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Trump impulsiona mercados: conheça 10 empresas que já estão a ganhar com o seu regresso

Donald Trump mostra aos jornalistas a carta que o antecessor Joe Biden lhe deixou na Casa Branca
Donald Trump mostra aos jornalistas a carta que o antecessor Joe Biden lhe deixou na Casa Branca
Jabin Botsford/The Washington Post/Getty Images

Apesar da incerteza vivida neste arranque de ano nos mercados financeiros, as bolsas dos EUA e da Europa voltaram a renovar máximos históricos. E há vários sectores “premiados” nestes primeiros dias de Trump no poder

Os primeiros dias de Donald Trump enquanto presidente dos Estados Unidos da América (EUA) têm sido sinónimo de ganhos nas bolsas em todo o mundo, principalmente após ter anunciado o Stargate Project, um megaprojeto de construção de infraestruturas para inteligência artificial que pode chegar aos 500 mil milhões de dólares (cerca de 480 mil milhões de euros) em financiamento.

O S&P 500, índice que reúne as maiores empresas norte-americanas, voltou a renovar máximos históricos na semana passada, à boleia do sector tecnológico. E na Europa o Stoxx 600 fixou também novos máximos. O índice alemão DAX acumula um ganho de 6,8% em 2025, muito acima, por exemplo, do português PSI (1,4%).

“As ações europeias têm beneficiado com uma abordagem mais branda do que o temido por parte de Donald Trump” no que respeita às taxas sobre as importações de produtos da região, a que se somam “expetativas mais firmes de descida de juros por parte do BCE e resultados animadores por parte de diversas companhias”, pode ler-se numa nota de mercados da consultora BA&N.

O anúncio de taxas aduaneiras de 25% sobre todos os produtos que passam a fronteira, com origem no México e no Canadá, assim como as ameaças de mais taxas sobre bens europeus ou chineses, não estão, para já, a assustar os investidores. E os próximos dias vão continuarão a prender-lhes a atenção.

A começar pelos bancos centrais. Na semana passada, o Banco do Japão aumentou as taxas de juro para os 0,5%, o valor mais alto dos últimos 17 anos. Esta semana, será a vez de a Reserva Federal dos Estados Unidos e o Banco Central Europeu debaterem os próximos passos nas respetivas políticas monetárias.

E a acabar nos resultados das empresas. Com a época de resultados a meio, em Wall Street, esta semana trará novidades sobre os números operacionais das maiores empresas tecnológicas do mundo. A Apple, a Microsoft, a Amazon, a Meta e a Tesla vão apresentar resultados e os números podem ser determinantes para manter o bom momento das ações.

Apesar do otimismo que paira estes dias sobre o mercado, continuam os alertas sobre uma eventual sobreavaliação das bolsas. “Os preços das ações estão inflacionados”, alertou Jamie Dimon, presidente-executivo do banco JPMorgan.

Principalmente nos Estados Unidos, várias empresas têm visto a cotação bolsista disparar. Outras estarão bem posicionadas para surfar a onda de uma maior aposta em inteligência artificial ou nos sectores petrolífero e das criptomoedas. E há até empresas que poderão ter beneficiado de uma confusão nas siglas.

O (estranho) caso da Metagenomi

Comecemos pela repentina valorização da Metagenomi. A empresa de biotecnologia foi uma das que mais subiram na sessão de bolsa da última quarta-feira, no rescaldo do anúncio de várias medidas por parte de Trump. Mas isso pode ter resultado de um mal-entendido.

Quando o novo inquilino da Casa Branca anunciou o Stargate Project, uma das empresas envolvidas era a MGX, uma companhia de tecnologia dos Emirados Árabes Unidos. Contudo, MGX é também a sigla com que a Metagenomi, que nada tem a ver com este projeto, está cotada em Bolsa, levando muitos investidores a apostar nela, impulsionando as suas ações, que dispararam mais de 30% em menos de 24 horas.

Apesar deste salto na sua cotação, a empresa, avaliada em 113 milhões de dólares (108 milhões de euros), acumula uma perda de 21% desde o início de 2025 e de 70% no último ano.

Softbank: nos comandos do Stargate

A liderar o projeto de inteligência artificial nos Estados Unidos estará Masayoshi Son, presidente executivo do Softbank, que terá sobretudo responsabilidades financeiras.

O Softbank é um grupo japonês que nasceu em 1981 e, desde então, teve apenas Son como líder. Com sede em Tóquio, é uma empresa focada em telecomunicações e tecnologia, que tem um dos maiores fundos do mundo a investir em empresas tecnológicas, com um capital na ordem dos 100 mil milhões de dólares.

As suas ações acumulam um ganho de 14,4% este ano, mas foi sobretudo com o anúncio do Stargate que sofreram um ganho mais expressivo, uma vez que, até então, não tinham sofrido grandes alterações. De terça para quarta-feira a sua cotação subiu mais de 16%. O seu valor de mercado é de 15,8 biliões de ienes, o equivalente a 97 mil milhões de euros.

