Bolsa e Mercados

Portugal emite €1,78 mil milhões em Obrigações do Tesouro pagando juros mais baixos do que Espanha

Medina prevê €13,9 mil milhões em emissões este ano
Medina prevê €13,9 mil milhões em emissões este ano
Foto José Fernandes

Portugal regressou esta quarta-feira ao mercado de obrigações, tendo emitido em três leilões dívida de médio e longo prazo num total de 1784 milhões de euros. O Tesouro já colocou 54% do total que prevê emitir em obrigações para este ano

Portugal emite €1,78 mil milhões em Obrigações do Tesouro pagando juros mais baixos do que Espanha

Carlos Esteves

Jornalista infográfico

Portugal regressou esta quarta-feira ao mercado obrigacionista na zona euro tendo realizado um leilão triplo e emitindo dívida no valor de 1784 milhões de euros. Com esta terceira operação do ano (depois de uma colocação sindicada e um triplo leilão em janeiro), a Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP) já emitiu 54% dos 13,9 mil milhões de euros em dívida obrigacionista programados para 2024.

Esta operação de mercado realiza-se com o governo de António Costa em gestão e com o ministro das Finanças, Fernando Medina, de saída. As eleições legislativas antecipadas realizam-se a 10 de março.

Os juros pagos foram de 2,656% na dívida a amortizar em junho de 2029, de 3,149% no prazo de outubro de 2034, e de 3,568% no vencimento em abril de 2052. Em janeiro, na operação sindicada de lançamento da linha de obrigações a vencer em outubro de 2034 (e que passou a ser referência no mercado para o prazo a 10 anos), o Tesouro pagou uma taxa inferior de 2,997%.

“Em janeiro, Portugal tinha realizado um leilão triplo com maturidades diferentes das atuais [2028, 2042 e 2045], no entanto, o prémio de risco de Portugal subiu no último mês, o que acaba por se traduzir em taxas mais elevadas em todas as maturidades e superiores às do leilão anterior”, refere Filipe Silva, diretor de investimentos do Banco Carregosa.

No entanto, nas emissões a vencer em 2034 e 2052, Portugal pagou juros mais baixos do que as operações similares realizadas em Espanha já este mês: 3,17% e 3,693% respetivamente.

EMISSÃO DE OBRIGAÇÕES DO TESOURO

Em mil milhões de euros

No detalhe das operações, o IGCP colocou colocou 453 milhões de euros a vencer em 2029 (referência do prazo a cinco anos) com uma procura 1,53 vezes superior à emissão e com taxa de 2,656%; nos títulos a vencer em 2034 (referência a 10 anos) colocou 800 milhões de euros, com uma procura de 1,29 vezes a oferta e taxa de 3,149%, e na linha a 28 anos colocou 531 milhões de euros com uma procura de 2,13 vezes a oferta e taxa de 3,568%.

O spread da dívida portuguesa baixou de 76 pontos-base no final de dezembro do ano passado para 70 pontos-base esta quarta-feira no mercado secundário da dívida (onde se transacionam os títulos entre os investidores), mas no mercado primário de emissão as taxas pagas pelo Tesouro estão em alta. O spread é o prémio de risco exigido pelos investidores em relação ao custo de financiamento da dívida alemã, que serve de referência na zona euro. O prémio da dívida portuguesa tem sido o mais baixo entre os países periféricos. Com spreads superiores encontram-se Eslovénia, Croácia, Espanha, Chipre, Grécia, Eslováquia, Malta, Lituânia e Itália.

O movimento da curva de taxas de juro nacional está associado às expetativas de cortes de taxas de juros do Banco Central Europeu. Depois de um grande otimismo no final de 2023, o mercado tenta agora encontrar a taxa neutral à medida que os dados económicos vão sendo divulgados. As expetativas do mercado para os possíveis cortes de taxas para este ano têm vindo a mudar, o que acaba por se refletir nos prémios de risco de cada geografia. Não obstante esta subida do risco nacional, a mesma está alinhada com os movimentos de toda a dívida soberana europeia. Portugal tem vindo a conseguir reduzir o seu nível de endividamento face ao PIB e continua a ser o país da periferia com o spread mais baixo face à Alemanha”, acrescenta Filipe Silva.

