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Retrato de um país de casas vazias, rendas altas e pouca construção

Retrato de um país de casas vazias, rendas altas e pouca construção
NUNO BOTELHO

Como é que uma crise nesta área convive com mais de 700 mil casas devolutas? Na semana em que o Governo e o PSD apresentaram medidas para fomentar o acesso à habitação, o Expresso faz um retrato do sector, onde os mais jovens continuam fora da ‘equação’

Nunca se construiu tão pouco em Portugal como na última década. Em 10 anos foram erguidos 110.784 edifí­cios de habitação em Portugal, segundo o Recenseamento Geral da Habitação, promovido pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).

Os edifícios construídos na última década constituíam 2,8% do total dos alojamentos do parque habitacional. Apesar de se manter o predomínio da residência habitual, verifica-se um aumento do peso dos alojamentos de residência secundária e dos alojamentos vagos.

O parque habitacional conta com 4.142.581 residências habituais, 1.104.881 secundárias e 723.215 fogos devolutos, sem habitação.

Com 73% da população a viver em casa própria e ativos imobiliários que representam mais de 50% do património dos portugueses, os números da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) mostram que 14% das famílias portuguesas possuem uma segunda habitação.

Apesar destes números, aquela organização conclui ainda que apenas 2% da habitação é pública, contrastando com os 12% da média europeia.

Abrandamento no ritmo de crescimento do parque habitacional

Os resultados do Censos 2021 assinalam um abrandamento do ritmo de crescimento do parque habitacional: atualmente com 3.573.416 edifícios clássicos e 5.981.482 alojamentos — um crescimento de 1,7% nos alojamentos e de 0,8% nos edifícios, que é inferior ao verificado em décadas anteriores.

Em 2011, o crescimento foi de 16,3% nos alojamentos e de 12,2% nos edifí­cios. E em 2001 a construção aumentou 20,5% nos alojamentos e 10,4% nos edifícios. Em 1981 o crescimento da construção habitacional foi de 25%. Como resultado, há mais 17,1% de casas sobrelotadas em 2021. Mas o número de casas vazias no país é de 723.215, revela o Censos daquele ano.

E a situação tem vindo a piorar. Em 2022, o INE reportou um aumento na construção de 2%, desacelerando face aos 3% do ano anterior. Os dados do INE mostram ainda que 49,8% do parque habitacional português foi construído antes de 1980. E 31,9% de 1981 a 2000. No conjunto de todas as habitações existentes, apenas 17,9% foram construídas nos últimos 22 anos. Porém, se olharmos apenas para a última década, foram cons­truídas apenas 3,1% do total das casas existentes.

A menor dinâmica de construção refletiu-se no envelhecimento do parque habitacional: por cada 100 edifícios construídos depois de 2011 existiam 747 edifícios erguidos até 1960. Em resultado disto, como demonstram os dados do INE, existem 1.278.826 casas a precisar de reparação. Mais 253.889 quando comparadas com o Censos de 2011.

A agravar a crise de habitação está um decréscimo de 2,8% no número total de licenças emitidas em 2022 para novas obras, apesar do crescimento na área licenciada de 3,4% nos edifícios habitacionais e de 10,3% nos edifícios não residenciais, revelam os dados do INE.

Olhando para o período de 2002 a 2021, revela uma análise da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS), foram licenciadas 130 mil novas obras.

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