Na semana em que a Bitcoin disparou mais de 21%, quem foi à Bitcoin Atlantis sabia que não iria encontrar um ambiente pesado. Os últimos dois anos, marcados por perdas e escândalos, já lá vão. A cotação do primeiro criptoativo está em franco crescimento desde o início do mês de fevereiro, disparando 45% em trinta dias.
Mas na conferência dedicada exclusivamente à Bitcoin que decorre de 1 a 3 de março no Funchal, na Madeira, os evangelizadores deste criptoativo não baixaram os braços e exortaram um público totalmente convertido a não deixar cair a fé neste ativo criptográfico descentralizado.
Um dos oradores mais esperados do dia foi Michael Saylor, co-fundador e atualmente chairman da empresa norte-americana de software MicroStrategy, detentora da maior posição privada de Bitcoin do mundo: 193 mil Bitcoins. O que significa que Saylor enriqueceu, em cinco dias, dois mil milhões de dólares.
Percebeu-se pela afluência que grande parte das centenas de assistentes na bancada do Estádio do Marítimo - na sua esmagadora maioria homens - estava ali para ouvir o milionário norte-americano. Acotovelavam-se participantes junto às entradas, tiravam-se fotos, filmava-se o momento para inspiração futura, talvez para recapitular aprendizagens.
Quando começou a sua apresentação, Saylor reconheceu que a sua vinda à Madeira, ilha que quer-se dar a conhecer globalmente como Bitcoin-friendly, fora motivada em parte pelo presidente do Governo Regional da Madeira (hoje demissionário), Miguel Albuquerque.
O líder do Executivo madeirense conheceu o milionário numa visita a Miami, em 2022, precisamente para apresentar, numa conferência, a Madeira como destino amigo dos ‘bitcoiners’, posicionando a região oficialmente e pela primeira vez no mapa da criptoeconomia global. Chegou até a visitar a mansão de Saylor, onde terá ouvido os argumentos do milionário pró-Bitcoin. Os argumentos, repetidos em 2024, já a esmagadora maioria do público presente nos Barreiros os tinha ouvido e sabia-os de trás para a frente. Não era necessário tornar ninguém orange-pilled, expressão usada para conotar os que se converteram às qualidades da Bitcoin.
“Para sobreviver toda a gente deve converter o seu trabalho em ativos. Ativos raros, desejáveis, transportáveis, duráveis e sustentáveis”, disse. Num organismo humano, esse papel cabe à gordura - uma reserva de energia guardada pelos corpos para um eventual consumo futuro em caso de escassez. No investimento, a melhor forma de garantir o futuro é investir em Bitcoin, para evitar um “futuro de vida curta e fim brutal”.
“Sabemos que a Bitcoin é o melhor ativo”, prosseguiu, considerando aprovado imediatamente com palmas e gritos da plateia. “Não há segundo melhor. E é porque a Bitcoin é digital e o mundo, nos últimos 5000 anos, viveu com ativos analógicos", como casas, metais preciosos ou objetos. Hoje há uma versão digital de um ativo escasso - a Bitcoin.
Bitcoin é energia digital: “O Universo é feito de energia. Einstein mostrou-nos isso: Energia é matéria, matéria é energia”, considerou. O dinheiro, entretanto, por ser abundante, é algo “tóxico”, que arruína a saúde, “como comer demasiado açúcar, que nos faz cair os dentes”. Uma sociedade de “diabéticos”.
A Bitcoin, por sua vez, por ser escassa, com um limite máximo de 21 milhões de moedas, limite que deverá ser atingido perto do ano de 2140, é a forma ideal de “fixar capital”, de libertar as famílias e as empresas de serem “escravas dos salários” - isto é, da necessidade de captar rendimentos de forma recorrente, sem descanso.
Numa guerra, é desejável que as partes cheguem a acordo “de forma justa e igualitária. E a forma justa e igualitária e pacífica de superar os desacordos é a Bitcoin”, disse. Por isso, exortou, “não devemos temer os inimigos que recorrem à Bitcoin", como as instituições financeiras tradicionais que já apostam nos criptoativos.
“Devem temer os vossos inimigos que não aderem à Bitcoin, porque esses são os que vão usar balas para resolver os problemas”, rematou, com aplausos do público. Mas, disse, “nós não temos inimigos. Temos é pessoas que precisam de Bitcoin, que ainda não sabem por que é que devem ser nossos amigos”.
A Bitcoin, defendeu, é um ativo revolucionário, capaz de mudar a estrutura das relações humanas, perene e incaptável pelos estados na sua insaciável necessidade de angariar receitas tributárias. É preciso, por isso, que se continue a espalhar a mensagem da primeira “cripto”. Alguém (um homem) grita: “casa comigo, Mike!”
"Não perguntem o que a Bitcoin pode fazer por nós, mas o que se pode fazer pela Bitcoin. Estamos aqui porque a Bitcoin precisa de vocês. Qualquer pessoa que encontrarem é uma oportunidade de melhorarem o mundo se conseguirem o apoio deles à Bitcoin". Os vossos clientes, empregados, chefe, investidores, o presidente da câmara, os professores dos vossos filhos, os médicos, os dentistas", continuou.
E apelou a que se rebatessem os argumentos mais usados pelos cépticos: o gasto energético, a imaterialidade, a noção de que se trata de uma versão sofisticada de um esquema de pirâmide. “Não fiquem desalentados se se depararem com um céptico. Sabem quem também era um céptico? EU!” Porque a Bitcoin “é uma excelente tecnologia e é o futuro”.