Para Ricardo Marques, economista da consultora Informação de Mercados Financeiros, “apesar [dos leilões] estarem em linha com os atuais preços no mercado secundário, os custos foram mais elevados que os valores registados na última semana, refletindo a surpresa negativa de uma redução da inflação em janeiro inferior ao esperado nos EUA [a inflação desceu de 3,4% em dezembro para 3,1%, mas os analistas esperavam 2,9%], o que levou a que as expetativas para um primeiro corte de taxas naquele país pela Reserva Federal fossem adiadas, ajudando a uma subida dos rendimentos das obrigações quer no país que a nível global”.

Grécia coloca 400 milhões e Alemanha 35 mil milhões

Esta quarta-feira foram, também, ao mercado os Tesouros germânico e helénico. A Alemanha colocou 28 mil milhões de euros em dívida a vencer em agosto de 2053 pagando 2,53%, acima da taxa de 2,45% paga na operação similar anterior. Com maturidade em agosto de 2054, o Tesouro germânico emitiu 7 mil milhões de euros, pagando uma taxa de 2,53%, ligeiramente inferior à taxa de 2,54% paga aquando da operação sindicada de lançamento em janeiro desta nova linha de referência a 30 anos.

Na Grécia, o Tesouro colocou 400 milhões de euros, em dois leilões. Na operação a vencer em junho de 2028, a agência de gestão da dívida (PDMA) pagou 2,85%, e nas obrigações com maturidade em junho de 2033 pagou 3,32%. Estes juros foram superiores aos pagos pelo Tesouro português em operações em janeiro nos leilões das obrigações a vencer em 2028 (2,471%) e esta quarta-feira no leilão da dívida com maturidade em 2034 (3,149%).

Tesouro português vai emitir mais €4,5 mil milhões que em 2023

No programa de financiamento para 2024, o IGCP prevê colocar 13,9 mil milhões de euros em dívida de médio e longo prazo (Obrigações do Tesouro e Notas de Médio Prazo), mais 4,5 mil milhões de euros do que o executado no ano anterior.

A dívida obrigacionista colocada em 2023 foi o valor mais baixo desde 2019. A emissão de dívida atingiu um pico de 27,2 mil milhões de euros no ano da pandemia.

O stock da dívida pública fechou em 251,7 mil milhões de euros em dezembro de 2023, uma redução de quase sete mil milhões em relação ao final do ano anterior.

E o rácio da dívida pública desceu de 112,4% do Produto Interno Bruto (PIB) no final de 2022 para 98,7% no final de 2023, o nível mais baixo desde o terceiro trimestre de 2010 (97,7%).

PORTUGAL VAI PERDER POSIÇÕES NO GRUPO DOS JUROS MAIS BAIXOS

Projeção de juros da dívida a 10 anos em junho de 2024

Eslovénia, Chipre e Grécia poderão ter juros mais baixos em setembro

Para setembro deste ano, já depois de o Banco Central Europeu ter provavelmente iniciado um ciclo de corte nas taxas diretoras, as projeções do algoritmo do portal World Government Bonds (WGB) apontam para uma perda de posições de Portugal no grupo dos países com juros mais baixos na zona euro.

As projeções apontam para juros de 2,52% para as obrigações portuguesas a 10 anos, face a 2,5% ou menos para Eslovénia, Chipre e Grécia. A distância de Portugal face à Bélgica amplia-se.

Até agora, Portugal encontrava-se em nono lugar, logo a seguir à Bélgica e, segundo as projeções para setembro, passará para a décima primeira posição. Uma degradação da vantagem em termos de juros e de spread de que beneficiou em 2023 em relação ao grupo dos periféricos.

As projeções do algoritmo do WGB revelam uma melhoria muito substancial da Eslovénia, Chipre e Grécia - nos dois últimos casos, economias que estiveram sob resgate pela troika durante a crise das dívidas, tal como Portugal.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: Cesteves@expresso.impresa.pt

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