A empresa alemã Greenfield Capital acaba de publicar um relatório sobre o estado da criptoeconomia na Europa que dá especial destaque a Lisboa. Segundo o denominado State of European Crypto Report 2023, que foi publicado pela empresa de fundos de investimento, a capital portuguesa é hoje a principal plataforma mundial para quem opera na cripto-economia.
O estudo tem por base questionários a 68 líderes de empresas e fundos de investimento que operam com criptomoedas e afins, e coloca Lisboa à frente de Nova Iorque ou Berlim, que é a cidade de origem da Greenfield.
Segundo o inquérito, Lisboa surge no Top 3 das cidades mundiais mencionadas em 50% das respostas, enquanto Nova Iorque e Berlim surgem empatadas com 35% das respostas no Top 3. Quando inquiridos sobre a cidade europeia mais relevante para os criptoinvestimentos, Lisboa assumiu a liderança com 35% das respostas.
O sistema financeiro descentralizado e leis fiscais favoráveis surgem nas principais razões citadas pelos inquiridos para o destaque dado a Lisboa, refere o Decrypt, que teve acesso ao estudo da Greenfield.
Hoje, a diferença entre várias regulações ainda se faz notar dentro da UE – mas nos próximos tempos tudo leva a crer que haverá uma crescente uniformização. O Parlamento Europeu aprovou por larga maioria o primeiro pacote legislativo que tem em vista criar novas leis para as criptomoedas.
Entre as medidas figura a regra que tem por objetivo tornar rastreáveis as transações em criptomoedas. Para garantir a possibilidade de monitorização dos fluxos de investimento, é suposto as transações começarem a identificar origem e destino. O Regulamento dos Mercados de Criptoinvestimentos (conhecido pelo acrónimo MiCA) também define que estas medidas são aplicadas a transações acima dos 1000 euros para operadores profissionais ou comerciais – mas deixam de fora as transações entre consumidores.
Tendo em conta que o quadro regulamentar é apontado como o fator mais valorizado pelos investidores, tudo leva a crer que as boas graças de Lisboa estão dependentes da forma como o novo regulamento MiCA vier a ser aplicado em Portugal.
De resto, entre os investidores e analistas de mercado há a expectativa de que o mercado entre em “regeneração” depois do colapso de empresas como FTX e Terra. Toda a cripto-economia se ressentiu do abanão: entre o início de 2022 e o início de 2023, os criptonegócios passaram de uma avaliação estimada em 2,23 biliões de dólares (2,02 biliões de euros) para uma estimativa de pouco mais que 832 milhões de dólares (747 milhões de euros).
“Acreditamos que o panorama da criptoeconomia na Europa vai continuar a prosperar, alavancado pela regulação MiCA, que vai consolidar a posição europeia como uma das mais importantes para esta indústria”, prevê Jascha Samadi, responsável da Greenfield, citado pelo Decrypt.
O estudo da Greenfield já indica a Europa como a melhor região mundial para descobrir mão de obra especializada, mas também admite que este cenário saia benificiado pela nova legislação europeia e acabe por atrair investimento.
“A MiCA é apenas o início. Os debates para a MiCA II aplicada à DeFI (acrónimo de finanças descentralizadas) já começaram”, recordam as conclusões do estudo da Greenfield, numa alusão a mais pacotes legislativos que estão a ser preparados entre Estrasburgo e Bruxelas.
A empresa sediada na Alemanha considera ainda que é necessária legislação clara para as questões de identidade, e bens digitais como os dos NFT, “sem queimar tudo com excesso de regulação, que pode travar a inovação”.
Os próximos dois anos haverão de confirmar se a aplicação do novo regulamento MiCA nos 27 Estados-membros confirma as expectativas.
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