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"Devemos ficar muito preocupados" com a perda de competitividade da Europa face aos EUA e à China, alerta Draghi

O antigo presidente do Banco Central Europeu Mario Draghi
O antigo presidente do Banco Central Europeu Mario Draghi
GUGLIELMO MANGIAPANE

A falência do modelo económico e geopolítico europeu deve ser resolvida através de uma maior integração, defendeu o antigo presidente do BCE ao Financial Times

A Europa está a perder competitividade há mais de vinte anos face a economias como a norte-americana ou chinesa, e a União Europeia deveria estar muito preocupada com esta evolução, disse o antigo presidente do Banco Central Europeu (BCE) Mário Draghi, em entrevista ao Financial Times divulgada na quarta-feira.

O também antigo primeiro-ministro italiano foi incumbido pela Comissão Europeia para avaliar as causas da perda de competitividade europeia e definir uma estratégia de recuperação. E, ao jornal britânico, a avaliação de “Super Mario” é arrasadora.

“Devíamos preocupar-nos muito com isto (…) a economia europeia está a perder competitividade há mais de vinte anos, face não só aos Estados Unidos mas também ao Japão, à Coreia do Sul e, claro, face à China”, alertou.

“Em muitas, muitas áreas e campos tecnológicos temos perdido presença, temos perdido pegada”, acrescentou.

Mario Draghi realçou o papel da energia nesta perda de competitividade, dizendo que a Europa “tem de mobilizar-se” para resolver os problemas neste setor. “Não iremos a lado nenhum se pagarmos pela energia o dobro ou o triplo do que custa noutras partes do mundo”.

A necessidade de mobilização conjunta não se esgota no campo energético, disse: “Ou a Europa age conjuntamente e se torna numa união mais profunda, uma união capaz de exprimir uma política externa e de defesa, além de todas as políticas económicas… ou temo que a União Europeia não sobreviva além do seu papel de mercado único”.

Segundo o jornal, Draghi contestou ainda o modelo europeu que pressupõe fortes dependências de atores externos em campos tão importantes como a indústria e a energia.

“O modelo geopolítico e económico no qual a Europa se baseou desde o fim da II Guerra Mundial acabou. (…) Para termos uma economia capaz de aguentar uma sociedade em envelhecimento ao ritmo que temos na Europa, teremos de ter uma produtividade muito mais alta”, frisou.

Draghi vaticinou ainda que a União Europeia deverá fechar o ano com uma recessão, que deverá continuar nos dois primeiros trimestres de 2024. O italiano considerou, porém, que não se tratará de uma recessão forte e que não irá desestabilizar grandemente as economias do Velho Continente graças aos altos níveis de emprego no bloco.

“Nunca tivemos um desemprego tão baixo (…) desta forma, até podemos ter uma recessão, mas talvez não seja desestabilizadora”, reconheceu.

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