1. Quais os próximos passos?
Na sexta-feira a Cofina comunicou, por determinação da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários que, após ter recebido uma proposta de compra que avalia a Cofina Media em 75 milhões de euros, solicitou um prazo de 60 dias – que poderá ser prorrogado – para a avaliar. Se aprovar a oferta, a administração terá de a levar a uma assembleia geral de acionistas para que estes aceitem a venda. Isto porque a proposta incide sobre a Cofina Media, uma subsidiária da Cofina, onde estão os ativos de media - Correio da Manhã, CM TV, Record, Negócios, Destak, Sábado, TV Guia e as publicações digitais Máxima e Flash. Se a proposta fosse sobre a própria Cofina, teria de ser lançada uma oferta pública de aquisição (OPA). Caso a administração valide a oferta, ela será aceite na assembleia geral já que na administração estão os representantes dos maiores acionistas da Cofina.
2. Quem detém atualmente a Cofina?
É um grupo de acionistas que têm negócios juntos há vários anos e que a fundaram em 1990. O maior acionista é Ana Mendonça (por herança de Pedro Mendonça, falecido em 2015), segue-se João Borges de Oliveira, com 15,01%, sendo que o seu irmão Pedro Borges de Oliveira tem 10,02%. Paulo Fernandes, que exerce o cargo de presidente, detém 13,88% da empresa e Domingos Matos detém 12,09%. O restante capital está disperso na Bolsa. Estes investidores têm negócios juntos, além da Cofina, nas celuloses (Altri), aço (Ramada) e energias renováveis (Greenvolt).
3. Se o negócio avançar, quem serão os novos donos do Correio da Manhã e da CM TV?
No comunicado a Cofina refere que a 27 e 28 de junho recebeu uma oferta vinculativa e uma oferta vinculativa, respetivamente, para aquisição da totalidade do capital da Cofina Media que é subscrita por Ana Dias e Luís Santana, administradores da Cofina Media, e ainda por Octávio Ribeiro, que em junho de 2021 deixou a direção-geral editorial do grupo. Mas indicou também que a eles se “juntará um conjunto de investidores - não identificados”. Um deles já é conhecido e foi confirmado por Luís Santana na passada sexta-feira. Trata-se de Cristiano Ronaldo. Mas da atual estrutura acionista da Cofina transitará pelo menos um dos grandes acionistas, Domingos Matos, com 12%. Quem o confirmou foi Mário Leite da Silva, o antigo braço direito da investidora angolana Isabel dos Santos, que é agora administrador da Livrefluxo, empresa de Domingos Matos. “Pretendemos continuar ligados ao projeto pois acreditamos nas pessoas, partilhamos da visão e dos objetivos estratégicos de médio e longo prazo”, disse o gestor em entrevista ao ‘Jornal Económico’. Os proponentes estão ativamente à procura de mais quem se queira a eles juntar e é natural que envolvam outros quadros do grupo Cofina que tenham disponibilidade para investir mas também se admite que mais algum atual grande acionista da Cofina venha a ter alguma participação, ainda que simbólica, no projeto. No início de junho Ana Dias dizia ao Expresso que haveria “oportunidade para outros investidores idóneos” participarem no projeto, adiantando que tinham tido “várias manifestações de interesse, com quem estamos a desenvolver negociações.”
4. A hipótese de a Media Capital se juntar mais tarde à Cofina fica posta de parte?
A proposta feita pelos quadros da empresa é, além do racional que o negócio possa comportar, também uma ação de resistência a uma concentração entre a Cofina e a Media Capital. Houve abordagens preliminares à Cofina feitas pela Media Capital, que controla a TVI e que tem como maior acionista o empresário do turismo Mário Ferreira. O resultado de uma concentração entre as duas empresas teria, como já se sabe, a consequência da saída de parte dos quadros que ficariam a mais na nova estrutura. Além disso, a atual estrutura da Media Capital dificilmente partilharia a gestão com quem transitasse da Cofina. Por isso, as hipóteses de concentração que nos últimos anos se colocaram em cima da mesa para a junção dos dois grupos parecem estar mortas e enterradas. E um entendimento no futuro é algo considerado altamente improvável.
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