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Um disparo de 100% em bolsa, uma derrocada de quase 90% e uma falência: o que é feito das empresas que se tornaram 'meme stocks'?

Um disparo de 100% em bolsa, uma derrocada de quase 90% e uma falência: o que é feito das empresas que se tornaram 'meme stocks'?
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Na pandemia, milhões de investidores amadores espalhados pelo mundo levaram o nome de pequenas empresas da bolsa, menos conhecidas, para os títulos dos jornais. Depois de toda a volatilidade desaparecer, algumas delas conseguiram vingar, outras faliram

Stonks, To the moon, YOLO, FOMO, Tendies ou BTFD. Estes termos saltaram para o vocabulário dos mercados financeiros no início de 2021, durante a pandemia da covid-19, quando milhões de pequenos investidores se juntaram nas redes sociais para investirem em manada num conjunto de empresas que ficaram conhecidas como meme stocks, assim designadas porque as suas ações se popularizaram através de campanhas virais, com memes, nas plataformas digitais. Entretanto, o entusiasmo passou, a cotação destas empresas está longe dos valores atingidos nessa altura, mas muitas delas continuam a ser procuradas.

Várias cotadas passaram de uma vida discreta no mercado de capitais para a ribalta nessa altura e as suas cotações em bolsa entraram numa espécie de montanha-russa: ora disparavam para máximos, ora perdiam quase todo o seu valor. A mais conhecida destas companhias é a Gamestop, que esta semana apresentou um lucro trimestral de 14,8 milhões de dólares (cerca de 13,4 milhões de euros), depois de, antes da pandemia, estar quase para falir e com prejuízos equivalentes a 400 milhões de euros, no segundo trimestre de 2019.

A retalhista de videojogos passou de valer pouco mais de 3 dólares por ação para mais de 81 dólares por ação, em poucos dias. Entretanto, o preço estabilizou e, apesar de longe desses valores, acumula um ganho de 19% este ano, nos 20 dólares por título. Se olharmos para os últimos cinco anos, valorizou 1700%.

Ações da Gamestop valorizam 20% este ano

Variação da cotação da empresa de videojogos, em dólares

Este ano, o espírito revolucionário dos investidores que se juntavam no Reddit - um fórum na Internet onde tudo começou - deu ares da sua graça quando Roaring Kitty, o youtuber que iniciou esta corrida às ações da Gamestop em 2021, voltou a publicar nas suas redes sociais, dando a entender que estaria novamente a investir na empresa de videojogos.

Nesse momento, os seus seguidores no Reddit entraram em polvorosa. Na publicação original, onde se podia ler “Baby, acorda, o DFV – outra das suas alcunhas – publicou no Twitter”, caiu uma chuva de comentários como “The boys are back in town” (Os rapazes estão de volta, na tradução para português, ou “I don’t care if I lose more money, let’s goooooo” ("Não me interessa se perco mais dinheiro, vamos a isso") foram alguns dos comentários registados após a publicação de “Roaring Kitty”.

Em 2021, a explosão do caso foi de tal amplitude que, em fevereiro desse ano, Keith Gill - o seu nome verdadeiro - foi chamado ao comité dos serviços financeiros da Câmara dos Representantes por possível manipulação de preços com esse grupo de investidores. Na sua primeira intervenção começou por esclarecer que “não era um gato” – a sua imagem de marca nas redes sociais.

A Gamestop tem sentido dificuldades em sobreviver no mercado, uma vez que o seu negócio principal é a venda de videojogos em formato físico – algo que está em desuso e a ser substituído pelas versões digitais.

Michael M. Santiago/Getty Images

Uma falência pelo caminho

Mas este grupo de meme stocks inclui outras empresas em que estes investidores apostavam em massa. Algumas vão voltando a estar sobre os holofotes, de quando em vez, mas também já houve uma falência a registar. Trata-se da norte-americana Bed, Bath & Beyond, que fechou portas no primeiro semestre do ano passado após ter acumulado dívidas em torno dos 4000 milhões de dólares e incapacidade para as pagar.

Durante esta época, a sua cotação chegou a valer 35 dólares e, no seu último dia em bolsa, em março de 2023, cada título valia menos de 1 dólar.

A lista destas empresas é extensa e tem-se renovado com o passar dos anos, mas algumas continuam na mira dos investidores. É o caso da AMC, cadeia de cinemas norte-americana, que este ano desvaloriza 20%, ou da finlandesa Nokia, que acumula um ganho de 19%. Outra norte-americana, a Blackberry, desvaloriza 28% e há dois casos onde as variações são mais expressivas.

Primeiro, a Virgin Galactic - empresa de voos espaciais - que este ano renovou mínimos históricos, acumulando perdas de quase 90%. A companhia fundada pelo multimilionário britânico Richard Branson entrou em bolsa em 2019, depois de captar mais de mil milhões de euros em financiamento. Atingiu o máximo histórico à boleia deste conjunto de investidores nos 62,80 dólares e agora vale pouco mais de 6 dólares por ação.

Conferência de imprensa da Virgin Galactic, depois da aterragem da missão Galactic 07.
Anadolu // Getty Images

Por outro lado, a Palantir Technologies é um dos raros casos em que o valor atual da cotação é neste momento semelhante ao de 2021, quando atingiu os 35 dólares. Este ano, a empresa tecnológica valorizou mais de 100%, duplicando o seu valor nestes nove meses. Em termos operacionais, a cotada norte-americana tem conseguido aumentar lucros e receitas, superando as expectativas dos analistas.

O glossário das meme stocks

  • Apes. Nome dado aos membros da comunidade de investidores que aposta em meme stocks. A referência vem do filme 'Planeta dos Macacos: A Origem', que na versão em inglês se chama Rise of the Planet of the Apes.
  • BTFD. Um acrónimo usado para a expressão Buy The Fucking Deep, que em português é um incentivo a investir-se em certas ações, depois de desvalorizarem.
  • Stonks. Uma expressão que deriva da palavra stocks (ações, em português) para caracterizar um investimento bem-sucedido.
  • To the moon. Em português significa 'para a lua' e quer passar a ideia de que um ativo vai disparar em bolsa.
  • Tendies. É uma expressão curta que deriva de chicken tenders, pedaços de frango muito conhecidos nos restaurantes de fast food que querem significar os lucros obtidos pelo investimento em meme stocks.
  • YOLO. Significa You only live once (tu só vives uma vez) e é um acrónimo usado entre este conjunto de investidores para incentivar outros a investir nestas ações.
  • FOMO. É um acrónimo anterior a este fenómeno das meme stocks, muitas vezes aplicado às redes sociais. Em inglês significa Fear of missing out, ou seja, medo de ficar de fora. Aplicado a este mundo, é usado pelos investidores que não querem ficar de fora de uma tendência de investimento.
  • Diamond hands. Mãos de diamante, em português, é uma expressão usada quando estes investidores mantêm os seus investimentos, em vez de os vender. Como se tivessem diamantes na sua mão.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: galmeida@expresso.impresa.pt

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