Em junho deste ano, a alemã Covestro, empresa da indústria química sedeada em Leverkusen, foi comprada pela Abu Dhabi National Oil por um valor superior a 14 mil milhões de euros. Este foi o maior negócio envolvendo empresas do 'Velho Continente' na primeira metade deste ano, altura em que se registou uma redução no número de transações, mas um aumento no valor total face ao mesmo período do ano passado, de acordo com um estudo divulgado pela sociedade de advogados CMS.
As fusões e aquisições foram impulsionadas pelas maiores empresas, que contribuíram para que todos os negócios do semestre em análise atingissem os 439 mil milhões de euros (uma subida de 31% face ao período homólogo). No entanto, o número de transações caiu 8% para os 7868.
Os números “sinalizam um aumento de confiança dos investidores no mercado e uma alteração de tendência no M&A [mergers and acquisitions, mercado de fusões e aquisições], com uma ligeira quebra do número de transações, mas um aumento bastante expressivo do valor dessas transações”, explica ao Expresso João Caldeira, sócio da CMS Portugal. Este ano foi superior ao anterior neste segmento de negócios, sendo que, historicamente, o segundo semestre tende a ser mais agitado do que o primeiro.
Valor dos negócios até junho supera período homólogo
Em milhões de euros
Os 20 maiores negócios movimentaram 138,4 mil milhões de euros, o que equivale a quase um terço do montante total (32%), apesar de só corresponder a 0,2% de todas as transações. Além da venda da Covestro, o pódio das maiores transações é completado por dois negócios domésticos. Um deles diz respeito à compra do espanhol Banco de Sabadell pelo BBVA (por 11,4 mil milhões) e pela venda da dinamarquesa Novo Holdings à Novo Nordisk por 10,2 mil milhões.
Destas 20 maiores transações, seis dizem respeito ao setor tecnológico e de telecomunicações, onde a venda de 49% da fábrica da norte-americana Intel na Irlanda pela Apollo Global Management (por 10 mil milhões) liderou a tabela.
Reino Unido e Irlanda lideram negócios do Top 10
Dez maiores transações do primeiro semestre
Consolidação deverá continuar
O estudo da CMS incorpora um inquérito feito a 330 executivos espalhados pela Europa, Américas e Ásia-Pacífico, que se mostram confiantes com o número de negócios a serem realizados nos próximos 12 meses. Cerca de dois terços esperam que as fusões e aquisições aumentem, uma subida exponencial face aos 35% que acreditavam nesse cenário no inquérito feito no ano passado.
“A expetativa de aumento da atividade transacional nos próximos meses resulta de um aumento de confiança dos investidores que se deve a diversos fatores, designadamente à redução da inflação e das taxas de juro na Europa, tendência essa que, salvo acontecimentos extraordinários, se deverá manter no futuro próximo”, diz o sócio da CMS Portugal, João Caldeira.
No entanto, o sócio Francisco Xavier de Almeida acrescenta que existem riscos, “designadamente ao nível do financiamento das transações, desempenhos menos positivos das empresas e uma diferença persistente entre as expetativas dos vendedores e dos compradores em termos do preço, o que dificulta a negociação e a concretização das operações”.
Mais de metade dos inquiridos preveem ainda que o interesse de empresas e fundos do Médio Oriente aumente 55% no próximo ano. Nestes primeiros seis meses só um negócio envolveu uma empresa desta região. Os negócios deverão crescer mais no Reino Unido e Irlanda, na Alemanha e nos países do Benelux (Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo), de acordo com os inquiridos.
Os EUA foram o maior parceiro comercial nestes primeiros seis meses do ano com cerca de 550 negócios realizados, movimentando mais de 100 mil milhões de euros. O inquérito mostra ainda que 98% das empresas e executivos fora da Europa pretendem investir no continente nos próximos 12 meses.
Número de negócios diminuiu face ao período homólogo
Número de transações, por semestre
Portugal também no radar?
No primeiro semestre de 2024, o número de fusões e aquisições na Península Ibérica caiu 11% face ao período homólogo para os 643 negócios. Mas, tal como acontece no contexto global, o valor dos negócios subiu 62% para os 37,9 mil milhões de euros.
Para estes números contribui essencialmente Espanha, com dois negócios no Top 20: o primeiro, já referido, entre BBVA e Sabadell, e o segundo envolvendo a compra de 86% da Dorna Sports, que detém os direitos do Grande Prémio de motociclismo, por 3,7 mil milhões de euros pela norte-americana Liberty Media, que já detém os direitos da Fórmula Um. No total, as duas transações equivalem a mais de 15 mil milhões de euros, quase metade do total.
Tiago Valente de Oliveira, sócio da CMS, explica ao Expresso que é importante que existam negócios deste género, especialmente em países pequenos como Portugal, para que as empresas possam ganhar escala. “É através da consolidação que as empresas se tornam mais fortes e resilientes às volatilidades do mercado ou do setor. Esta consolidação é também essencial para a competitividade de todos aqueles que pretendam impulsionar a sua atividade no mercado externo, de maior dimensão ou mais competitivo”, acrescenta.