A um mês da Cimeira das Nações Unidas sobre o Futuro, a realizar em Nova Iorque, cerca de 80 laureados com o Prémio Nobel e antigos líderes mundiais criticaram fortemente a omissão de uma referência aos combustíveis fósseis, um dos principais motores do aquecimento global, do projeto de pacto climático. Entre os signatários destacam-se Muhammad Yunus, Prémio Nobel da Paz em 2006 e líder do governo interino do Bangladesh; Rigoberta Menchu, Prémio Nobel da Paz em 1992 e ativista guatemalteca; Mary Robinson, antiga presidente da Irlanda e Stefan Löfven, antigo primeiro-ministro sueco.
A Cimeira das Nações Unidas para o Futuro, que terá lugar em Nova Iorque, será o último grande encontro internacional antes das negociações sobre o clima da COP29 em Baku, no Azerbaijão, e deverá abordar uma vasta gama de desafios globais, incluindo o desenvolvimento sustentável, a cooperação tecnológica e as alterações climáticas. A cimeira é apresentada pela ONU como uma “oportunidade única” para revigorar a cooperação internacional e criar confiança entre os Estados-membros.
A versão inicial do documento central da cimeira apelava à “aceleração” da transição para o abandono dos combustíveis fósseis, em consonância com o consenso alcançado na conferência COP28, realizada no Dubai em novembro passado. Contudo, no projeto atualizado, foi retirada qualquer menção aos combustíveis fósseis, substituída por um apoio mais geral à ação climática “com base na melhor ciência possível”.
“Estamos seriamente preocupados com o facto de o projeto de Pacto para o Futuro nem sequer mencionar os combustíveis fósseis, um das maiores ameaças que o mundo enfrenta atualmente”, pode ler-se na declaração. Os signatários exigem que a ONU inclua compromissos explícitos para gerir e financiar uma rápida transição global para longe do carvão, petróleo e gás, conforme o limite de 1,5 °C estabelecido pelo Acordo de Paris.
A ausência de tal linguagem, argumentam, prejudica os esforços globais de combate às alterações climáticas. Os cientistas avisaram há muito que, para limitar o aquecimento global a 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais, as emissões globais de gases com efeito de estufa devem ser reduzidas em 43% até 2030. Uma vez que as temperaturas já aumentaram pelo menos 1,1 °C, a pressão para atuar decisivamente é imensa.
As revisões ao projeto de pacto levantaram receios de que a próxima cimeira em Nova Iorque dilua os compromissos globais de combate às alterações climáticas, especialmente quando o mundo se prepara para a COP29 no Azerbaijão, um país fortemente dependente dos combustíveis fósseis.
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