Sérgio Monteiro, que foi secretário de Estado das Infraestruturas, Transportes e Comunicações entre 2011 e 2015, no Governo de Pedro Passos Coelho, está a caminho da administração da Greenvolt, tendo o seu nome sido proposto para integrar o conselho de administração da empresa de energias renováveis por parte de dois dos principais acionistas da Greenvolt.
A proposta, subscrita pela Actium Capital e pela Caderno Azul, que no seu conjunto detêm 18,7% da Greenvolt, propõe a eleição de Sérgio Monteiro para completar a administração da empresa no mandato em curso, que vai até ao final deste ano, no quadro de um alargamento do conselho de 11 para 12 administradores.
Na assembleia geral de acionistas da Greenvolt, a realizar a 28 de abril no Porto, será também votada a entrada para a administração da empresa de Sofia Portela, ex-presidente do conselho diretivo da ADSE (2018 a 2020), mas neste caso sob proposta dos acionistas Livrefluxo e 1 Thing Investments, que detêm 13,79% das ações da Greenvolt.
Se no caso de Sofia Portela não há qualquer atividade profissional ligada ao negócio das energias renováveis, o mesmo não acontece com Sérgio Monteiro, já que este é um dos sócios fundadores da Horizon Equity Partners, cujos fundos investem em empresas que atuam no mercado das energias limpas.
Na avaliação dos requisitos de independência que acompanha a proposta do nome de Sérgio Monteiro, que foi entregue à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), é o próprio gestor que aponta essa relação, mas afasta conflitos de interesse. Sérgio Monteiro nota que os fundos geridos pela Horizon “investem, e continuarão a investir, em sociedades que atuam no mercado das energias renováveis mas que, pela sua dimensão e foco geográfico atual, não concorrem com a sociedade [Greenvolt]”.
Mas Sérgio Monteiro tem outra relação com a Greenvolt. A Horizon participa no capital da GV Investor Holdco, que detém a GV Investor Bidco, que subscreveu obrigações convertíveis em ações da Greenvolt, e que é controlada pela gestora de ativos norte-americana KKR. A KKR, recorde-se, foi a única investidora nessa emissão de 200 milhões de euros da Greenvolt, que se traduzirá na sua entrada no capital da empresa portuguesa de energias renováveis.
Além do investimento da Horizon na sociedade controlada pela KKR, Sérgio Monteiro assume ter celebrado um contrato de consultoria com a GV Investor Bidco. Mas também aqui o antigo membro do Governo de Passos Coelho considera que a sua independência não ficará afetada. “Tal circunstância não afeta a minha isenção de análise ou de decisão no exercício do cargo”, refere o gestor.
Sérgio Monteiro trabalhou na Caixa Geral de Depósitos entre 1996 e 2004, ano em que transitou para o banco de investimento do grupo estatal, o Caixa BI, onde ficou até 2011, chegando à administração. Em 2011 integrou o Governo de Passos Coelho e, embora a sua pasta fosse a das infraestruturas, transportes e comunicações, esteve também envolvido no pacote de privatizações, que incluiu a venda de 21,35% da EDP à China Three Gorges e de 40% da REN à State Grid of China e à Oman Oil.
Depois de sair do Governo, em 2015 Sérgio Monteiro ingressou no Banco de Portugal, participando no processo de venda do Novo Banco, até que em 2018 decidiu fundar o seu próprio negócio de fundos de investimento, criando a Horizon Equity Partners, com uma aposta focada em ativos de infraestruturas e energia, entre outras áreas.
Presidente executivo da Greenvolt custa 850 mil euros
A remuneração que Sérgio Monteiro irá auferir na Greenvolt não foi foi divulgada, mas se o gestor ficar como não executivo deverá auferir algumas dezenas de milhares de euros por ano.
Em 2022 as remunerações brutas anuais dos administradores não executivos situaram-se entre os 45 mil euros e os 100 mil euros (neste patamar estiveram Paulo Fernandes e João Borges de Oliveira, que são também acionistas de referência da Greenvolt). Em termos líquidos essas remunerações representaram para os administradores rendimentos entre os 27 mil e os 58 mil euros.
O presidente executivo da Greenvolt, João Manso Neto, que é, aliás, o único membro executivo da administração, teve direito em 2022 a uma remuneração bruta total de 850 mil euros, dos quais 500 mil euros de componente fixa e 350 mil euros de prémios.
Nota: Notícia corrigida às 14h28 de 07/04/2023, porque o valor inicialmente publicado sobre a remuneração de João Manso Neto estava incorrecto. A notícia indicava que o gestor teve direito a 1,2 milhões de euros brutos, dos quais 850 mil euros fixos e 350 mil euros de prémios, que foram os valores reportados pela Greenvolt no relatório de governo enviado à CMVM. A empresa esclareceu entretanto que esses valores estão incorretos, e que o presidente executivo auferiu em 2022 uma remuneração fixa bruta de 500 mil euros e uma remuneração variável de 350 mil euros.