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Pânico financeiro propaga-se rapidamente e é menos previsível, avisa conselheiro financeiro do FMI

Pânico financeiro propaga-se rapidamente e é menos previsível, avisa conselheiro financeiro do FMI
Boris Roessler/picture alliance/Getty Images

Os recentes episódios de crise no sector bancário e nas bolsas mostram que, com as aplicações móveis e as redes sociais, o contágio financeiro é muito mais rápido e inesperado, alertou Tobias Adrian esta terça-feira na apresentação do Global Financial Stability Report do FMI

Os episódios de crise no sector bancário europeu e norte-americano em março trouxeram uma novidade, alertou esta terça-feira Tobias Adrian, o conselheiro financeiro do Fundo Monetário Internacional (FMI). Na apresentação do relatório sobre a situação financeira mundial, o Global Financial Stability Report (GFSR), o Fundo avisou que “o stresse no sector bancário pode propagar-se muito mais rapidamente e ser menos previsível”.

Este novo ritmo acelerado e a imprevisibilidade do pânico financeiro no sector bancário e nas bolsas de ações, particularmente nos bancos cotados, devem-se à revolução tecnológica recente, que massificou as aplicações móveis e a participação e influência das redes sociais. “A recente turbulência bancária demonstrou a influência crescente das aplicações móveis e das redes sociais em espalharem alocações repentinas de ativos financeiros”, refere Tobias Adrian.

Essa é a principal lição dos episódios recentes na banca norte-americana de média dimensão e na crise súbita do Credit Suisse na Europa, o primeiro caso desde 2008 de uma falência de um grande banco global “sistemicamente importante”, refere o GFSR.

Crise contida, mas 'sentimento no mercado" continua frágil

Os dois surtos de crise bancária em março foram rapidamente resolvidos e, por isso, o FMI considera que “as ações rápidas e decisivas contiveram as ameaças imediatas à estabilidade financeira”, refere o relatório sobre a situação financeira mundial divulgado esta terça-feira.

A crise financeira potencial foi travada nas economias desenvolvidas e o contágio para os sistemas bancários dos países emergentes também foi contido, sublinha o GFSR.

O Fundo recorda a intervenção rápida nos Estados Unidos da Federal Deposit Insurance Corporation, garantindo, a título excecional, a totalidade dos depósitos nos bancos em falência, e a nova linha de apoio à liquidez lançada pela Reserva Federal, o banco central, garantindo a liquidez que fosse necessária a todo o sistema bancário norte-americano.

Na Europa, as autoridades helvéticas procederam a uma resolução rápida do Credit Suisse, um banco considerado “sistemicamente importante” que acabou por ser adquirido pelo grupo UBS.

No entanto, “o sentimento do mercado continua frágil”, sublinha o relatório do FMI sobre a situação financeira mundial. Permanece uma questão incómoda nos participantes dos mercados e nos responsáveis pelas políticas, alerta o relatório.

“A questão fundamental (…) é saber se estes acontecimentos recentes são um prenúncio de mais stresse sistémico que irá testar a resiliência do sistema financeiro global, se são uma espécie de canário na mina, ou se se trata simplesmente de manifestações isoladas dos desafios que foram criados pelas [novas] condições criadas pelo aperto nas condições monetárias e financeiras depois de mais de uma década de ampla liquidez”, pode ler-se no documento.

O FMI chama a atenção para algumas vulnerabilidades e incertezas: o desempenho do sector financeiro não bancário - a que alguns chamam de sector financeiro na sombra -, os problemas de financiamento nas economias em desenvolvimento, o risco de crises de dívida pública num grupo largo de economias pobres e em desenvolvimento, a evolução do imobiliário, em particular na China, a capacidade de resistência das famílias e das empresas ao disparo no custo do financiamento, e, finalmente, a tendência para a fragmentação geopolitica e geoeconómica, se as tensões geopolíticas não forem mitigadas.

O FMI deixa a sugestão de o sector financeiro não bancário poder recorrer diretamente aos instrumentos de liquidez fornecidos pelos bacos centrais, desde que seja acautelado o “risco moral” que pode ser explorado por essas entidades.

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