Os tweets de Paddy Cosgrave, co-fundador e líder da Web Summit, nos quais expressava a sua opinião sobre o conflito israelo-palestino, provocaram uma revoada de críticas e de desistências de peso. Esta terça-feira, 17 de outubro, Cosgrave publicou na página eletrónica do evento um pedido de desculpas, no qual lamenta “a dor profunda que causou" com a sua análise dos desenvolvimentos recentes do conflito.
“Entendo que o que disse, a altura em que o disse, e a forma como foi apresentado o que disse causou dor profunda a muitos. A quem se sentiu magoado pelas minhas palavras, peço as minhas profundas desculpas. O que é necessário nesta altura é compaixão, e não o consegui transmitir. A Web Summit tem um longo historial de parcerias com Israel e com as empresas tecnológicas israelitas, e lamento profundamente que estes amigos tenham se sentido magoados pelo que disse", escreveu Cosgrave, num post intitulado “Pedido de desculpas de Paddy Cosgrave".
“O meu objetivo é, e sempre foi, lutar pela paz. No fim de contas, desejo com todo o meu coração que possa ser alcançada”, rematou a publicação.
Depois do embaixador israelita em Lisboa, Dor Shapira, ter declarado na segunda-feira o boicote de Israel à Web Summit, líderes relevantes nos setores tecnológico e financeiro anunciavam a retirada dos seus nomes da lista de oradores da edição de novembro.
De acordo com a página especializada The Information, tinham já saltado do barco investidores de capital de risco como Garry Tan, da aceleradora Y Combinator, e Ravi Gupta, do fundo de capital de risco Sequoia. Ori Goshen, co-fundador da AI21, e Keith Peris, co-fundador da Tome, ambas startups de Inteligência Artificial generativa, também não deverão comparecer no evento que decorre de 13 a 16 de novembro no Parque das Nações, em Lisboa.
Outros ausentes serão, segundo o site Techcrunch, David Marcus, antigo diretor de pagamentos da Meta (ex-Facebook) e investidor; e Keith Rabois, sócio do fundo Founders Fund, que foi mais longe: “Vou recusar-me a trabalhar com quem quer que seja que fale nesta conferência no Catar para o resto da minha carreira”, aludindo à nova iteração da Web Summit, a ter lugar pela primeira vez em 2024 na capital Doha.
Entretanto, Cosgrave disse esta terça-feira, em resposta a um tweet de um dos ausentes, o investidor Amit Karp, do fundo Bessemer Venture Partners, que “nas últimas 24 horas, ao mesmo tempo que 9 investidores cancelaram registaram-se 35 novos investidores. Dois meios de comunicação cancelaram, mas mais de 50 requereram acreditação. E por uma razão qualquer vendemos mais bilhetes do que em qualquer segunda-feira em 2023”.
“Sempre fui contra a guerra e a favor do direito internacional"
Antes do pedido de desculpas de Cosgrave, que ocorre só no fim da publicação, o líder da Web Summit vincou por várias linhas a sua perspetiva em relação ao agravar do conflito: “reiterando o que eu dissera na semana passada: condeno sem reservas o ataque maléfico, nojento e monstruoso do Hamas de 7 de outubro. Também apelo à libertação incondicional de todos os reféns. Simpatizo profundamente com as famílias das vítimas deste ato chocante, e lamento as perdas de vidas inocentes neste e noutros conflitos. Apoio inequivocamente o direito de existir de Israel e o de se defender. Apoio inequivocamente uma solução de dois estados”.
Porém, ressalva, “tal como tantas personalidades em todo o mundo, também acredito que, na sua defesa, Israel deve acatar a lei internacional e as Convenções de Genebra - i.e., não cometer crimes de guerra. Esta crença aplica-se de igual forma a qualquer estado em qualquer conflito. Nenhum país deve quebrar estas leis, mesmo se forem cometidas atrocidades contra os próprios”.
“Sempre fui contra a guerra e a favor do direito internacional. É exactamente nos momentos mais negros que devemos tentar respeitar os princípios que nos tornam civilizados”, acrescentou Cosgrave.
Citou o secretário da defesa norte-americano, Anthony Blinken, que, num encontro com aliados no Catar - um dos aliados dos EUA no Médio Oriente - disse que Israel, mantendo o seu direito de defesa, devia “recorrer a todos os cuidados possíveis para evitar danos a civis”.
“Nos meus comentários, tentei fazer exactamente o mesmo do que o secretário Blinken e tantos outros a nível global: apelar a que Israel, na sua resposta às atrocidades do Hamas, não cruze as linhas do direito internacional”.
“Em relação ao evento da Web Summit no Catar no próximo ano”, prosseguiu Cosgrave, “queria realçar o agradecimento público do secretário Blinken ao Catar pelo seu apoio nesta crise e noutras questões mais abrangentes desta região (…) tal como o governo dos EUA, a Web Summit acredita em trabalhar com parceiros regionais e globais - incluindo o Catar - para encorajar o diálogo e a comunicação dos quais depende a paz, e para lutar por um acordo justo e duradouro para as questões de base com que lida a região".
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