Tesla torna Musk €70 mil milhões mais rico após vitória de Trump: quem investe na empresa ainda está a investir em carros elétricos?
Kevin Dietsch
Empresa tem estado em alta desde a eleição de Trump, apesar do seu discurso contra a indústria dos veículos elétricos. Nome do criador é maior do que a sua criação, mas será que é para Musk que os investidores olham quando investem na Tesla?
“Deixe-me dizer, temos uma nova estrela aqui. É um tipo especial, um super génio. Temos de proteger os nossos génios, não temos assim tantos". Estas palavras foram ditas por Donald Trump, durante a campanha eleitoral para as presidenciais dos EUA. O "génio" a que o novo dono da Casa Branca se referia era Elon Musk, o homem mais rico do mundo, que reforçou essa posição desde a eleição do republicano acrescentando 75 mil milhões de dólares (o equivalente a cerca de 71 mil milhões de euros) à sua fortuna avaliada em 335 mil milhões de dólares, até ontem, segundo o Bloomberg Billionaire Index.
Grande parte desta valorização deveu-se ao desempenho em Bolsa da Tesla, a sua empresa de veículos elétricos, apesar da correção registada esta terça-feira. Desde a véspera das eleições, o valor de mercado desta cotada norte-americana engordou 37% ou cerca de 300 mil milhões de dólares em termos líquidos. Destes, mais de 65 mil milhões de dólares dizem respeito à participação de Elon Musk na empresa (em torno dos 20,5%).
Só que, o mercado tem estado a absorver sinais contraditórios nos últimos dias, uma vez que Donald Trump tem uma agenda anti indústria de veículos elétricos que foi partilhada várias vezes durante a campanha eleitoral. O republicano prometeu eliminar os benefícios fiscais na compra de carros elétricos, assim como acabar com as metas estabelecidas pelo Governo para a indústria automóvel, que implicavam que metade dos novos carros vendidos em 2030 fossem elétricos.
Logo após o resultado eleitoral, a reação em Bolsa demonstrou esta relação azeda entre Trump e as empresas de carros elétricos, com quase todas a reagirem em queda: a Rivian e a Polestar caíram mais de 8%, a Lucid e a Nio perderam mais de 5% em Wall Street. A Tesla foi e continua a ser a exceção. A empresa de Musk valorizou-se quase 15% no dia seguinte às eleições, tendo sido a empresa cujo valor de mercado mais engordou nessa sessão, a seguir à Nvidia.
Tesla imune ao setor?
A Tesla é “indiferente” às novas políticas sobre veículos elétricos ditadas pela administração Trump, escreve John Murphy, do Bank of America, numa nota, após ter sido o analista que mais aumentou o preço-alvo para a empresa, segundo a FactSet, em 85 dólares passando a prever que cada título da Tesla valerá 350 dólares dentro de 12 meses (acima dos 342 de hoje). Mas então, quem investe na Tesla está a investir ainda em carros elétricos?
Dan Ives, analista da Wedbush, considera que Musk "fez uma aposta para os próximos anos" quando se juntou à campanha ao lado de Trump e investiu mais de 130 milhões de dólares nela. "O maior ponto positivo de uma vitória de Trump é para a Tesla e para Musk. A presidência de Trump será globalmente negativa para a indústria de veículos elétricos, uma vez que é provável que os incentivos fiscais sejam retirados", considera Ives, acrescentando que os investidores estão a ignorar este facto e a olhar mais para a relação entre Trump e Musk, que podem dar ao multimilionário nascido na África do Sul um lugar no Departamento de Eficiência do Estado (DOGE, na sigla em inglês), uma comissão que será criada pelo republicano para auditar os gastos da Casa Branca. Mesmo antes do organismo existir, Musk já tem uma ambição: cortar 2 biliões de dólares em gastos e reduzir o escrutínio regulatório em vários setores, o que poderia beneficiar também as suas empresas.
Há analistas ainda mais otimistas com a prestação da Tesla nos próximos meses, como é o caso de Frank Cappelleri, fundador da CappThesis, que considera que os 400 dólares por ação podem ser atingidos, caso as ações se consigam manter acima do patamar dos 270 dólares nos próximos dias. Mais do que investir na indústria de carros elétricos, o mercado olha agora para o investimento na Tesla como a forma mais direta que qualquer um tem para investir em Musk. "Talvez os investidores estejam a antecipar-se em demasia, mas também é possível que o mercado esteja a farejar outra coisa. De qualquer das formas, será preciso que o crescimento dos lucros acelere para que as ações da Tesla mantenham este impulso em 2025", escreve o editor Al Root, no Barron's.
No entanto, em termos operacionais, a Tesla parece bem posicionada face às rivais norte-americanas. Nos últimos resultados que apresentou, relativos ao terceiro trimestre, antecipava um aumento das margens no último trimestre do ano, abrindo porta a uma sequência de trimestres bem sucedidos. A empresa é também a única fabricante automóvel a antecipar um aumento de produção no próximo ano. Razões que parecem ter sido suficientes para que os fundos de investimentos diminuíssem a sua aposta na queda das ações e se mostrassem mais otimistas com o seu futuro.
A Tesla também está a beneficiar com a escalada do bitcoin desde as eleições norte-americanas, com a criptomoeda a aproximar-se dos 90 mil dólares, renovando máximo histórico atrás de máximo histórico. Isto porque no seu balanço, a empresa de veículos elétricos detém 9720 bitcoins, uma outra fortuna avaliada em 847 milhões de dólares, tendo em conta a atual cotação do bitcoin.
Para além de ser dono de mais de 20% das ações da Tesla disponíveis no mercado, a teia de influência de Elon Musk ultrapassa a fabricante de veículos elétricos e foi reforçada em 2022, com a compra de 79% da rede social Twitter (mudando-lhe o nome para X) por 44 mil milhões de dólares. Foi também um dos fundadores da OpenAI, empresa-mãe do sistema de inteligência artificial ChatGPT, tendo acabado por sair da empresa mais tarde. É também fundador e dono da SpaceX, a startup mais valiosa do mundo, avaliada em 210 mil milhões de dólares e tem participações noutras startups como a Neuralink, a xAI e a The Boring Company.
Nascido na África do Sul, filho de pai engenheiro e mãe nutricionista, Musk saiu de casa aos 17 anos para a faculdade. Formou-se em física e economia pela Universidade da Pensilvânia e esteve apenas alguns dias matriculado na Universidade de Stanford, tendo desistido para começar com os seus negócios. Criou a Zip2, uma empresa tecnológica, com o seu irmão, e vendeu-a quatro anos mais tarde por 300 milhões de dólares. Parte desse dinheiro foi usado para fundar uma outra empresa chamada X.com, de pagamentos online, que acabaria por se tornar anos mais tarde a PayPal, vendido ao eBay por 1,5 mil milhões de dólares em 2002. Depois, avançou com a criação da empresa espacial SpaceX e, um ano mais tarde (2010), com a Tesla.