A 1 de outubro de 2004, enquanto em Portugal os utentes eram confrontados com um novo aumento dos preços dos transportes públicos, à boleia da subida do custo do petróleo, em Santiago de Compostela, Espanha, os líderes governativos ibéricos davam o pontapé de saída de um projeto que a generalidade dos atores da energia reconhece hoje como um sucesso.
O mercado ibérico de eletricidade (Mibel) levaria ainda três anos a sair do papel, mas acabaria por cumprir boa parte do seu propósito, levando Portugal e Espanha a funcionar como um mercado único, com um preço grossista igual na esmagadora maioria das horas do ano. Um mercado com mais escala, maiores fluxos de energia entre os dois países e maior capacidade para absorver eletricidade renovável.
Mas se o Mibel facilitou esses desenvolvimentos, hoje continua aprisionado numa ilha energética. França continua a resistir a ampliar as interligações com Espanha. E isso leva a que a crescente produção ibérica de eletricidade verde tenda a ser, em alguns momentos, demasiado elevada, atirando para zero ou para preços negativos o valor do megawatt hora (MWh) no mercado grossista e ameaçando a rentabilidade de novos projetos, ou até ampliando as diferenças de preços entre Portugal e Espanha, caso não sejam construídas mais linhas de eletricidade entre os dois países.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: mprado@expresso.impresa.pt