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Siza Vieira: não há sinais de subida das margens na distribuição, mas "correção de preços" no produtor é "saudável"

Pedro Siza Vieira
Pedro Siza Vieira
MANUEL DE ALMEIDA/LUSA

O antigo ministro da Economia diz, em entrevista ao “Jornal de Negócios”, que foram os produtores, e não as retalhistas, a ver as margens crescer em resposta à escassez, uma evolução que considera “saudável” dados os preços pagos tradicionalmente baixos

Sobre se a grande distribuição, mais especificamente, está a aproveitar a situação de subida generalizada dos preços para reforçar as margens - principalmente quando muitos dos fatores de encarecimento dos produtos alimentares já não se verificam, como os fertilizantes e os combustíveis - o antigo ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, diz que os preços no produtor eram muito baixos à partida em Portugal; e que quem produz terá ganho capacidade negocial com a escassez em vários mercados.

“Os produtores agrícolas sempre se queixaram de estarem num mercado que tem um grande peso do lado dos clientes finais, dos retalhistas – é um mercado com muito poder – e nós temos do lado da produção agrícola muita fragmentação. (…) Não vi ainda a demonstração de que as margens das empresas de distribuição tenham aumentado por aí fora. Acho que há provavelmente alguma correção de preços no produtor que acho saudável", avaliou em entrevista ao #Jornal de Negócios# publicada esta quarta-feira, 22 de março.

A invasão russa da Ucrânia, em fevereiro de 2022, fez vários produtores globais de bens desaparecerem dos mercados ocidentais, intensificando a tendência de subida de preços que já vinha dos tempos da pandemia da covid-19. O que foi vantajoso para as empresas portuguesas exportadoras, que puderam melhorar as margens depois de anos a competir por preço, asseverou.

“Nos nossos sectores exportadores nós estamos a ver duas coisas que estão a acontecer. A primeira é que as empresas estão a conseguir repercutir nos clientes as subidas dos custos dos fatores de produção e a segunda é que até estão a melhorar as margens. De repente, deixou de ter a concorrência asiática. Portanto, as empresas portuguesas estão a chegar ao mercado alemão, ao mercado holandês, ao mercado inglês, com preços mais elevados. Isto é bom, melhora as margens, melhora a poupança das empresas portuguesas”, disse.

“As empresas portuguesas de uma maneira geral praticam preços muito baixos para o produto que têm. O que faz uma coisa: se eu compito só com base no preço, o que é que eu tenho de fazer para me manter competitivo? É gerir os meus custos, pagar mal aos meus fornecedores, pagar mal aos meus trabalhadores. A única maneira de nós subirmos a produtividade é fazermos aumentar os preços daquilo que vendemos”, acrescentou.

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