Oracle ganha 13% numa semana

Além do Softbank e da OpenAI, empresa de inteligência artificial dona do chatbot ChatGPT, também a norte-americana Oracle estará envolvida neste projeto, ficando responsável pela supervisão da construção das infraestruturas.

“Reconhecida pelo seu papel em soluções de nuvem e de IA, a Oracle destacou-se como uma das maiores beneficiárias, registando uma valorização significativa nas suas ações”, pode ler-se numa nota da corretora XTB, divulgada na semana passada.

As ações da empresa valorizam-se 10,6% desde o início de 2025, sendo que só na semana passada a Oracle teve um ganho de 13,3%.

Microsoft e Nvidia: os gigantes em rampa de lançamento

As norte-americanas Microsoft e Nvidia são as que mais têm beneficiado com a corrida à inteligência artificial nos últimos anos. A Nvidia passou de não constar sequer no Top10 de empresas mais valiosas dos Estados Unidos, para liderar esta tabela.

Trump incluiu as duas no projeto Stargate, dando mais um impulso às suas ações. No caso da empresa liderada por Satya Nadella, as ações subiram 2,3% na semana passada, enquanto a Nvidia ganhou 4,5%. Este ano, os ganhos acumulados são de 6,1% e 3,1%, respetivamente.

A OpenAI, outra das empresas que estarão envolvidas neste projeto, tem como maior investidor a Microsoft, que prevê investimentos em torno dos 80 mil milhões de dólares em 2025, um aumento de 80% face ao ano anterior.

Relação de Musk com Trump pode beneficiar Tesla?

As ações da Tesla têm sido fortemente beneficiadas depois da vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais de novembro. Desde esse dia, a cotação disparou 70,9%.

Mesmo que este frenesim bolsista tenha acalmado nos últimos dias, uma potencial guerra comercial contra a China irá afetar os preços de venda dos automóveis elétricos que chegam aos Estados Unidos com origem em Pequim, o que poderá beneficiar os concorrentes norte-americanos. E aqui é a Tesla que lidera o mercado.

Dan Ives, analista da Wedbush, aumentou recentemente o seu preço-alvo para as ações da Tesla. Agora prevê que, daqui a 12 meses, elas estejam a valer 550 dólares, face aos 515 dólares na sua anterior análise. Isto representa um ganho potencial de 32,5% no espaço de um ano. “Temos uma confiança crescente no aumento das entregas em 2025”, diz, numa nota enviada ao Expresso, ao mesmo tempo que se mostra otimista com o sector devido à aposta da administração Trump.

Ainda assim, a média das previsões dos bancos de Wall Street, segundo uma análise da Factset citada pelo “Financial Times”, aponta para um crescimento das vendas de 16% (para 2,07 milhões de veículos), o que fica abaixo dos 20% a 30% de crescimento que Elon Musk projetava para 2025, em outubro do último ano.

Amizade com criptomoedas pode dar gás ao sector

Trump já referiu que queria tornar os Estados Unidos a capital mundial do bitcoin, a maior criptomoeda do mercado. E a sua relação com o sector tem vindo a aprofundar-se, tendo o presidente da maior economia do mundo lançado a sua própria criptomoeda, dias antes da tomada de posse.

Neste cenário, as empresas deste sector cotadas em Bolsa podem sair beneficiadas. É o caso da Marathon Digital Holdings, que este ano já valoriza 16,2% ou da MicroStrategy (+17,9% só em 2025). Estas são as duas empresas privadas em todo o mundo que têm maior exposição ao bitcoin, sendo que a MicroStrategy lidera esta tabela por larga margem.

A empresa fundada pelo multimilionário Michael J.Saylor voltou a comprar mais bitcoins para o seu balanço nas últimas semanas, aumentando o número de unidades detidas para 461 mil. Ao preço atual do mercado, isto representa mais de 45 mil milhões de euros. O bitcoin disparou 54% desde a eleição de Trump.

A beneficiar com a perspetiva de que uma maior desregulação nas criptomoedas traga mais investidores amadores, a corretora low cost Robinhood, cujos títulos também são negociados em Bolsa, tem sido outra das grandes vencedoras em 2025. Nestas primeiras semanas, a sua cotação expandiu 27,18%.

Aposta no petróleo pode sorrir à Shell e à Chevron

A chegada de Trump à Casa Branca é sinónimo de uma maior aposta no sector petrolífero. Uma das suas ordens executivas, assinadas logo no primeiro dia, foi decretar “emergência nacional” para impulsionar exploração de recursos naturais como o gás natural e o petróleo.

Nesta perspetiva, há duas gigantes no sector que têm valorizado. Trata-se da Shell, que valoriza 3,7% deste o início deste ano, e da Chevron, que avança 6,1%. A primeira tem um valor de mercado de 161 mil milhões de dólares e a segunda vale 281 mil milhões de dólares.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: galmeida@expresso.impresa.pt

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