas na agência Lusa, à última hora o negócio não se tenha efetuado devido a pressões e interferências que foram públicas, e que apenas contribuíram na prática para o atraso no processamento de salários referentes ao mês de Novembro, situação essa que lamentamos profundamente, mas que neste momento já está a ser ultrapassada”. Os salários começaram a ser pagos esta terça-feira, mas isso não foi suficiente para que os trabalhadores do Jornal de Notícias pusessem termo à greve de dois dias iniciada esta quarta-feira e que pretende ser uma resposta a um despedimento coletivo que, argumentam, a administração lhes tinha comunicado.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: PLima@expresso.impresa.pt

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