O comissário europeu dos Mercados Internos, Thierry Breton, marcou esta segunda-feira o arranque do Mobile World Congress (MWC), em Barcelona, onde defendeu a existência de licenciamentos de espectro pan-europeus e a substituição de todas as redes de cobre por redes de fibra ótica até 2030. O certame, que deverá receber 95 mil visitantes até quinta-feira, é um dos maiores eventos mundiais na área da tecnologia e no arranque contou também com a presença do rei de Espanha, Felipe VI.
Thierry Breton não escondeu que tem uma missão bem mais árdua pela frente: no principal palco de conferências do MWC, o comissário europeu lembrou que as redes europeias não podem continuar a ter 200 milissegundos de latência, se quiserem avançar para as novas gerações tecnológicas que envolvem Inteligência Artificial, automatização, computação de alto desempenho e múltiplos sensores.
A latência é reveladora do tempo que uma ação demora a produzir um efeito depois de ser enviada pelo emissor e chegar ao recetor. Nos videojogos, é um fator especialmente apreciado. E nas cirurgias remotas ou nos carros autónomos será crucial para evitar tragédias. Mas só se realmente for garantida uma baixa latência na interação com os operadores de telecomunicações é que Breton poderá ter sucesso nos planos que elencou no MWC.
“Estamos a definir uma linha temporal para descontinuar as redes de cobre (nas telecomunicações) em 2030. As fibras óticas devem chegar a todas as casas”, sublinhou Thierry Breton, determinando a velocidade de 1 gigabit por segundo como a futura referência que as redes de fibra deverão alcançar nos próximos tempos.
Thierry Breton falou, no MWC, numa “abordagem revolucionária”. “Também precisamos de adaptar a nossa regulação”, reiterou o comissário europeu. “Não estamos a fazer o que podíamos fazer para ter um mercado único de 450 milhões de potenciais consumidores. Precisamos de um verdadeiro mercado digital para facilitar o aparecimento de operadores pan-europeus”, defendeu o comissário europeu.
Rapidez como critério nos leilões
“É tempo de abrir a alocação do uso e licenciamento de espectro, pelo menos nos satélites”, defendeu Thierry Breton, apontando uma escapatória, para o caso de os estados-membros rejeitarem abrir mão dos leilões ou outros processos de atribuição de frequências hertzianas aos operadores de redes móveis.
De resto, nos leilões de espectro o comissário europeu considerou que governos e autoridades reguladoras (a Anacom em Portugal) deverão começar a privilegiar licitações de operadores que são mais rápidos a montar as redes de nova geração em vez de se limitarem a escolher quem paga mais.
O comissário europeu considerou que a liderança europeia no mercado digital e nas telecomunicações implica maior agilidade e menos burocracia.
“Não podemos ter atrasos nos processos de licenciamento de espectro”, disse Breton, apontando já para a sexta geração de redes móveis (6G), que os especialistas continuam a apontar para depois de 2030. “Não podemos ter os mesmos resultados do processo do 5G, que, passados oito anos, ainda não concluído”, lembrou.
No pacote de medidas e recomendações, Thierry Breton defendeu a necessidade de reforço do investimento em inovação e atividades científicas e considerou mesmo que estas atividades devem beneficiar do estatuto dado aos projetos de interesse comum da União Europeia (UE).
O desenvolvimento de novas proteções para as redes de telecomunicações, com uma menção especial para o papel que a computação quântica poderá vir a ter, ocupou o último capítulo da breve mas recheada intervenção de Thierry Breton no MWC..
O evento organizado pela Associação GSM, que reúne mais de 700 operadores de telecomunicações, deverá este ano contar com mais de 95 mil visitas e 2400 expositores, ajudando a dinamizar a hotelaria em Barcelona por estes dias.
Segundo o jornal Metropoli, o MWC de 2024 deverá registar um aumento de 7% nas entradas face à edição de 2023, mas ainda não chegará aos 110 mil visitantes que se registaram na edição que precedeu a pandemia. As estimativas apontam para um impacto de 461 milhões de euros na economia espanhola.
Sob o mote Future First (o futuro primeiro), o MWC de 2024 junta as maiores marcas tecnológicas de China e EUA, além de operadores de telecomunicações de outras geografias. Honor, Xiaomi, China Telecom, Lenovo (com a Motorola), ou ZTE têm expositores de maior dimensão, mas marcas como Samsung, Qualcomm, Ericsson, ou Nokia, Microsoft, Google e Meta também não perderam a oportunidade de estar no evento.
O Expresso viajou a Barcelona a convite da Xiaomi.