Agricultores queixam-se de ataques cada vez mais frequentes dos lobos, que já acontecem em pleno dia

Agricultores preferem não pedir apoios. Dizem que fica “mais barato” não comunicar os ataques, pois os processos de ajuda perdem-se na burocracia
Agricultores preferem não pedir apoios. Dizem que fica “mais barato” não comunicar os ataques, pois os processos de ajuda perdem-se na burocracia
Coordenador de Economia
Os agricultores e produtores de gado do norte e centro do país queixam-se dos ataques dos lobos e dizem que os apoios aos prejuízos resultante daquelas investidas são sistematicamente bloqueados pela burocracia.
De acordo com a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), os lesados garantem que fica “mais barato” não comunicar a ocorrência de um ataque de lobo e os respetivos danos do que fazê-lo, e incorrer em gastos com veterinário, abate e remoção de animais atacados ou aquisição de novos, para cumprimento de compromissos de apoios à produção animal.
“O que sucede é que o ICNF (Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas) se mostra incapaz de dar uma resposta atempada e adequada às comunicações de ataques de lobos, sendo reiterados os atrasos que chegam a ser de dias, para chegar aos locais, e acabando por não dar como provado que os danos verificados resultem do ataque de lobos, para tal bastando que haja sinais de que outros animais se alimentaram da carcaça dos animais atacados”, pode ler-se num comunicado da CNA, difundido esta quarta-feira.
No mesmo documento é ainda referido que, nos poucos casos que passam o crivo burocrático do ICNF, “os apoios mostram-se exíguos face aos danos, e demoram até um ano a chegar”.
Os agricultores denunciam que os ataques de lobos têm aumentado nos últimos anos, e que se dão cada vez mais perto das aldeias, mesmo durante o dia. Por outro lado, os prejuízos que dali resultam são cada vez mais avultados, com cada vez mais ataques a animais de maior porte, e com casos de produtores lesados em centenas de animais num ano.
Os agricultores denunciam também, segundo a CNA, que os apoios às colocações de cercas são irrisórios, face às exigências técnicas, e que “não têm em conta a realidade socioeconómica das regiões onde o lobo é mais abundante, pois os animais pastam muitas vezes em pequenas parcelas húmidas e junto a cursos de água, nas proximidades dos quais é proibido haver vedações”. Por outro lado, mesmo quando é possível colocar vedações, estas são muitas vezes arrastadas pelas águas durante o Inverno.
A CNA conclui, referindo que, a manter-se a atual situação, os ataques de lobos são mais um factor que contribuirá para o abandono da atividade agrícola e pecuária nas zonas afetadas, “já de si economicamente muito vulneráveis”, sendo os pequenos e médios produtores familiares os mais afetados.
E sublinha ainda que este cenário que não será bom nem para a produção agrícola e pecuária, nem para a coesão social e territorial do país, nem sequer para a conservação do próprio lobo.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: VAndrade@expresso.impresa.pt