A inflação homóloga da zona euro caiu para os 1,8% em setembro deste ano, fixando-se abaixo da meta do Banco Central Europeu (BCE) de 2% pela primeira vez nos últimos três anos e três meses, segundo a estimativa rápida avançada pelo Eurostat nesta terça-feira. Esta redução, face aos 2,2% atingidos em agosto, acompanhada de dados económicos aquém do esperado, reforça a expectativa do mercado num corte de juros já na próxima reunião de outubro.
"A questão agora é saber com que rapidez o BCE pretende fazer com que as taxas de juro voltem ao nível neutro. Se mantiver as taxas de juro restritivas durante demasiado tempo, com a economia já a desacelerar, corre o risco de empurrar a inflação para abaixo do seu objetivo de 2%. Com o crescimento agora sob pressão, parece que a porta está aberta para o BCE agir mais rapidamente", diz Bert Colijn, economista do ING, numa nota desta manhã.
Frederik Ducrozet, líder da área de research do Banco Pictet, na Suíça, escreve uma nota com o título "Oktober, fast" ('outubro, depressa' na tradução para português, fazendo uma alusão à famosa festa alemã 'Oktoberfest') e diz que "neste contexto, estamos a rever o nosso cenário para a política monetária, acrescentando um corte de 25 pontos base em outubro (reduzindo a taxa da facilidade permanente de depósito para 3,25%)".
Inflação na zona euro cai abaixo dos 2% em setembro
Variação do índice de preços harmonizado, em percentagem
Mas o economista vai mais longe: "deixamos inalterado o nosso apelo para um novo corte de 25 pontos base em dezembro e continuamos a esperar quatro cortes consecutivos de 25 pontos base no primeiro semestre de 2025. Esperamos agora que a taxa da facilidade permanente de depósito seja de 2% até junho de 2025", notando que está a ficar "demasiado evidente" que a política do BCE está demasiado restritiva.
De acordo com o Eurostat, a inflação core de setembro - que exclui os produtos energéticos - reduziu de 2,8% para os 2,7% e a inflação dos serviços, a grande dor de cabeça para o BCE, diminuiu de 4,1% para os 4%.
Entre os 20 países da área do euro, as maiores taxas de inflação medidas pelo Índice Harmonizado dos Preços no Consumidor (IPHC, que permite comparações) são estimadas, em setembro, na Bélgica (4,5%), Estónia (3,2%), Grécia e Croácia (3,0% cada). Em Portugal, a taxa de inflação anual medida pelo IHPC é estimada em 2,6%, abaixo da homóloga (4,8%) mas com uma aceleração face à de 1,8% registada em agosto.
Dentro do BCE existem duas visões quando se analisa o percurso da inflação. De um lado, há quem considere que a batalha está ganha, como o Governador do Banco de Portugal, Mário Centeno. Do outro, há alguma prudência, como foi o caso de Luis de Guindos, vice-presidente do BCE, que em entrevista ao Expresso alertou para o facto de os preços ainda irem subir no último trimestre do ano.
Esta segunda-feira, Christine Lagarde também tentou por água na fervura. Durante uma audição na comissão dos Assuntos Económicos e Monetários do Parlamento Europeu, em Bruxelas, a presidente do BCE disse que "em termos prospetivos, a inflação poderá aumentar temporariamente no quarto trimestre deste ano, à medida que as anteriores quedas acentuadas dos preços dos produtos energéticos deixarem de ser registadas nas taxas anuais, mas os últimos desenvolvimentos reforçam a nossa confiança de que a inflação regressará atempadamente ao objetivo”. Ainda assim, também não descartou qualquer corte de juros já em outubro.
Em setembro, o BCE optou por cortar os juros pela segunda vez em três reuniões. A taxa referente aos depósitos, a mais importante para a instituição no momento, caiu 25 pontos-base para os 3,5%. Os mercados estão mais convictos com um novo corte em outubro, depois da Reserva Federal dos EUA ter operado um corte 'jumbo' (ou seja, de 50 pontos base) no último encontro, e dão quase como certa uma redução em dezembro.
Na última reunião de setembro, o BCE reviu as suas previsões macroeconómicas, e espera agora que a inflação se situe na meta dos 2% no final de 2025. Frankfurt estima que os preços subam 2,5% este ano, 2,2% em 2025 e 1,9% em 2026.
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