Capitalismo popular de volta? Peso dos pequenos investidores na Bolsa de Lisboa triplica em três anos

Brasileiros e americanos contribuem para aumento de investidores particulares a fazer negócios com ações na bolsa portuguesa
Brasileiros e americanos contribuem para aumento de investidores particulares a fazer negócios com ações na bolsa portuguesa
Jornalista
A Bolsa de Lisboa tem vindo a registar um maior volume de negócios de troca de ações, impulsionado pelo crescimento do número de pequenos investidores. No ano 2022, 15% dos negócios na bolsa nacional foram destes investidores individuais, uma proporção que é o triplo da que se registava em 2019.
“Não sei se chamaria capitalismo popular, mas estamos a assistir ao crescimento do número de investidores, mas investidores tecnologicamente mais sofisticados, financeiramente mais literatos, sabem no que estão a investir, têm acesso a informação, consultam a informação, e funcionam muito online”, segundo explicou Isabel Ucha, a presidente da Euronext Lisbon, a gestora da bolsa portuguesa, num encontro com jornalistas que teve lugar esta terça-feira, 28 de fevereiro, em Lisboa.
Os volumes de ações negociados na bolsa nacional subiram 21% em 2022 face ao ano anterior, totalizando 137 mil milhões de euros, sendo que é um montante 60% superior aos valores registados no período pré-pandemia. A guerra deu um impulso, sendo que o verão também foi positivo.
Deste volume, 15% foi protagonizado por investidores individuais, que não são qualificados (como bancos, seguradoras, ou fundos de investimento). A proporção estava em torno de 6% há três anos, em 2019.
“Há um aumento significativo do número de investidores que investem nas ações portuguesas”, concretiza Isabel Ucha. Há subida no número de portugueses, mas também há uma “vaga de estrangeiros”.
Vêm do “Brasil, Estados Unidos, França, estão a viver em Portugal, e a descobrir Portugal como porta para investirem, para trabalharem, e a investir também em ações e instrumentos cotados na Euronext”, continuou, dizendo que consegue ter noção dessa tendência pelas conversas que vai tendo com os intermediários financeiros com que estes estrangeiros trabalham.
Um desenvolvimento que Isabel Ucha constata, apesar de durante anos o mercado acionista se ter ressentido dos grandes escândalos do Banco Espírito Santo e da Portugal Telecom, bem como com os difíceis processos de saída de bolsa da Brisa e Cimpor, há uma década, que foram muito criticados por pequenos investidores.
A bolsa nacional tem até um maior peso destes investidores particulares (alguns são “financeiramente mais abastados, mais ricos”) do que outros mercados Euronext, como Amesterdão (5%) ou Bruxelas e Paris (3,5% em ambos).
A Euronext é a plataforma bolsista que lidera a admissão de ações na Europa, presente em Portugal mas também naqueles países europeus, juntando mercados como Irlanda e mais recentemente Itália.
Em relação ao mercado de obrigações, a Euronext Lisbon assume que tem um trabalho a fazer com as empresas nacionais. Era tradição que as empresas fizessem as operações de pedido de financiamento fora do país, com emissões cotadas em mercados como Irlanda e Luxemburgo, mas a presidente da Euronext Lisbon considera que não faz já sentido essa deslocalização.
Atualmente, já não há diferenças no tratamento fiscal, nem no tratamento regulatório.
“Não há qualquer dúvida que o acesso aos investidores é exatamente equivalente [nos vários mercados]. É mais um tema de alguma inércia, de algum histórico, de fazer estas emissões nessas praças, que criaram mecanismos estandardizados para fazerem estas emissões”, declarou Isabel Ucha.
Um exemplo foi a Caixa Geral de Depósitos, que admitiu à negociação 500 milhões de euros no mercado luxemburguês, e não em Portugal.
“É um diálogo que nós e a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários temos feito com a Caixa, para fazer emissões através da Euronext”, admitiu a líder da gestora bolsista.
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